01/05/2018

A guerra ali na esquina


Não estou me referindo ao Rio de Janeiro. Vamos deixar a nossa guerra na esquina do lado, por um instante. Estou pensando na velocidade vertiginosa em que Donald Trump e Bibi Natanyahu estão mergulhando de ponta cabeça na direção de uma guerra no Oriente Médio. O cenário está  esboçado. É assim: os EUA repudiam o acordo nuclear com o Irã. Israel intensifica os ataques aéreos aos iranianos, na Síria e ataca o próprio Irã para tentar evitar que esse volte a tentar construir armas nucleares. 

 Os xiitas  respondem mobilizando o Hezbollah envolvendo Israel numa guerra prolongada de atrito com risco de trazer para dentro a Rússia que não pode  “sair desmoralizada” na Síria.  A guerra se alastra ao Líbano. 

 Israel com apoio dos EUA promove uma destruição tipo 2006,  só que numa escala muito maior.  Por sua vez,  passa ser alvo de uma revoada de foguetes dos mais de cem mil que o Hezbollah tem armazenados com as cidades israelenses sofrendo também  destruições sem precedentes.  Israel não consegue fazer cessar esses ataques  apenas com o uso do seu poderio aéreo, por maior que seja. 

Deve agora avançar por terra e ocupar territórios para afastar as rampas de lançamento o máximo possível do seu próprio. Do outro lado encontra gente disposta às mais sangrentas aventuras e totalmente indiferente aos sacrifícios de seus povos. Seus inimigos xiitas recuam, cedem territórios atraindo os israelenses para uma guerra terrestre de ocupação. Isso lhes impõe uma proporção de baixas que sua sociedade terá  dificuldade de aceitar. A mais eficiente e tecnológica das máquinas militares torna-se vítima da mais burra das políticas.

 Israel pelo tamanho de sua população e pelo valor que atribui a vida de seus soldados não tem condições estratégicas de se meter num tipo de conflito de longa duração com essas características. Foi feito para guerras fulminantes, decisivas. Essa não o será.  Seus melhores estrategistas. entendem isso muito bem mas Netanyahu, na era Trump,   abandona sua antiga prudência militar possuído por  uma arrogância política sem nenhum limite e um quê de desespero. Encontrou sua maneira de permanecer no poder minado  pela fadiga de material político e pelos  escândalos de corrupção. Encontra em Trump, Pompeo e Bolton  almas gêmeas às portas do apocalipse. Faz o que os franceses chamam de "la fuite en avant". Todos precisam da guerra para consumo político interno, fuga de escândalos e inquietações eleitorais. 

Já a  Rússia e a China reforçam sua aliança e intensificam  seu apoio militar, logístico e econômico ao bloco xiita. A Arábia Saudita aproveitou para acertar as suas contas com o Irã mas em nenhuma hipótese consegue um sucesso rápido e definitivo. Consegue apenas impor e sofrer mais destruição.  

 O uso de armas nucelares táticas e estratégicas passa a se colocar para Israel como uma opção militar fortemente tentadora mas seus inimigos têm imensa profundidade territorial, uma reserva quase inesgotável de homens dispostos a morrer  e uma disposição de levar essa guerra para outros teatros de operação, pelo mundo afora.  A Europa é alvo de uma onda de refugiados em escala nunca dantes vista. Seus governos vão sendo um a um engolfados pelo desespero que conduz ao fascismo. Em várias formas ele torna-se a força política mais ajustada aos novos tempos terríveis.

É uma grande guerra que vem para ficar,  pode se arrastar por anos e anos com efeitos catastróficos sobre a economia mundial.  Certamente não será uma guerra dos seis dias, nem a do Líbano de 2006 ou mesmo a do Yom Kipour. Estará mais  para  Primeira Guerra mundial na era atômica e digital. Um conflito  prolongado que ninguém de fato queria, que a ninguém de fato interessava e surgiu de um incidente periférico seguido de um monte de erros de cálculo imbecis dos governantes rumo a  um morticínio de duração e proporções que ninguém imaginara. Voltam os "sonâmbulos" da Grande Guerra do início do século XX. Moviam-se  como tais numa marcha insensata rumo à guerra, sem refletir,  até estarem metidos nela até o pescoço. 

  Eis o cenário para o qual aponta a gesticulação de Trump e Netanyahu. Não estou aqui fazendo uma ficção política catastrofista. O cenário exposto é perfeitamente plausível. 
Talvez ainda haja tempo de evitar essa catástrofe mas não se vislumbra lá muito bem como.

 Quero muito estar enganado, poder dar a mão a palmatória e passar por alarmista.  Vou torcer por alguma virada à beira do abismo. A verdade, no entanto, é que cada componente do drama apocalíptico vai convictamente ocupando seu lugar na tragédia,  cheio de vigor e convicção  nas suas razões e na inevitabilidade de sua vitória. Mas o que perigam desencadear não comportará vitoriosos. Uma era de trevas espreita. 

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