Há, evidentemente, algo de substância em toda questão procedimental. Elas acabam determinando maior ou menor velocidade na aplicação de certos dispositivos. Boa parte das questões tratadas na COP 22 vai sobrar para 2017 que promete ser não menos “procedimental” a não ser que algo grave ocorra, o que é perfeitamente possível na medida em que ninguém sabe, de fato, o que Trump vai fazer e as especulações vão de “nada” até sair da Convenção do Clima, assinada no Rio, em 1992.
A COP de 2018 é apontada como o marco futuro pois ali deve ser tratada a questão da descarbonização drástica para a segunda metade do século e onde os países com posições mais avançadas irão tentar avançar na definição de como devem ser os ciclos quinquenais de revisão para mais ambição das Contribuições Nacionalmente Determinadas (CND) já que o conjunto delas, anunciado no ano passado, deixa uma sobra de 15 Gt em relação à trajetória de 2 graus. Que dizer do horizonte de 1.5?
Outro tema relevante que está sem definição e só deve ser acertado mais adiante é o da compatibilização das CND que são muito dispares: reduções no agregado, ao largo de toda a economia; reduções em intensidade de carbono por ponto percentual do PIB; reduções contra uma uma curva de emissões projetadas --chutadas, dirão as más línguas-- , reduções limitadas a setores da economia, etc. É possível converter em reduções no agregado a maioria do CND mas não todos a começar pelo do terceiro maior emissor (se não considerarmos a EU conjuntamente): a Índia.
A famosa questão dos 100 bi dos países desenvolvidos foi reafirmada, como aval dos ditos cujos, na Declaração mas isso não veio acompanhado de nenhuma definição de modalidades de desembolso nem prazos claros. Esta sendo empurrado com a barriga. Seria mais honesto admitir de uma vez por todas que isso não corresponderá a um desembolso líquido mas poderá se dar, em parte, na forma de um fundo garantidor. Mas falta coragem. Essa é uma questão que certamente vai ficar mais difícil com Trump mesmo que ele não cometa nenhum desatino como sair da Convenção e pratique o “business a usual”.
Vi poucas ideias novas, uma certa auto-complacência de uma comunidade surpresa consigo mesma pelo Acordo de Paris e mais ainda pela sua rápida ratificação e entrada (teoricamente) em vigor. Se ouvirmos o que dizem os cientistas não podemos nos dar ao luxo desse sentimento tão gratificante mas suicida. O buraco é mais embaixo.
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