01/02/2011

Posse e Egito

 Hoje tomei posse do mandato de deputado federal. É um mundo bizarro, o dos políticos. Havia um clima de euforia, um orgasmo cívico da galera do baixo clero que “chegou lá”. E não só. Muitos veteranos a começar pelo Sarneizão, no Senado, numa viagem de autocongratulação. Entendo a felicidade na noite da eleição. Mas a posse, para mim, deveria ser o início de um trabalho, que só se comemora, no final, caso bem sucedido. Mas essa não é a cultura dominante nessa redoma de vidro, nesse universo paralelo, distante do dia a dia da população.

  O sistema eleitoral brasileiro engendra a chamada (mal chamada) “classe política” um estamento de mais ou menos 1.5 milhões de pessoas que gravitam em torno dos políticos municipais, estaduais e federal. Para eles, hoje é um dia de festa. Para mim não tem festa nenhuma, deveria ser um primeiro dia de trabalho. Sóbrio. Sem hé, hé...Mas predomina e vai predominar num futuro previsível esse onanismo cívico, dos políticos, com os políticos, para os políticos festejando a si mesmos.


Egito

  Perdi a conta das vezes que falei ou escrevi nos últimos 30 anos que os sucessivos governos de Israel deviam aproveitar a janela de oportunidade no Oriente Médio e fazer a paz com os palestino pagando o preço da solução de dois estados, enquanto ainda fosse possível pois o tempo jogava contra eles e não, como pensavam e pensam, a favor.

Vimos nos recentes “vazamentos’ da Al Jaz ira o quão próximos estavam Ehud Olmert e Mahmud Abbas de chegar a um acordo. A vitória de Bibi Netanyahu fez as negociações de paz regredirem à estaca zero. Bibi joga como se o tempo jogasse a favor. Os acontecimentos no Egito mostram que não. Joga contra.

 A revolta parece politicamente liderada pelas forças democráticas laicas no Cairo e pelos Irmãos Muçulmanos em Alexandria. Os Irmãos Muçulmanos não são a Al Qaeda nem o Hamas –embora na origem aparentados--  e podem eventualmente virar um islamismo moderado do tipo turco. Mas não há garantias quanto a isso. Uma coisa é certa: Mubarak já era e o povo egípcio tem direito a democracia e à liberdade. Se amanhã os islâmicos radicais tentarão, como no Irã, seqüestrar a revolução, ninguém pode prever agora. Pode eventualmente acontecer. Mas pode não acontecer. De qualquer maneira temos que apoiar um povo que luta contra a ditadura pela liberdade. Temos que dar uma chance à liberdade.

2 comentários:

  1. Os dois comentários são muito oportunos para nós brasileiros como reflexão. A questão da Reforma Política vem se arrastando por décadas e consequentemente o Congresso Nacional pouco renovado e sem inovação nos meios institucionais. Me dá uma certa ponta de inveja ao ver o povo no Oriente Médio nesta onda marcante de manifestações. E quando o mundo pensava que as grandes manifestações haviam acabado por conta da virtualidade elas são organizadas na net. Penso, quando chegaremos a este patamar?!!

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  2. Será mesmo que o Mubarak já era?! Por aqui temos o nosso próprio festejando o reinado (José Mubarak Sarney)! Abs,
    Cláudia Assunção

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