Seguiu-se um longo percurso de umas três horas
–me aprece interminável—pelas ruas de Recife. O esquife em cima do caminhão de
bombeiros com alguns dos filhos de Eduardo, a viúva Renata e o mais pequeno,
Miguel, na cabine. A longa caravana –de
fato uma carreata—passou por todo tipo de bairro. As duas da madrugada de
domingo as ruas estavam cheias e gente de todas as idades pelas calçadas com faixas e cartazes improvisados de todo
formato, bandeiras do Brasil e de Pernambuco. Nos bairros mais populares muitos
gritos predominando “Eduardo, guerreiro do povo brasileiro”, nos de classe
média uma emoção mais comedida: aplausos e lenços brancos. Dos lados da
caravana um enxame de motos fazendo manobras as mais perigosas buzinando sem
cessar numa cacofonia atroz. Outros acompanhavam correndo. Um garoto magrinho
correu todo o percurso: um maratonista
anônimo.
No final, no palácio das Princesas uma
multidão em prantos quando os caixões de Eduardo e Percol desceram das viaturas de bombeiros e foram
colocados sob uma tenda preparada para a missa horas mais tarde. Dor e
perplexidade. As pessoas pouco se falava mas se abraçavam muito. A superlotação
era opressiva mas todos davam um jeito de torna-la suportável. Do lado de fora,
da rua em frente ao Palácio, ouviam-se frequentemente gritos de revolta com uma
aparente adesão as teorias conspirativas correndo nas redes sociais: clamores
por justiça, alusões à caixa preta e acusações ao PT. Fiquei me perguntando se
isso iria permanecer no imaginário popular: uma tragédia absurda desse tipo
tende a demandar um “culpado” um bode expiatório. Embora haja ainda muita
incerteza sobre o que exatamente levou o jatinho a cair a hipótese de uma
sabotagem é para lá de remota mas na paranoia popular as teorias se constroem:
“ A Marina ia estar junto, era para matar os dois e não ia haver mais segundo
turno” repetia um senhor de cabelo grisalhos completamente exaltado. “ Mataram
o Jucelino, o Jango, o Tancredo e agora...o Eduardo!” A sua volta alguns
assentiam “Foi culpa da Dilma!” mas a maioria olhava para ele plácida,
indiferente. Acreditavam? Não acreditavam?
Esgotado física e emocionalmente voltei para o
hotel às 4 da manhã. Decidi me poupar da missa às dez e ao acordar fui correr
uma hora na praia da Boa Vagem. Dei um mergulho ignorando os tubarões e voltei
ao Palácio à tarde quando o cortejo saia em direção ao cemitério de Santo
Amaro. Fiquei algum tempo no sufoco atrás do caminhão -- mas depois fui filmar com meu Iphone as
reações do povo de Recife.
Que virada do destino! Entramos numa nuvem da
mais absoluta incerteza que vai exigir de todos nós, Marina, seu entorno, o PSB
seus múltiplos dirigentes todos acostumados ao mando decidido de Eduardo um
esforço de superação, um salto de qualidade (e de humildade), de fraternidade e
de visão estratégica altamente difícil e desafiante. Ninguém sabe o alcance do
processo que a tragédia desencadeou. A vitória tornou-se uma possibilidade e
com ela toda a coleção possível e imaginável de oportunidades e perigos.
No Youtube minhas imagens nas ruas de Recife
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