A incessante ação do lobby “negacionista”, financiado pela indústria do carvão e do
petróleo, fez dos EUA o país com a maior
parcela de gente que simplesmente não acreditava no aquecimento global de
origem antrópica. Essa proporção chegou a quase metade da população americana nos
anos Bush. As grandes secas, furacões e enchentes de uma violência sem
precedentes, os relatórios científicos, cada vez mais alarmantes começam a
fazer recuar o negacionismo climático e, no seu segundo governo, Obama adotou
uma postura mais combativa entre outras coisas estabelecendo um limite a
emissões por ato executivo da EPA,
agência federal de proteção ambiental,
já que a Câmara continua dominada por uma maioria republicana hostil ao
tema. No Senado pelo menos quatro democratas de estados carvoeiros também privam
Obama da maioria que necessita.
A “revolução” do gás de xisto permitiu uma
redução do uso do carvão e uma redução de emissões de CO2, pela primeira. Nos
dois últimos dias assisti vários discursos muito enfáticos que indicam uma
ofensiva política na questão, nos EUA,
respondendo ao mais recente --e
particularmente alarmante-- relatório do
IPCC. Em um evento do Climate Group,
no Morgan Museum, o secretario de estado John Kerry, o secretário geral da ONU,
Ban Ki-moon e o americano/coreano presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim e, no Lincoln Center, na cerimonia de premiação do PNUD, o ex-vice
presidente Al Gore, todos bateram todos na mesma tecla: nosso tempo está se esgotando,
somos a última geração que pode enfrentar com relativo sucesso o problema
evitando consequências catastróficas. As graves já são inevitáveis e vão exigir
muita adaptação. Na Assembléia Geral da
ONU Obama foi no mesmo tom. Dos grandes tenores do lado democrata só não vi no
pedaço a Hillary Clinton.
Mas fora a relativamente recente estridência
norte-americana o que avançou de concreto o summit?
Não foi particularmente concorrido ou prestigiado. A China, atualmente
principal país emissor, com mais de um quarto dos GEE despejados na atmosfera
mandou seu número quatro da hierarquia, o vice-primeiro ministro Zhang Gaoli.
Angela Merkel não apareceu. Vieram David Cameron e François Hollande. O
presidente francês cuja popularidade anda na casa dos 15% vai sediar a COP 21
ano que vem. Conversamos rapidamente. Quase lhe sugeri se fazer benzer por uma
mãe de Santo, na Bahia, pois sua maré de
azar parece inesgotável... Também
estavam o presidente Peña Nieto, do México e a presidente da Coreia do Sul,
Park Geun Hye. Ambos fizeram discursos interessantes com ênfase na transição e
no financiamento para a economia de baixo carbono. Nieto prometeu dez milhões
de dólares para o Fundo Verde do Clima, e
cem milhões. A previsão para o fundo, quando se sua criação era de 100
bilhões de dólares anuais, em 2020. Ninguém é capaz de mostrar como isso será
possível. Até agora nem um quarto parece assegurado. Se há alguma certeza é a
de que os governos, por si só, não serão capazes de financiar essa transição.
Aí entram as discussões que o nosso think tank Rio/Clima vem levantando,
desde 2012: é preciso se criar condições para drenar algo dos 220 trilhões de
dólares que giram no sistema financeiro internacional mediante uma “Bretton
Woods do baixo carbono” que reconheça a redução de GEE como uma unidade de
valor financeiro, conversível. A ênfase
do presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, na necessidade de uma precificação do carbono,
corroborado por uma tomada de posição nesse sentido por diversas grandes
empresas num anúncio de página inteira do New York Times e o anuncio da família
Rockfeller de que vai retirar seus investimentos das empresas petróleo e
carvão, indicam o início de um movimento.
Não é segredo para ninguém que a COP 21
gestará um acordo que vai representar um certo avanço mas muito aquém daquilo
que os cientistas apontam como o mínimo necessário. Será preciso complementá-lo
com uma concertação entre países grandes emissores para reduções adicionais e o
que estou denominando um “Breton Woods” do baixo carbono, a criação de
condições para canalizar para um investimento produtivo em energias limpas, cidades
eficientes, agricultura de baixo carbono e transportes não poluentes de alguns
dos trilhões que giram o planeta nos circuitos financeiros especulativos
internacionais. É o nó górdio da coisa.
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