21/11/2010

A hora e a vez do solar.


Tive a oportunidade de incluir uma emenda que prevê a geração elétrica fotovoltaica na construção de alojamentos e equipamentos para os Jogos Olímpicos de 2016, na recente lei municipal que dispos sobre o assunto. O dispositivo legal agora estará aberto ao debate para ser regulamentado. Foi uma pequena contribuição para algo que vou me empenhar a fundo como deputado federal em Brasília: estimular a energia solar no Brasil.

Raros países estão tão bem posicionados para fazer do solar uma fonte significativa de geração limpa de energia elétrica. Isolação privilegiada, abundantes jazidas de quartzo para produção de silício --matéria prima tanto das células fotovoltaicas quanto dos chips de computador-- algum acúmulo técnico no âmbito empresarial e acadêmico. Mas, estamos nitidamente perdendo a corrida, não só para países desenvolvidos como a Alemanha e Estados Unidos ,que vem investindo nisso há bastante tempo como, sobretudo, para a China, que hoje assume a vanguarda nos investimentos e na produção de equipamentos de energia solar. A Coréia também vem batida, com o gigante industrial Hyundai investindo pesadamente na produção de dispositivos fotovoltaicos de última geração.

A cadeia industrial da energia solar parte do silício extraído do quartzo. Sua matéria prima é o silício em grau metalúrgico, acondicionado em lingotes, que depois podem se bifurcar em silício em grau solar ou silício em grau eletrônico. O primeiro se destina às células fotovoltaicas e o segundo aos chips. As fotovoltaicas podem ser obtidas por dois processos: a chamada purificação de rota metalúrgica e a pela mais tradicional rota química. Os chips só podem ser obtidos pela rota química. Uma vez disponíveis, as células são dispostas em wafers e módulos. Para funcionar necessitam estar ligados a baterias, conversores e outros equipamentos. O solar pode ser utilizado tanto em áreas remotas desprovidas de rede, no meio rural, quanto equipamentos isolados (postes, prédios públicos, aeroportos, etc...) quanto em prédios comerciais e residenciais, individuais e veículos. Também tem uma série de micro-aplicações: relógios, calculadores, vestuário, etc...

Nas nossas cidades, nas próximas décadas, as fachadas e telhados solares serão cada vez mais visíveis. Em geral, os dispositivos solares instalados em prédios não são usados diretamente para iluminá-los, mas para produzir energia diretamente colocada na rede elétrica e que permite abater a conta de luz paga pelo condomínio. É o caminho mais prático. Para tanto é necessária uma rede eletrtica “inteligente” que comporte essa “geração distribuída”, ou seja, que não apenas seja capaz de trazer energia mas, também de recebê-la. É algo banal em muitos países, mas não ainda no Brasil.

O calcanhar de Aquiles do solar, que vem sendo tradicionalmente objetado, é o preço ainda muito elevado da geração fotovoltaica em relação a outras formas de produção. Esse preço está caindo ano a ano. Em menos de 10 anos, o preço do MW da geração elétrica solar estará no mesmo patamar ou mesmo abaixo daquele das fontes convencionais. Calcula-se que até 2050 mais de 10% da produção de energia elétrica no planeta venha do solar. Para o final do século calcula-se que mais da metade virá do solar. Dentro disso, alguns países estarão na vanguarda do processo e outros na retaguarda. Onde estaremos?

O solar também pode criar mais de 60 mil novos empregos até o ano 2025, no Brasil. Trata-se de um setor com imenso potencial e deveria ser fortemente estimulado pelos mecanismos de financiamentos governamentais (BNDES, Finep e outros) para colocar o Brasil em condições de competitividade global. Temos um filão promissor e diferencial em relação aos países que já se adiantaram, que é a chamada rota metalúrgica para a fabricação de células fotovoltaicas. Há também muito que avançar em termos de legislação, normalização e desburocratização, além de disposições no âmbito tanto nacional quanto local, que fortaleçam a demanda para acelerar a criação de um mercado interno pujante. É preciso investir pesado em pesquisa científica e tecnológica porque novidades surgem a todo momento. Há um leque de tecnologias possíveis: silício policristlino ou amorfo, disseleneto de cobre, índio e gálio, telureto de cádimio e semicondutores orgânicos. As células fotovoltaicas tradicionais já estão sendo sucedidas pelos chamados “filmes finos”.

A janela de oportunidade que o Brasil tem para não perder completamente o bonde da história no que diz respeito ao solar está se fechando. Vamos nos conformar em ser, definitivamente, uma economia de agrobuisness e “commodities”? Ou, como no caso da EMBRAER, com os aviões de médio porte, vamos identificar outros nichos onde poderemos competir globalmente e nos adiantarmos localmente? No contexto nacional, o Rio, como cidade que vai abrigar os três grandes eventos da década de 10: a conferência Rio + 10, a Copa do Mundo, junto com outras cidades, e os Jogos Olímpicos, tem um papel a desempenhar. O Rio precisa transformar-se na vitrine brasileira do solar!

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