A
crise da política brasileira é profunda, estrutural e altamente
desagregadora. Não chega a ser muito
diferente do que ocorre noutros quadrantes do mundo –notadamente na Europa, mas
tem um detalhe: é a nossa crise. A campanha para as eleições gerais de 2014
iniciou-se com um grau de desinteresse e rejeição profundo. Um verdadeiro
abismo entre a grande maioria dos eleitores e a mal chamada “classe política”.
O movimento (abortado pelos violentos) de 2013 contribuiu para exacerbar um
sentimento que está conosco há muitos anos. A franja da política brasileira
movida por algum tipo de idealismo ou de propósito programático vem se
reduzindo a cada eleições. O sistema eleitoral, a cultura política
individualista, clientelista, assistencialista e patrimonialista a ele
vinculada e as engrenagens da velha política, agora sob zelosa administração
petista, criaram uma quadratura do círculo que tende a afastar da política
aqueles que gostariam de transforma-la.
A mídia foca seus holofotes sobre esse estado de coisas mas seu
efeito prático, passado o ponto de saturação, não é o de ajudar a
supera-lo --processo longo e
trabalhoso-- mas o de cultivar o
conformismo: “é, não tem jeito mesmo”. A suspeição generalizada e o clima de acusatório
generalizado é um fator suplementar de desestímulo à participação. Pois à
indignação indiscriminada acaba correspondendo uma inquisição sem critérios.
Dou como exemplo a insistência do William Bonner em tentar caracterizar como
“nepotismo” o apoio político de Eduardo Campos à candidatura de sua mãe para o
TCU --em disputa com outros candidatos, eleita pelo Congresso-- naquela entrevista derradeira. Ao fisiologismo
generalizado corresponde o moralismo inquisitório num jogo de soma zero.
É sobre esse estado de coisas que incidiu a
terrível tragédia do acidente aéreo em Santos. É tendo-o como pano de fundo decidir-se-á quem vai assumir o lugar do ex-governador tragicamente ceifado pelo
destino. A rigor não caberia nem muita discussão. Marina Silva é o que Nelson
Rodrigues chamava de “o obvio e ululante”.
Só que o óbvio, o natural, nem
sempre é o que prevalece na política brasileira. Na política brasileira, como
ela é, muitas vezes falam mais alto o aparato e o cartório.
Sem
Marina as chances de reeleição no primeiro turno da presidente Dilma são
grandes. Com ela o segundo turno fica praticamente garantido. Como outros
partidos brasileiros o PSB tem uma considerável heterogeneidade ideológica: um
segmento de esquerda bem ortodoxa, um segmento pragmático e havia Eduardo que buscava
dar-lhe uma conotação de uma esquerda mais moderna. Sem ele, que exercia um comando inquestionável sobre o
partido, ninguém sabe direito o que pode acontecer.
Uma “puxada de tapete” não me parece ser a hipótese mais provável mas
há forças que se mexem para que ela ocorra. Seria um golpe terrível muito mais do
que contra Marina contra a própria noção de uma eleição representativa do
pluralismo de forças políticas na sociedade brasileira e, portanto, contra a
nossa democracia já consideravelmente desacreditada. Acredito que isso não acontecerá, mas, nessa
hora, todo cuidado é pouco.
PS - De fato, há uma evolução positiva. Aparentemente a incerteza em relação ao óbvio se reduz e a solução natural, Marina como candidata a presidência parece ir aos poucos se afirmando.
PS - De fato, há uma evolução positiva. Aparentemente a incerteza em relação ao óbvio se reduz e a solução natural, Marina como candidata a presidência parece ir aos poucos se afirmando.
Nenhum comentário:
Postar um comentário