A versão
do “novo regime automotivo” denominado Rota 2030, sob clara hegemonia da
ANFAVEA, que atualmente circula em restritas áreas do governo, não dialoga com
o Compromisso Nacionalmente Determinado (NDC) assumido pelo Brasil e não toma
conhecimento do Acordo de Paris nem da necessidade urgente de reduzir a
poluição atmosférica nas nossas cidades. Muito menos leva em consideração algo
que salta aos olhos: a decisão das próprias matrizes das montadoras de fabricar
veículos elétricos numa escala e velocidade inimaginável poucos anos atrás.
O
texto procrastina para 2032 medidas atinentes à eficiência no transporte de
carga e para o pós-2030 a adoção do diesel de padrão europeu. Ainda estaremos
nos preparando para melhorar a eficiência da gasolina e diesel no ano em que a
Índia anunciou que terá sua frota automotiva massivamente eletrificada.
O Brasil
foi pioneiro em biocombustíveis nos anos 70. Depois, sacrificou o Proalcool
subsidiando combustíveis fósseis. Perdeu a oportunidade de desenvolver um carro
híbrido etanol/elétrico. O carro flex será, até 2030, nossa mais
audaciosa fronteira tecnológica. É pouco, convenhamos. Adotamos, em 2015, na NDC, a meta
--modesta-- de 18% de biocombustíveis na
nossa matriz de transportes algo que o texto solenemente ignora. Essa indústria
maneja um lobby poderoso, no Congresso e acostumou-se a uma confortável
proteção do governo, incentivos diretos, subsídios a combustíveis fósseis,
padrões ambientais lenientes e a uma certa tolerância do mercado para com o seu
atraso.
Recentemente tentou impedir o aumento da mistura de biodiesel e vêm
articulando a liberação de SUV poluentes num momento em que o resto do mundo
lhes impõe restrições. A influência das montadoras num Rota 2030, desconectado
dos compromissos climáticos assumidos pelo Brasil deixa no ar (para além da
fumaça) uma dúvida: são avestruzes que enterram a cabeça na areia sem ver a
revolução dos veículos elétricos --e logo adiante dos autônomos-- que suas
próprias matrizes preparam? Ou, pelo
contrário, conscientes disso tencionam simplesmente reservar o mercado
brasileiro para ser o vazadouro das “carroças” poluentes enjeitadas?
Para que o Brasil cumpra o Acordo de Paris não
basta combater o desmatamento ou promover a agricultura de baixo carbono, será
preciso avançar já na eficiência energética e na redução de emissões de CO2
provenientes da queima de combustíveis fósseis, na produção de energia, na
indústria, mas, principalmente, nos transportes, tanto de passageiros como de carga.
É preciso impor limites ao transporte individual, melhorar os modais de
transporte de massas, estimular os biocombustíveis de primeira e segunda
geração e avançar resolutamente na eletrificação dos veículos investindo na sua
infraestrutura de recarga e em tipos de baterias as mais apropriadas ao nosso
clima e condições. Em 2030, nossas emissões de gases-estufa precisarão ser 43%
menores que as de 2005 e o motor à combustão de gasolina –subsidiada ou
não— em rota firme rumo ao destino do
Ford Bigode.
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