A
perda de Eduardo Campos é uma tragédia brasileira de agosto, mais uma. Vem
colocar um elemento de grande incerteza numa campanha eleitoral incialmente
marcada pela desmotivação e desilusão. Agora corrermos o risco do desalento.
Por ter durante tantos anos a crônica política saturado o público com as noticias ruins e pela ausência de movimentos coerentes capazes de ir, de fato, regenerando-a,
pela desmobilização do grande porem difuso movimento do ano passado por uma franja de minoria violenta, vivemos agora tempos do mais profundo desânimo. A palavra de
ordem implícita parece ser: “não tou nem aí".
A campanha se iniciou tóxica, desorientada com
os políticos já se comendo uns aos outros –no sentido canibalesco da
palavra-- e a mídia focando
incessantemente na escandalomania. No Rio, a situação tornou-se particularmente
ingrata com um quadro de candidaturas ao governo do estado francamente
desolador. Nesse contexto explode o Deus-ex-machina, explode o avião, explode a
tragédia.
Eduardo
Campos tinha a seu favor representar uma “terceira força” que uma parcela do
eleitorado brasileiro procura, ter uma crítica estruturada dos descaminhos do
governo Dilma, do bloco político PT +
grotões e de certos reflexos semi-bolivarianos que volta e meia afloram. Fazia
essa crítica respaldado por dois governos bem avaliados em Pernambuco.
É incomum uma reeleição com mais de 80%.
É pouco usual um governador em segundo mandato manter a sua popularidade
intacta. A aliança com Marina tinha um grande potencial de complementariedade,
sempre que o alicerce fosse o programático. As questões envolvendo a realpolitik estadual foram um grande
complicador mas que não conseguiu, ao final, impedir uma convergência
ascendente.
É agora? Primeiro tem que haver uma decantação
humana, emocional. Antes de ser um drama político é uma tragédia humana que
precisa ser respeitada na sua dimensão existencial, afetiva e familiar. Por
mais prementes que sejam os prazos da política neste momento a dor e o luto
assumem o comando.
Mas a política já se acotovela impulsionada pela sofreguidão da
mídia. A mídia precisa antecipar fatos e todos
coleguinhas temem ser “furados” nessa antecipação. É um mercado futuro que elude a dor. A
pergunta óbvia é Marina. Ela, porém, vai privilegiar a dimensão humana e irá se
fechar a qualquer prospecção nos próximos dias.
O choque foi muito grande pela perda do parceiro com o qual desenvolvera
nos últimos meses crescente amizade. Agravado pelo fato de que ela própria
escapou por um triz: estava programada a voar com ele para Santos e de lá ir de
carro para São Paulo onde tinha uma gravação para o programa de TV da campanha mas
decidiu, na última hora, ir direto para Congonhas num vôo da TAM.
Sobre a pergunta óbvia só posso dizer que
existe uma solução não menos óbvia, natural.
Aquela que se aplicaria na hipótese de uma presidência de Eduardo Campos. Há
uma clara expectativa na sociedade neste sentido que dificilmente conceberia
algo diferente. Podem haver obstáculos políticos a serem superados, negociações
difíceis a serem feitas, manobras eventuais dos adversários a serem neutralizadas e novos laços de solidariedade a
serem tecidos tendo como pano de fundo o propósito de honrar o legado de um
líder promissor que não teve como concluir sua missão.
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