O observatório de Mauna Loa no Pacífico detectou esse ano um record de concentração de galeses efeito estufa na atmosfera: 407 ppm. No início da era industrial eram 280 ppm e o limite estabelecido pelos cientistas para termos uma chance de permanecer abaixo dos 2 graus de aumento da temperatura média, esse século, é de 450 ppm.
Estamos chagando lá, rapidamente. Recente estudo feito sob a égide do Painel
Intergovernamental para as Mudanças Climáticas, o IPCC, publicado na revista Nature,
atualizou as correlações entre volumes de emissões de gases efeito
estufa (GEE) e aumentos de temperatura média do planeta, até o final do século.
Num cenário de inércia absoluta, ao
gosto dos negacionistas climáticos, o
aumento seria de entre 4.1 e 5.6 graus. Num cenário de mera continuidade das
políticas atuais, teríamos entre 3,2 e 4.4 graus. Numa projeção de rigoroso e
incondicional cumprimento dos compromissos voluntários assumidos, ano passado, com vistas ao Acordo de Paris, os chamados
INDC, ficaríamos entre 2,9 e 3,8 graus.
Hoje
assistimos às consequências do aumento de pouco menos de um grau já registrado desde
o início da era industrial: derretimento acelerado de geleiras; enchentes, furacões e secas mais frequentes e intensas;
impactos devastadores sobre a
agricultura – como a estiagem de quatro anos que precedeu a guerra civil Síria-- elevação do nível dos oceanos; migração de
epidemias, etc. Agora imaginemos um futuro, ainda no período de vida de nossos
filhos e netos, com esses cenários
apresentados na Nature. A simples
progressão aritmética é francamente assustadora mesmo sem incorporar riscos exponenciais,
retro-alimentadores ainda mal estudados: a liberação massiva do metano do
Artico, do permafrost siberiano e do
fundo dos oceanos e a redução da
capacidade de absorção de CO2 provocada pela acidificação dois mesmos e pelo
deterioro das florestas tropicais.
O estudo também permite vislumbrar uma
estreita janela de oportunidade de aproximadamente 15 anos: um processo de revisões quinquenais dos INDC pelo
qual ainda seria possível conter o aumento da temperatura média do planeta
abaixo dos 2 graus que para os cientistas separa as consequências graves das simplesmente catastróficas.
Permanecer abaixo dos 2 graus depende do advento de uma economia global carbono
neutra, por volta de 2075, na qual o
emitido e o retirado da atmosfera se equivalham. Isso pressupõe, entre outras
coisas, o abandono do carvão em um prazo relativamente curto e do do petróleo mais
adiante. Demandará energias limpas e renováveis com grande otimização de sua
eficiência; a eletrificação dos transportes ou sua “hibridização” com uso de
biocombustíveis; técnica massivas de
captura e sequestro de carbono; desmatamento zero, gigantescos projetos de reflorestamento e uma
agricultura e uma pecuária de alta produtividade e baixo carbono. Trata-se de
uma verdadeira revolução tecnológica e cultural que precisará de investimentos
gigantescos. Por outro lado, ela deve aportar implicações globais econômicas
e sociais bastante positivas.
Há uma convergência de caminhos entre a
transição para economias de baixo carbono e uma superação da chamada
“financeirização” que, segundo recente matéria de capa da conservadora revista Time, está estagnando a economia global A transição para economias de baixo carbono
pressupõe investimentos de aproximadamente 3 trilhões de dólares, por ano, algo
muito além dos 100 bi em torno dos quais tanto se polemiza nas Conferências do
Clima da UNFCCC. Os governos, praticamente todos com déficits e forte endividamento,
não conseguem aportar esses trilhões embora possam mobilizar garantias e criar instrumentos
de pressão para eventualmente drenar uma parte dos 220 trilhões que hoje
circulam no sistema financeiro global. Um esforço envolvendo um grupo
pioneiro de governos, bancos centrais, bancos de investimento e agencias
multilaterais, sob a égide do G 20, numa espécie de “ Bretton Woods do baixo
carbono”, poderá consagrar novos mecanismos correspondendo a essa necessidade
histórica premente da humanidade.
Nos âmbitos nacionais torna-se urgente a taxação
do carbono cujo efeito será incorporar ao preço produtos e serviços carbono
intensivos suas “externalidades”, ou seja, os custos reais de danos sociais e econômicos, hoje escamoteados.
Essa taxação deve ser instituída suprimindo outros tributos sobre trabalho e
investimento. É preciso também
redirecionar quase um trilhão de meio de subsídios a combustíveis fósseis.
Outra
ferramenta é a chamada “precificação positiva”, baseada no parágrafo 108 da Decisão
de Paris a qual reconhece o valor social e econômico da redução/remoção de
carbono. Ela permitirá aportar liquidez às economias produtivas de baixo
carbono via “certificados de redução/remoção de emissões”, uma espécie “moeda
do clima” dos tempos da catástrofe que ainda pode ser mitigada.
Um aumento de quatro a cinco graus na temperatura média do planeta ,a partir do 0 provocaria uma alteração de quantos graus centígrados?
ResponderExcluir