Trecho de Megalópolis, meu novo livro que será lançado na terça-feria 23 de outubro, a partir das 19 horas na Livraria da Travessa do Shopping Leblon.
Tenho várias versões desse texto de aconselhamento à gestores municipais que iniciam a implantação de sistemas cicloviários. Tenho em dez e doze mandamentos também. Essa versão dos oito é a mais enxuta. Apresentei num congresso do ICLEI(International Council for Local Enviromental Initiatives) em Edmonton, no Canadá, em 2009.
1- Sempre tome partido dos projetos de reurbanização
ou construção de novas vias que já serão feitos de quaquer maneira neles
incluindo a infra-estrutura cicloviária. Se não o fizer vai passar muitos anos
sem poder fazê-lo pois tão cedo a prefeitura não poderá quebrar tudo para fazer
obras no mesmo local. 'Tomar carona' em todas obras viárias ou de urbanização
que já vão ser feitas fica mais barato e é essencial.
2 - Nunca deixe o projeto cicloviário a cargo de
engenheiros e arquitetos não ciclistas. Projetos cicloviários parecem simples
mas são complexos e os erros mais idiotas em geral são cometidos por técnicos
que não andam de bicicleta. Essa é a principal razão de certas ciclovias não
"pegarem". (no Rio, aquele da rua General Polidoro, em Botafogo, ou
da avenida Santa Cruz, em Senador Camará, por exemplo)
3 - O sistema cicloviário precisa ser constantemente
ampliado e aperfeiçoado em particular com pequenas intervenções: uma rampa de
acesso, aqui, uma placa de sinalização, lá, uma defensa de proteção, acolá. O
sistema cicloviário é como a própria bicicleta: se você não pedala, cai!
4 - Conservação é crucial. Mantenha sempre um bom e
flexivel contrato de conserva. E atenção particular com a drenagem: o que mais
desgasta ciclovias é a falta de escoamento das águas pluviais.
5 - Na hora de começar o faça sempre pelo ponto de
maior visibilidade da cidade. O uso da bicicleta é fundamentalmente um fato
cultural e não adianta começar por uma área pouco visível mesmo que apresente
utilização intensiva da bicicleta. Vamos chegar lá mais tarde. O começo tem que
impactar a cidade como um todo.
6 - Não estude em demasia. Há cidades que passam
mais de dez anos levantando fluxos de bicicletas. E nada...
7 - As Ciclovias entendidas com espaço
exclusivo e fisicamente protegido por uma mureta, defensa ou meio-fio, são,
apenas, um tipo de tratamento do sistema cicloviário. Há outros: as ciclofaixas,
marcadas por pintura e/ou sonorizadores (muito usadas na Europa, onde o tráfego
é mais civilizado), as faixas compartilhadas, onde o pedestre pode
circular e tem prioridade e as ciclorotas, ruas com sinalização
horizontal(no asfalto) ou vertical(placas) e boa pavimentação, amigáveis ao
ciclista mas sem a reserva de um espaço específico. O sistema cicloviário é
composto desses diferentes tratamentos mais seus equipamentos de apoio:
bicicletários, vestiários, pontos de reparo e manutenção, pontos de locação e
campanhas educativas.
8 - Na hora de contabilizar as viagens de bicicleta
para poder compor o perfil de uso dos vários modais de transporte em uma cidade
e não aceite que os técnicos rodoviaristas contabilizem como deslocamentos de
transporte em bicicleta apenas os percursos residência-local de trabalho. Na
verdade representa uso de transporte qualquer deslocamento em bicicleta que
substitua o uso do automóvel ou do transporte coletivo. Assim, se pego minha
bicicleta para ir à praia, ao cinema ou ao comércio e deixo meu carro na
garagem isso é transporte e não "lazer".
(Junho de
2009)
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