13/10/2012

Os oito mandamentos cicloviários


Trecho de Megalópolis, meu novo livro que será lançado na terça-feria 23 de outubro, a partir das 19 horas na Livraria da Travessa do Shopping Leblon.

Tenho várias versões desse texto de aconselhamento à gestores municipais que iniciam a implantação de sistemas cicloviários. Tenho em dez e doze mandamentos também. Essa versão dos oito é a mais enxuta. Apresentei num congresso do ICLEI(International Council for Local Enviromental Initiatives) em Edmonton, no Canadá, em 2009.

1- Sempre tome partido dos projetos de reurbanização ou construção de novas vias que já serão feitos de quaquer maneira neles incluindo a infra-estrutura cicloviária. Se não o fizer vai passar muitos anos sem poder fazê-lo pois tão cedo a prefeitura não poderá quebrar tudo para fazer obras no mesmo local. 'Tomar carona' em todas obras viárias ou de urbanização que já vão ser feitas fica mais barato e é essencial.



2 - Nunca deixe o projeto cicloviário a cargo de engenheiros e arquitetos não ciclistas. Projetos cicloviários parecem simples mas são complexos e os erros mais idiotas em geral são cometidos por técnicos que não andam de bicicleta. Essa é a principal razão de certas ciclovias não "pegarem". (no Rio, aquele da rua General Polidoro, em Botafogo, ou da avenida Santa Cruz, em Senador Camará, por exemplo)



3 - O sistema cicloviário precisa ser constantemente ampliado e aperfeiçoado em particular com pequenas intervenções: uma rampa de acesso, aqui, uma placa de sinalização, lá, uma defensa de proteção, acolá. O sistema cicloviário é como a própria bicicleta: se você não pedala, cai! 



4 - Conservação é crucial. Mantenha sempre um bom e flexivel contrato de conserva. E atenção particular com a drenagem: o que mais desgasta ciclovias é a falta de escoamento das águas pluviais.



5 - Na hora de começar o faça sempre pelo ponto de maior visibilidade da cidade. O uso da bicicleta é fundamentalmente um fato cultural e não adianta começar por uma área pouco visível mesmo que apresente utilização intensiva da bicicleta. Vamos chegar lá mais tarde. O começo tem que impactar a cidade como um todo. 

6 - Não estude em demasia. Há cidades que passam mais de dez anos levantando fluxos de bicicletas. E nada...



7 - As Ciclovias entendidas com espaço exclusivo e fisicamente protegido por uma mureta, defensa ou meio-fio, são, apenas, um tipo de tratamento do sistema cicloviário. Há outros: as ciclofaixas, marcadas por pintura e/ou sonorizadores (muito usadas na Europa, onde o tráfego é mais civilizado), as faixas compartilhadas, onde o pedestre pode circular e tem prioridade e as ciclorotas, ruas com sinalização horizontal(no asfalto) ou vertical(placas) e boa pavimentação, amigáveis ao ciclista mas sem a reserva de um espaço específico. O sistema cicloviário é composto desses diferentes tratamentos mais seus equipamentos de apoio: bicicletários, vestiários, pontos de reparo e manutenção, pontos de locação e campanhas educativas.



8 - Na hora de contabilizar as viagens de bicicleta para poder compor o perfil de uso dos vários modais de transporte em uma cidade e não aceite que os técnicos rodoviaristas contabilizem como deslocamentos de transporte em bicicleta apenas os percursos residência-local de trabalho. Na verdade representa uso de transporte qualquer deslocamento em bicicleta que substitua o uso do automóvel ou do transporte coletivo. Assim, se pego minha bicicleta para ir à praia, ao cinema ou ao comércio e deixo meu carro na garagem isso é transporte e não "lazer".
 (Junho de 2009)


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