No auge da guerra fria, em 1962, John Frankenheimer filmou The Manchurian Candidate (aqui, “Sob o Domínio do Mal”), com Frank Sinatra, que teve um remake em 2004, com Danzel Washington. A trama gira em torno de uma “lavagem de cérebro” de ex-prisioneiros de guerra americanos pela Coreia do Norte. O personagem, robotizado obedece ao comando “do mal”. A vida real cada vez mais imita o cinema e o Manchurian Candidate se encarna no candidato republicano Mitt Romney. Sua gestalt é robótica. Um sorriso de propaganda de dentifrício, sempre forçado, tenso. Um olhar assustado, umas entonações de voz forçadas. Não, Frankenheimer jamais usaria um canastrão desses. Mas na vida real o casting é menos exigente...
Pior é o discurso, em si. E pior que o discurso é a evidência de que mesmo que ele perca as eleições --deve perder-- as barbaridades e as imbecilidades (desculpem, mas é a palavra) que diz têm o respaldo de grande parte da população norte-americana, notadamente a maioria da população branca masculina! A penúltima de Mitt foi aquele vídeo de Boca Ratón, Flórida –aliás nome de lugar sugestivo!—num encontro privé para doadores de mais de U$ 50 mil por cabeça, onde Mitt esculacha dos 47% dos seus concidadãos, eleitores de Obama, que se “fazem de vítima” e assume, em relação aos palestinos uma posição ainda mais extremada que a de seu amigo Bibi Netanyahu: “não querem a paz”, não pode haver nenhum estado palestino, vamos empurrar com a barriga.
Nunca houve candidato à presidência dos EUA com posições tão extremadas contra o povo palestino e tão alinhada com a extrema-direita israelense. Isso inclusive vai contra a própria tradição republicana. Dwight Eisenhower, em 1956, obrigou Israel a retirar-se do canal de Suez e do Sinai. George H.W. Bush (pai) determinou sanções econômicas contra os assentamentos na Cisjordânia e até Bush, filho, assinou o road map prevendo o congelamento dos assentamentos em troca do controle do terrorismo por parte da Autoridade Palestina. Esta cumpriu rigorosamente sua parte através do primeiro ministro Salam Fayad mas Israel continua expandindo, dia após dia, seus assentamentos.
Mitt reflete a posição mais extremada daquele segmento cristão, fundamentalista, que apoia a ultradireita sionista porque considera que isso conduzirá ao advento do Armagedon: dois terços dos judeus morrerão e o terço restante converter-se-á ao cristianismo, em Jerusalém, anunciando o Reino dos Céus. Ou seja apostam, por razões religiosa, num novo holocausto, por isso cultivam o filo-sionismo e respaldam os extremistas de Israel. E ainda tem judeu grato por esse comovente “apoio”...
No mundo de Monteiro Lobato -hoje alvo da crítica “politicamente correta”- havia um personagem delicioso: Emília, a boneca de pano que virou menina de carne e osso. Ela tinha umas recaídas, de vez em quando, e, nessas horas, abria o que Lobato chamava de “torneirinha de asneiras”. Na atual campanha presidencial norte-americana, temos um candidato republicano com uma incontinente torneirinha de asneiras. Só que não são sandices inocentes o que o boneco Mitt pontifica são imbecilidades desastrosas, mortais.
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