Na China, o maior emissor, começa-se a
admitir a ideia de um “pico” das
emissões e uma redução subsequente no “agregado” (uma redução em números
absolutos) no final da próxima década. Os EUA e a União Europeia o segundo e
terceiro maiores emissores já vem reduzindo as suas mas esse processo é penosamente lento para o que
objetivamente se faz necessário. Outros países como a India planejam aumentar
significativamente suas emissões em nome do desenvolvimento. No Brasil, onde
logramos resultados significativos pela redução de desmatamentos o incremento
de emissões por energia ameaçam uma retomada do aumento de emissões totais a partir de 2020.
Diante da perspectiva de que o
processo da ONU, embora com avanços incrementais, dificilmente conseguirá com suas medidas de “comando e controle” internacionais as reduções suficientes para a estabilização do clima no paradigma 2 graus/450 ppm, há duas grandes estratégias complementares a serem implementadas para
além, naturalmente, daquelas de adaptação às consequências das mudanças
climáticas já inevitáveis.
A primeira seeia um esforço concentrado,
específico, aos países grandes emissores.
Só a China e os EUA, juntos, são
responsáveis por 40% das emissões de GEE. Junto com a União Europeia, a Índia,
o Brasil e alguns outros países compõem o essencial das fontes nacionais de
GEE. Uma série de concertações bi e plurilaterais entre esses países podem
obter resultados significativos. Também é fundamental um processo negociador da
qual participem diretamente as empresas maiores emissoras. Várias delas emitem
o equivalente a dezenas de países pelo seu volume é mais realista associa-las
diretamente a acordos de geometria variável do que imaginar que esse ou aqueles
governo possa assumir o compromisso de lhes impor obrigações quando sua própria
subordinação a este ou aquele marco legal nacional é incerto ou frágil dentro
do processo de transnacionalização.
A mesma dificuldade que existe em tributa-las com eficácia no marco nacional encontramos em impor-lhes limites de emissão. A própria atribuição “nacional” de emissões embora
legalmente consagrada é errática: uma cimenteira japonesa transferida à China
ou uma siderúrgica alemã ao Brasil consagra uma redução no país de origem que,
de fato, é perfeitamente fictícia, já que o processo de emissão de gases estufa é essencialmente global. Há
também uma discussão pertinente sobre a justeza de se atribuir a responsabilidade
por emissões no território de um determinado país de produção destinada à exportação, portanto, ao consumo em outros países. 19% das emissões da China entrariam nessa categoria. Todo esse tipo de discussão, conquanto
altamente pertinente, leva a impasses nos processos negociadores no marco da
UNFCCC que demandam consenso de 193 governos.
Uma evidência do mundo atual é a limitação de
recursos nas mãos dos governos para arcarem com os custos de transição para uma
economia global de baixo carbono. Por ou lado o sistema financeiro
internacional gira mais de duzentos trilhões de dólares numa lógica de
automultiplicação. Sem atrair pelo menos uma pequena parte desse recursos
financeiros para uma economia de baixo carbono a transição será muito difícil
senão impossível.
A condição básica para que isso possa ocorrer é o
reconhecimento da redução de carbono como uma unidade de valor. Em suma, a
criação de uma espécie de “moeda do clima” conversível que sirva para adquirir
produtos, serviços e tecnologia que conduzam a redução de emissões. Torna-se
fundamental nesse momento uma “Bretton
Woods do baixo carbono” análoga embora obviamente bem diferente daquela ordem
financeira internacional estabelecida em 1944 para fazer o planeta recuperar-se
daquela guerra ainda em curso que matava dezenas de milhões de seres humanos e
destroçava países inteiros.
Trata-se de reconhecer a redução de carbono
como unidade de valor financeiro internacional. Em Bretton Woods convencionou-se
que o dólar fosse lastreado no padrão ouro e isso se manteve até 1971. Foi basicamente um convenção humana que deu estabilidade ao sistema monetário do
pós-guerra. Uma conveniência dos tempos. Agora cabe reconhecer e declarar o valor social da redução de emissões, precificá-la e torna-la conversível. Criar um novo valor financeiro essencial para estabilizar o clima e prevenir uma catástrofe para as futuras gerações. A partir daí pode-se criar uma “moeda do clima” que ao mesmo
tempo financiará a economia de baixo carbono e uma retomada da economia
produtiva mundial atraindo parte do excesso de poupança existente no mundo.
Atualmente são cerca de 220 trilhões de dólares nos diversos circuitos financeiros
internacionais, privados. Os recursos do governos nacionais disponíveis atualmente, ao contrário dos EUA em 1944, são muito restritos. A fonte possível para o financiamento de economias de baixo carbono
depende de se estabelecer essa capacidade de atração criando produtos
financeiros lastreados na redução de carbono reconhecida como unidade de valor.
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