14/08/2014

Tragédia e legado

A perda de Eduardo Campos é uma tragédia brasileira de agosto, mais uma. Vem colocar um elemento de grande incerteza numa campanha eleitoral incialmente marcada pela desmotivação e desilusão. Agora corrermos o risco do desalento. 

 Por ter durante tantos anos a crônica política saturado o público com as noticias ruins e pela ausência de movimentos coerentes capazes de ir, de fato, regenerando-a, pela desmobilização do grande porem difuso movimento do ano passado por uma franja de minoria violenta, vivemos agora tempos do mais profundo desânimo.  A palavra de ordem implícita parece ser: “não tou nem aí". 

 A campanha se iniciou tóxica, desorientada com os políticos já se comendo uns aos outros –no sentido canibalesco da palavra--  e a mídia focando incessantemente na escandalomania. No Rio,  a situação tornou-se particularmente ingrata com um quadro de candidaturas ao governo do estado francamente desolador. Nesse contexto explode o Deus-ex-machina, explode o avião, explode a tragédia.

Eduardo Campos tinha a seu favor representar uma “terceira força” que uma parcela do eleitorado brasileiro procura, ter uma crítica estruturada dos descaminhos do governo Dilma,  do bloco político PT + grotões e de certos reflexos semi-bolivarianos que volta e meia afloram. Fazia essa crítica respaldado por dois governos bem avaliados em Pernambuco. É  incomum uma reeleição com mais de 80%. É pouco usual um governador em segundo mandato manter a sua popularidade intacta. A aliança com Marina tinha um grande potencial de complementariedade, sempre que o alicerce fosse o programático. As questões envolvendo a realpolitik estadual foram um grande complicador mas que não conseguiu, ao final, impedir uma convergência ascendente.

 É agora? Primeiro tem que haver uma decantação humana, emocional. Antes de ser um drama político é uma tragédia humana que precisa ser respeitada na sua dimensão existencial, afetiva e familiar. Por mais prementes que sejam os prazos da política neste momento a dor e o luto assumem o comando. 

 Mas a política já se acotovela impulsionada pela sofreguidão da mídia.  A mídia precisa antecipar fatos e todos coleguinhas temem ser “furados” nessa antecipação.  É um mercado  futuro que elude a dor. A pergunta óbvia é Marina. Ela, porém, vai privilegiar a dimensão humana e irá se fechar a qualquer prospecção nos próximos dias.  O choque foi muito grande pela perda do parceiro com o qual desenvolvera nos últimos meses crescente amizade. Agravado pelo fato de que ela própria escapou por um triz: estava programada a voar com ele para Santos e de lá ir de carro para São Paulo onde tinha uma gravação para o programa de TV da campanha mas decidiu, na última hora, ir direto para Congonhas num vôo da TAM.


 Sobre a pergunta óbvia só posso dizer que existe uma solução não menos óbvia,   natural. Aquela que se aplicaria na hipótese de uma presidência de Eduardo Campos. Há uma clara expectativa na sociedade neste sentido que dificilmente conceberia algo diferente. Podem haver obstáculos políticos a serem superados, negociações difíceis a serem feitas, manobras eventuais dos adversários a serem  neutralizadas e novos laços de solidariedade a serem tecidos tendo como pano de fundo o propósito de honrar o legado de um líder promissor que não teve como concluir sua missão.

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