09/05/2018

Marielle: será mesmo???


Sugiro cautela em relação a pista (prematuramente) revelada pela imprensa em relação ao assassinato da vereadora Marielle Franco e que dá como mandante o colega Marcello Siciliano, ligado a uma milícia com atuação na baixada de Jacraepaguá. A razão pela qual faço essa observação é que não vejo na notícia  um móvel consistente para o crime. 

 Tudo se baseia na denuncia de um delator e o motivo seria o suposto fato de Marielle estar “atrapalhando” Siciliano nos seus redutos, especificamente na Cidade de Deus. Os seus próprios companheiros do PSOL tratam com cautela a delação e desconhecem uma atuação maior de Marielle naquele e outros “redutos” do vereador. Assassinatos desse tipo, por disputa em torno de currais eleitorais não são comuns na cidade do Rio de Janeiro (não me lembro de nenhum) embora ocorram com frequência na Baixada Fluminense e no interior. Em todo caso tendem a acontecer perto do período eleitoral quando se estabelece uma concorrência feroz em torno dos votos de uma determinada área entre candidatos para os quais ela é vital. Não parece ser esse o caso.

A ansiedade que todos sentimos por essa solução pode ser contraproducente e a pista parece ter sido prematuramente vasada. A imprensa faz seu papel mas o depoimento do ex-miliciano necessita ser devidamente checado e dissecado. Um homem na sua situação tem  interesse em acusar os que ameaçam sua vida de um crime de grande visibilidade porque isso melhora suas condições de proteção.


 Por outro lado, se o crime teve a  sofisticação estratégica e tática que me pareceu possuir, semear pistas falsas pode ser parte do jogo. No crime perfeito chega-se a uma solução falsa que oculta definitivamente os autores. Não estou dizendo que seja o caso. Apenas, diante da leitura dessas primeiras informações,  vejo  necessidade de muita cautela pois há no ar ingredientes que desaconselham achar que o caso já esteja solucionado. Motivo do crime é sempre o elemento central e, até agora, soa frágil. Vamos aguardar os desdobramentos.

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