A decisão de se demolir o elevado da Av Perimentral é polêmica. Pelo menos um dos candidatos a prefeito, Otávio Leite, vem questionando-a. Está quase criando um movimento de preservação do elevado. A preocupação dele e de muitos autores de cartas de leitor que tenho lido na imprensa é com o possível caos no trânsito e o custo da obra. A prefeitura e o consórcio que administra o programa Porto Maravilha apontam para o ganho urbanístico e de ambiência urbana --pois todos concordamos-- o viaduto é feio prá caceta e cria um clima lúgubre no seu entorno.
Penso que é uma boa discussão a ser travada. Quando concebi, com minha equipe do IPP o Programa Porto do Rio --que depois Eduardo Paes transformou em Porto Maravilha-- depois de alguma discussão, decidi não propor a demolição. Lembro-me de uma discussão que tive com o arquiteto Jean Nouvel, a respeito. Ele achava que o elevado era um elemento da cidade “il est là, n’est pas?” uma espécie de feio-bonito. Tanto que seu projeto do museu Guggenheim seguia essa ideia de fidelidade a um “clima portuário”. A sua torre na ponta do Pier Mauá lembrava um tambor de carga cor de ferrugem...
Eu gostava da ideia de retirar pelo menos parte do elevado porque sempre o vi como uma barreira de acesso ao waterfront. Sendo uma das minhas grandes preocupações atrair uso residencial de classe média para a área portuária via nele um estorvo. Mas o custo era proibitivo. Eu calculava que sairia mais ou menos um bilhão, me assustava a experiência de Boston, onde uma solução desse tipo se arrastou por uns 20 anos. Por isso decidi partir para a solução de um tratamento paisagístico e sonoro do elevado e convoquei um concurso público de ideias através do Centro de Arquitetura e Paisagismo (CAU) da SMU. O concurso foi ganho pelo escritório do arquiteto Ricardo Kawamoto. O projeto era muito bom e custaria, na época, R$ 34 millhões. Quando o prefeito César Maia mandou suspender todas as licitações de projetos para a área portuária, na sequencia da decisão do TJ que manteve a liminar contra o projeto do Guggenheim, o anteprojeto de Kawamoto foi para a gaveta.
Quando passei todo o Programa Porto do Rio para o então prefeito recém eleito, Eduardo Paes, quatro dias depois das eleições, na FGV, recomendei que o projeto de Kawamoto fosse executado. No entanto, o Porto Maravilha passou a dispor de recursos muito maiores que o Porto do Rio --que custava aproximadamente R$ 500 milhões do orçamento de Cidade-- com aportes federais e da iniciativa privada e optou-se pela demolição que apresenta urbanisticamente diversas vantagens e que não será executada com recursos do orçamento da prefeitura.
No entanto, penso que a demolição do elevado como um todo e, sobretudo, a transformação da Av Rodrigues Alves numa via expressa, poderão apresentar complicações. É caro, demorado, conflitivo e pode não ficar pronto até 2016, porque qualquer obra com intervenção subterrânea é sempre uma caixa de surpresas. Discordo especialmente do uso da Av Rodigues Alves, da esquina da Barão de Teffé até a área da Rodoviária, como via expressa. Cria uma barreira de acesso do bairro ao waterfront, ainda que no futuro previsível essa parte do cais continue afeta à atividade portuária. Um dia será incorporada à revitalização.
Estou propondo uma alternativa mais segura e urbanisticamente consistente: demolir o elevado só no trecho Praça XV – Barão de Teffé (armazém 6). Dali para frente os veículos emergiriam do túnel e voltariam ao elevado. A Av Rodrigues Alves, nesse trecho, ficaria como uma via interna de bairro, de circulação lenta, com calçadas generosas e o projeto do arquiteto Ricardo Kawamoto seria executado nessa parte, criando uma ambiência atraente debaixo do elevado.
Vantagens: mais barato, mais rápido, menos arriscado e mais bonito e urbanisticamente bem resolvido. Desvantagens: a primeira vista não vejo nenhuma, dentro do paradigma da demolição. Não demolindo o projeto poderia ser executado por inteiro. A preços de hoje seriam uns 50 milhões comparando com um bi.
Demorei para recuperar o projeto de Kawamoto. Por ordens do secretário de urbanismo, Sérgio Dias, a SMU não me passou a cópia que pedi (!) e quando o fiz por escrito, na condição de deputado federal, ele encaminhou o meu pedido de informações para a Procuradoria Geral do Muncípio (PGM) possivelmente consultando-a sobre a legalidade de se prestar informações a um deputado federal... Fala sério, diria o imortal Bussunda.
Algumas ilustrações do projeto de Kawamoto, que consegui com o próprio arquiteto:
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