Nesses tempos de ciclo de noticias 24h por 24h é difícil manter um blog em cima dos fatos borbulhantes. Afinal, segundo parece, o César Benjamin recebeu pedido do prefeito Crivella para rever seu pedido de demissão e o fez. Por outro lado a notícia do episódio no jornal impresso publicado hoje não incluiu a menção à polemica de racismo que a on line, de ontem, mencionava e que comentei abaixo extensamente por considera-la relevante e concordar com a injustamente criticada preocupação do César a respeito.
Desejo a César boa sorte e mais tranquilidade para trabalhar na secretaria de educação e ao prefeito a iluminação necessária para rever os descaminhos de sua administração. De qualquer forma penso que devo manter o texto, abaixo, que escrevi ontem. (19/5)
Como para ilustrar o que escrevi no blog Eleições sem outsiders acaba de cair mais um dos poucos bons quadros que ainda teimavam em trabalhar dentro de governos inóspitos, num contexto político e social tóxico: o secretário municipal de educação César Benjamin. Foi alvo de rasteiras e boicotes numa administração totalmente caótica e perdida, no tempo e no espaço. Uma nau dos insensatos à deriva.
Começaram por liquidar a secretaria de meio ambiente da Cidade e realizar outros experimentos irresponsáveis com a única das três maquinas públicas que ainda minimamente funcionava no Rio: a Prefeitura da Cidade que, ao contrário do governo do Estado, possui um corpo funcional de alto nivel mas que esta sendo minado até a medula óssea.
Curiosamente a grande imprensa dá guarida a uma
série de versões e críticas estranhas ao César: teria feito gastos emergenciais
irregulares (qualquer um que já trabalhou em serviço público, numa área vital sabe como o exasperante emperramento faz isso acontecer) que ele tinha uma comportamento "agressivo" para com vereadores (por que será, hein???) ou, até mesmo, que não teve uma atitude adequada frente ao problema
do racismo.
Essa última
é de doer. Não conheço exatamente os termos da polemica mencionada mas acho que percebo claramente, pela crítica que lhe fazem, onde ele queria chegar.
César cometeu a imprudência de desafiar essa “política de identidade” que quer americanizar a discussão da questão racial no Brasil. Ouço com uma certa frequência que “o racismo no Brasil é pior que nos EUA” que “somos um país tremendamente racista”, etc... Logo caímos em discussões idiotas como a da “apropriação cultural”: tu branca azeda não podes usar um turbante afro (nem tu, quimono oriental)...
César cometeu a imprudência de desafiar essa “política de identidade” que quer americanizar a discussão da questão racial no Brasil. Ouço com uma certa frequência que “o racismo no Brasil é pior que nos EUA” que “somos um país tremendamente racista”, etc... Logo caímos em discussões idiotas como a da “apropriação cultural”: tu branca azeda não podes usar um turbante afro (nem tu, quimono oriental)...
Na
verdade, há diferenças grandes entre a
maneira que o racismo se colocou histórica e culturalmente nos EUA e no Brasil
e não hesito um segundo em dizer que: 1 – Lá foi e é muito pior porque existia –e
existe—um profundo ódio racial. Ele se origina no verdadeiro pânico da miscigenação
da elite angla, nisso muito diferente da portuguesa. O primeiro fantasma do
racismo americano é o pânico frente a possibilidade de sexo inter-racial. Daí o apartheid
que vigorou no sul dos EUA, legalmente, até os anos 60. Aqui, no que pese toda herança escravocrata e injustiça social, nunca tivemos esse tipo de institucionalização com ônibus, bancos de praça, banheiros racialmente segregados, nem todo esse ódio feroz que Freud explica 2 – A geleia geral brasileira é algo de que
devemos nos orgulhar. Sim você pode usar turbante sendo branca e kipa não sendo
judeu, caso ache bacana. Pode usar boina basca sendo nissei e quimono sendo índio.
Posso curtir reggae e você Chopin. Como
disse, embora não tenha acompanhado de perto essa polêmica em que ele se
envolveu entendo bem onde queria chegar e o que lhe recriminam, injustamente.
A luta
antiracista é vitoriosa quando consegue explicar para toda a sociedade que ela
vai ficar melhor quando o vencer. Era esse o discurso de Martin Luther King que
falava para a sociedade norte-ameircana como um todo. Quando a coisa passa a
ser dominada pela afirmação identitaria, pelo racialismo, pelo “nós” contra “eles”
ajuda outro lado, passa a estimular o reacionarismo racista, os delírios do
supremacistas.
Isso acontece nos EUA onde uma reação racista quase explícita foi fator decisivo na eleição de Trump. Aqui no Brasil, semitons, insinuações ou tiradas racistas não ajudariam a eleger ninguém ainda que muitos possam por outras motivações igualmente escrotas votar errado. Então é bom focar no problema real, não no imaginário, ainda que haja quem se com ele se autopromova.
Isso acontece nos EUA onde uma reação racista quase explícita foi fator decisivo na eleição de Trump. Aqui no Brasil, semitons, insinuações ou tiradas racistas não ajudariam a eleger ninguém ainda que muitos possam por outras motivações igualmente escrotas votar errado. Então é bom focar no problema real, não no imaginário, ainda que haja quem se com ele se autopromova.
Voltando
à prefeitura. César em sua carta “livra a barra” do prefeito. É, por um lado, uma prova de decência de caráter e lealdade. Não
sai atirando a esmo, como soe acontecer nesses casos. Mas é também o único aspecto em que discordo
dele.
Não há
como não responsabilizar o prefeito Marcelo Crivella pela bagunça, inépcia e
fisiologismo, generalizado, que domina a prefeitura. Em todo caso uma coisa é certa, sem
esse secretário de educação, ficará pior.
Pobre
Rio. (18/5)
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