23/10/2015

Emplacamos redução de carbono = valor, o novo “padrão ouro”


Num desses renhidos combates de textos e palavras acabamos de emplacar, em Bonn,  o reconhecimento do “valor social e econômico” das “ações de mitigação”,  sinônimo de redução de carbono,  no texto-base para a COP 21 no chamado Work Stream 2 que trata de ações voluntárias, antecipadas, inovadoras e de mais curto prazo (anteriores a 2020). 

 A frase em inglês é a seguinte: Recognizes the social and economic value of voluntary mitigation actions and their co-benefits to adaptation, health and sustainable development;  A expressão voluntary e a referência à adaptação, saúde e desenvolvimento sustentável são acréscimos colocados para facilitar o consenso para a aprovação, embora no caso do “desenvolvimento sustentável” tenha enorme pertinência pois reconhecer que redução de carbono = valor é, em última análise,  criar a base para uma nova ordem econômica internacional da era do baixo carbono.

Havíamos tentado emplacar o conceito, com um  palavreado ligeiramente diferente, em Lima, na COP 19,  e com esse agora na reunião de Bonn anterior, em setembro. Finalmente,  foi consagrada graças ao trabalho persistente do ministro conselheiro Everton Lucero, de Seyni Nafo do Mali, que tem grande liderança no grupo africano. Também é importante ressaltar o papel da ministra Izabella Teixeira e do embaixador José Antônio Marcondes, nosso negociador-chefe. Desde Lima deram ampla cobertura a esse esforço, inclusive incluindo uma versão parecida a essa na declaração presidencial Brasil-Estados Unidos.

Esse é um primeiro passo de um longo e tortuoso caminho de enorme ambição. O pano de fundo dessa frase que soa tão anódina é a crucial questão do financiamento da transição para economias de baixo carbono,  na escala que se faz necessária: a dos trilhões de dólares anuais. 
Os governos não dispõem de recursos nessa escala. Quem os possui é o sistema financeiro internacional que maneja uns 300 trilhões mas que, até agora,  não se dispôs a investir pesadamente nisso desestimulado, sobretudo, pela demanda de um forte investimento imediato (upfront investment) que a transição demanda e pela sua percepção de risco –míope pois muito maior é o risco climático da inação!--  e pelo retorno menor frente a toda sorte de investimentos especulativos.
 Não há “bala de prata” para essa relutância do dinheiro do planeta convergir rumo ao maior problema que o planeta atravessará no futuro, mas há caminhos disso acontecer e eles passam por reconhecer e convencionar essa  nova unidade valor. 
 Sua lógica econômica é relativamente  simples: o prejuízo das mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global é hoje quantificável. Isso foi feito no Relatório Stern e um número associado a um prazo pode ser estabelecido numa negociação diplomática: tantos trilhões de dólares até 2050, digamos.  
 A partir daí é possível “precificar positivamente” cada tonelada de carbono reduzida e criar uma expressão “monetária” disso, tipo certificados de redução de emissões.

 Os governos, bancos centrais e bancos de desenvolvimento,  que não têm como, por si só,  financiar os trilhões da transição, podem oferecer garantias a esses certificados. Metaforicamente falando,  a redução de carbono o é o novo padrão-ouro.  Quem viver verá.
Voltaremos ao assunto.

Um comentário:

  1. Quanto mais cara for a tonelada de carbono maior será a redução das emissões mas isto só pode ser feito dentro das leis de mercadoFora das leis de mercado só se for através de uma legislação que obrigue a redução das emissões Com multa,por exemplo

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