O Rio Clima deste ano foi dedicado à economia
de baixo carbono. O primeiro dia foi de uma discussão fechada entre uns vinte
especialistas de governo, iniciativa privada, organismos multilaterais e
imprensa.
Todos estávamos na discussão na condição individual, ninguém
representava oficialmente sua respectiva instituição. De qualquer forma a massa crítica lograda foi
bastante impressionante: quadros da
UFRJ/COPPE, USP, UNB; na academia. De
governo: gente do Itamaraty, o BNDES, o
MIDC, a SAE da Presidência da República, o FBMC(Fórum Brasileiro de mudanças
Cimáticas), a Prefeitura do Rio. De órgãos multilaterais: FMI e o Banco Mundial. Da iniciativa privada:
o Banco Santander, o BVRio, Eko Renuable Energy Inc. Do legislativo, Daniel
Cohn Bendit, do Parlamento Europeu. De ONGs do Greenpeace, do Ondazul, da
Sociedade de Economia Ecológica.
Duas das três discussões permitiram consolidar
posições e avançar em relação ao ano passado. Na terceira não avançamos tanto
mas conseguimos mapear melhor o problema.
Subsídios e taxação da intensidade de
carbono
Masahiro Nozaki, economista sênior do FMI e o
professor Emilio La Rovere da COPPE abriram a primeira discussão sobre fim dos
subsídios a combustíveis fósseis e reforma tributária do baixo carbono. Na
discussão concluiu-se que é preciso de fato ir eliminando esses subsídios mas
há cuidados indispensáveis:
1)
diferenciar entre combustíveis levando em conta por um lado sua intensidade de
carbono e por outro as consequências sociais da elevação do preço de cada um
desses combustíveis. Ambas análises são necessárias e o peso de cada um desses
critérios varia de acordo com a situação, ambos precisam ser levados em conta.
2) É
indispensável uma preparação política e uma forte campanha de comunicação
prévia.
3)
Em geral o melhor ritmo é o mais gradualista.
4)
Deve haver compensação aos mais pobres pelo aumento de preços básicos que
acontecerá. No Brasil toda a arquitetura redistributiva criada à volta do bolsa
família pode ser utilizada. É preciso analisar eventuais compensações para
segmentos de classe média, também, se
ficar claro que haverá uma resistência nesse segmento que possa levar ao
fracasso da iniciativa.
5)
Ficou claramente diferenciado esse caminho de eliminação de subsídios visando a
precificar corretamente a intensidade de carbono e aquelas modalidades
anteriores de cortes de subsídios defendidas pelo FMI por razões estritamente
macroeconômicas, monetaristas, que na
maioria dos casos redundaram em fracassos e convulsões sociais.
No trabalho apresentado pelo prof. Emílio La
Rovere calcularam-se os efeitos de uma taxa de carbono em três cenários: uma
clássica no qual usar-se-ia essa taxação apenas para abater a dívida interna.
No segundo, a arrecadação sobre intensidade de carbono seria compensada pela
eliminação de tributação que onera o investimento via encarecimento de mão de
obra(tipo PIS e CONFINS). No terceiro, a
arrecadação iria para um “cheque verde” beneficiando segmentos da população
mais pobre. Pessoalmente prefiro o segundo caminho (o terceiro pode ser usado
para a eliminação de subsídios)
Bretton Woods do baixo carbono e New Deal
verde
Na discussão 2, sobre a nova ordem financeira
internacional (“Bretton Woods do baixo carbono”) e investimento público global (New Deal verde)
tivemos apresentações interessantes da Suzana Khan, da COPPE e do Christophe de
Gouvello, do Banco Mundial. Gouvello apresentou ideias muito factíveis. Lembrou
que a partir do MDL listaram e certificaram-se dezenas de tecnologias em
diversos segmentos da indústria que comprovadamente reduzem emissões. O MDL deu
uma consequência limitada a isso mas, pelo menos, existe um grande “banco” de tecnologias
certificadas a serem financiadas. A proposta de Gouvello é um fundo unificado
sob a égide do UNFCCC --que pode ser o FVC--
capaz de alavancar cem bilhões de dólares por ano dos quais 80% de
origem pública (governos e instituições multilaterais) e 20% viriam do sistema
financeiro internacional atraídos pela solidez das garantias do fundo. Ficou
menos clara a governança disso.
Na parte relativa a um novo sistema financeiro
alinhado com uma perspectiva de baixo carbono várias ideias instigantes
circularam. Ficou claro que é necessário criar uma “unidade de valor”
internacionalmente conversível lastrada na redução de emissões de carbono. Se o
Brasil, por exemplo, reduz emissões no agregado, antes de ter obrigação de
fazê-lo em virtude de um novo acordo, legalmente vinculante, em 2015
--aplicável em 2020-- precisaria ser
recompensado. Esta recompensa não pode ser me “direitos de emissão futuros”
como querem os russos em relação a sua queda de emissões no início dos anos 90
quando do fim da URSS, precisaria ser numa unidade de valor que pudesse
adquirir tecnologias, serviços e
produtos destinados a obter uma redução de emissões subsequente ao mesmo tempo
que dinamiza a economia e gera empregos. Essa “unidade de valor” permitiria
estabelecer critérios de equivalências entre diferentes ações que direta ou
indiretamente reduzem emissões de GEE.
PIB e precificação de serviços ambientais
A terceira discussão sobre PIB e precificação
de serviços prestados por ecossistemas foi menos conclusiva. Na questão do PIB
há duas visões. A defendida por mim que sustenta que o PIB deveria ser
“temperado” ou “ ponderado” com componentes qualitativos como emissões per
capita, intensidade de emissões e com o expurgo de componentes destrutivos que
hoje contam a favor do PIB, tipo acidentes ou devastações ambientais. A outra visão do professor Zé Eli da Veiga
defende o abandono do PIB e o desenvolvimento de um cálculo de renda familiar
para além do atendimento das necessidades básicas. Foi uma discussão muito rica
que deve prosseguir.
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