Eleições
gerais? Alguém acha que os atuais parlamentares irão também abreviar seus
mandatos e/ou abrir mão do poder que hoje a Constituição lhes dá de eleger
indiretamente o presidente, em caso de vacância nesse período?
Quem aposta nisso deve acreditar que Elvis está
vivo e cantará Only You no próximo Rock in Rio. Mas quando alguém como o senador
Ronaldo Caiado começa a defender a proposta não acho que acredite em duendes.
Percebo que isso faz parte de uma estratégia: desestabilizar Temer acenando “diretas já”
mas, na hora H, fazer a sucessão via “o que a constituição determina”: as indiretas. Acreditem, Caiado não
dá ponto sem nó...
Mas por
um momento suponhamos pudesse ser aprovada uma PEC para eleições diretas e o “Fora Temer” coroado por uma decisão do STF anulando
a chapa presidencial de 2014 por inteiro. Seria bom para o Brasil
mergulhar numa campanha presidencial, em 2017? Ou isso iria provavelmente turbinar
a histeria coletiva, a insegurança, a
fuga de capitais, a relutância de fazer qualquer investimento e mergulhar nossa
economia numa crise ainda maior? Como iria se desdobrar todo esse ódio que polariza nossa
sociedade via “redes sociais”?
Alguém realmente imagina que o quadro político
brasileiro estará decantado a ponto de termos, no curto prazo, uma eleição que
consagre algum avanço institucional? Querem
de fato um segundo turno entre Lula e Bolsonaro???
Nem me falem de Marina que o Datafolha coloca bem na pesquisa como alternativa. Ela
não tem nem a aptidão nem a apetência para o exercício do poder presidencial ainda
mais nessas condições extremas. Vimos o efeito que teve sobre ela aquela
momentânea dianteira nas pesquisas, em 2014, logo depois da morte de Eduardo Campos. Deu no que deu. Marina é uma liderança da sociedade civil global com extraordinárias qualidades mas falta-lhe tônus
presidencial. Uma vez já lhe disse que carecia de alguns importantes defeitos necessários ao duríssimo exercício do poder desse calibre. Sigo-a como liderança da sociedade civil
global mas sinceramente e sem nenhuma ofensa, não a vejo apta a jogar nessa posição.
Mas quem, então??? O recente segundo turno no
Rio foi indicativo de um tipo de polarização que pode se repetir a nível
nacional. Tenho a clara impressão que a curto prazo seria Lula (ou Ciro, pior
ainda!) versus Bolsonaro. Até Caiado vai
aparecer demasiado "politico tradicional" para o tamanho da raiva da direita que vem aí nas pegadas de Duterte e Trump.
A
histeria vigente não altera o fato de que o Brasil deva ser governado a centro esquerda ou a centro direita como foi nos governos Fernando Henrique e
Lula 1. Com Lula 2 e Dilma desandou. Como a direita apenas recentemente se
ideologizou de novo --por muito tempo foi apenas fisiológica-- é muito difícil que predomine no seu voto popular uma variável mais palatável de
direita liberal, tipo Partido Novo. O que vem pela destra é francamente
assustador e estará mais para Duterte que para Merkel.
A SINDROME DOS ESTADOS FALIDOS
É verdade que tudo isso de ruim poderá perfeitamente
acontecer também em 2018. No entanto, há uma certa chance de até lá, com mais tempo, caso se consiga um mínimo de estabilização da economia, do quadro político minimamente decantar
e amadurecer. Com tempo para respirar
fundo novas alternativas podem eventualmente surgir e o quadro evoluir evoluir para além do circo de horrores que se prenuncia. Vivemos um completo vazio
de liderança num tipo contexto histórico que no passado favoreceu saídas
extremas.
Não
acredito que o perigo seja o de uma nova ditadura de tipo militar. Vejo sim
como o grande perigo a “síndrome dos estados falidos”, o puro se simples
colapso da autoridade do estado e de sua capacidade de garantir as condições
minhas de segurança e convivência cidadã. Vejo grandes espaços serem
gulosamente ocupados pelo crime organizado a única força econômica de futuro
promissor a curto prazo. A reocupação das favelas cariocas “pacificadas”, a
expansão do PCC em São Paulo e dali para novos domínios, o repique do
desmatamento na Amazônia –segundo informações, em boa parte por ação de
máfias-- constituem sintomas. A crise social pode levar a esgarçamentos
inimagináveis.
A
prioridade absoluta é, de fato, evitar uma piora ainda maior da economia
brasileira que a instabilidade política total aliada a lentidão de redução das taxas de
juros estão promovendo. Nesse contexto o presidente Michel Temer, com tudo que
se possa dizer sobre ele, é um ponto de equilíbrio institucional, Seria muito
irresponsável querer derruba-lo estabelecendo o barata-voa geral. O caos não
será nem positivo nem criativo ao contrario do que supõem os ingênuos e os
imbecis. Representará mais sofrimento da maioria da sociedade. Sofrimento, numa
escala até agora não inédito.
TEMPOS LEVIANOS
É impressionante a leviandade que tomou conta
do país, em particular da grande mídia que quer ver o circo pegar fogo embora
não esteja propriamente fora do picadeiro. O vazamento de duas delações mais
recentes ofereceu mais um monte de políticos, em situações bem diversificadas,
à execração pública. Ali veio tudo misturado: propina lato senso, caixa-dois eleitoral,
caixa um negociado/lavagem, doações perfeitamente legais e mero contato
político, social ou profissional com executivos da empresa sem sequer nenhuma indicação de repasse.
A falta de precisão e rigor na informação difundida pela TV para dezenas de milhões de pessoas é chocante. Tudo baseia-se numa presunção de
culpa e na criminalização de todo tipo de contato de políticos com o que era a
maior empresa do país e que, para além de suas grandes mutretas, também entabulava milhares de interações legais e normais. É
preciso separar o trigo do joio e isso é um trabalho delicado, complicado e
preciso. Acredito que a maioria dos investigadores da Lava Jato quer fazer isso
seriamente. Mas isso não combina com vazamentos ilegais com viés político e esse tipo
matérias sensacionalistas potencializado
a santa inquisição nas redes sociais.
Os eventos
do Judiciário patrocinados como tantos outros pela Odebrecht acaso inferem compra de sentenças? Os bilhões que ao longo de todos esses anos todas
essas empresas despejaram em publicidade nos meios de comunicação inferem que
os mesmos estavam todos “comprados” por ela? Certamente, não. Então é bom ter cuidado
quando de tenta criminalizar como está se fazendo, na prática, todo
financiamento legal de campanhas e de partidos por empresas, na época em que isso era legalmente
permitido.
Se qualquer anistia do delito eleitoral de caixa-dois deva ser
repelida, da mesma forma, qualquer tentativa de generalizar a noção de que
doações legais ou mesmo caixa-dois eleitoral são sinônimo de "lavagem de dinheiro". Pode ter acontecido em certos casos, o que precisará ser devidamente provado,
mas não pode ser tratado como regra.
TEMER NO SEU PERRENGUE
Vários
dos promotores da Lava Jato, que no geral tem feito um bom trabalho, com
alguns reparos, já declararam em defesa
da delação premiada –claramente uma faca de dois gumes-- que ela só poderia valer com as devidas provas
e estas confrontadas ao contraditório.
Assim, para provar que um político
recebeu, de fato, “propina” é preciso não
apenas provar o pagamento como a
existência da contrapartida, de um serviço claro prestado ao interesse
privado contra o interesse público. O
caixa-dois de campanha eleitoral ou partidário precisa igualmente estar
provado. Mais complicado ainda é provar a doação legal que, na
verdade, tenha sido uma “lavagem”. É provável
que tenha ocorrido em alguns casos vinculados a esquemas como o Petrolão mas é
preciso fundamentar e provar muito bem essa acusação não apenas na retórica.
Nenhum cuidado desse tipo ocorreu nesse mais recente (e enésimo) vazamento ilegal de acusações, muitas delas vagas, imprecisas e carregadas
comentários subjetivos. Comentários inclusive atingindo políticos sobre os quais não há sequer menção de repasse,
legal ou ilegal. Mas todos passam a ser
parte “da lista”, expostos ao veneno
das redes sociais. Até o senador
Christovam Buarque virou esparro das
“redes” sem razão alguma, apenas por ter mantido contato com a empresa.
Salvo para quem era anticapitalista de carteirinha --para a qual qualquer empresa privada é ladra por definição, por explorar a mais valia dos trabalhadores-- durante décadas houve inúmeros motivos legítimos para ter contato, relações e discussões com executivos desta e outras empresas agora visadas. Hoje qualquer político que apareça em suas agendas telefônicas é tratado pela mídia como suspeito até prova em contrário.
Salvo para quem era anticapitalista de carteirinha --para a qual qualquer empresa privada é ladra por definição, por explorar a mais valia dos trabalhadores-- durante décadas houve inúmeros motivos legítimos para ter contato, relações e discussões com executivos desta e outras empresas agora visadas. Hoje qualquer político que apareça em suas agendas telefônicas é tratado pela mídia como suspeito até prova em contrário.
Antes
disso já circulava, desde o início do ano, uma outra "lista", baseada em simples pedidos de contribuição legal de campanha,
anotados, -- e em alguns casos não atendidos-- essa recentemente "requentada" na internet como se fosse uma espetacular revelação e provocando essas manifestações de ódio que se tornam corriqueiras na era da pós-verdade e do linchamento midiático e digital.
O
principal alvo agora dessa última leva agora é o próprio presidente Michel
Temer que teria solicitado uma contribuição para o PMDB na campanha de 2014. Uma parte dessa contribuição teria sido em numerário
não declarado, o tal “caixa-dois” para um advogado amigo. Não fica claro se foi o Temer quem solicitou nesses
termos, se controlou de fato essa doação ou se simplesmente fez um pedido de
contribuição depois desenvolvido em
suas modalidades pelos operadores de empresa e partido.
Boa parte dos dirigentes políticos
–evidentemente não falo de ladravazes contumazes tipo Cunha ou Cabral-- faziam o perdido de contribuição e repassavam
o contato. Não se evolviam nos meandros dos desembolsos. Na cultura política que reinou por décadas pouco se preocupavam em fazer essa distinção... Se ficar provado
que aquele repasse ao PMDB, de fato, foi feito da forma irregular e por determinação expressa de Michel Temer, estaremos diante de um
delito eleitoral seu na campanha de 2014. Anterior ao seu exercício da Presidência o que portanto não constitui base legal para impeachment.
Isso poderia reforçar o
argumento para sua cassação como integrante da chapa encabeçada por Dilma
Rousseff, no julgamento que fará o STF? É isso que o noticiário quer nos levar
antecipar. Mas, na verdade, é pouco provável que aconteça porque a doação em questão não diz respeito à campanha
presidencial Dilma-Temer mas às campanhas parlamentares do PMDB.
De qualquer forma, penso que dificilmente o STF irá
tomar a decisão de destitui-lo, por causa disso. Parece ser uma das poucas instituições adultas nesse
processo ainda que um ou outro ministro destoe aqui e ali como foi aquela
liminar que, duvidosa e desnecessariamente, destituiu Renan a poucos dias de seu
afastamento natural da presidência do Senado, criando um dispensável conflito entre
poderes, agravado, é certo, pela reação arrogante do dito cujo.
Renan será
julgado pelo STF em tempo hábil. Calma no Brasil, como se dizia
antigamente... Quanto a “Fora
Temer” haverá que se aguardar o dia 1 de janeiro de 2019. Sempre esperando que 2018 produza algo melhor depois de termos sobrevivido 2017. Dizem que Deus é brasileiro e a esperança é a última que morre.
Pelo menos é o que diziam...
Pelo menos é o que diziam...
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