Raros países estão tão bem posicionados para fazer do solar uma fonte significativa de geração limpa de energia elétrica. Isolação privilegiada, abundantes jazidas de quartzo para produção de silício --matéria prima tanto das células fotovoltaicas quanto dos chips de computador-- algum acúmulo técnico no âmbito empresarial e acadêmico. Mas, estamos nitidamente perdendo a corrida, não só para países desenvolvidos como a Alemanha e Estados Unidos ,que vem investindo nisso há bastante tempo como, sobretudo, para a China, que hoje assume a vanguarda nos investimentos e na produção de equipamentos de energia solar. A Coréia também vem batida, com o gigante industrial Hyundai investindo pesadamente na produção de dispositivos fotovoltaicos de última geração.
A cadeia industrial da energia solar parte do silício extraído do quartzo. Sua matéria prima é o silício em grau metalúrgico, acondicionado em lingotes, que depois podem se bifurcar em silício em grau solar ou silício em grau eletrônico. O primeiro se destina às células fotovoltaicas e o segundo aos chips. As fotovoltaicas podem ser obtidas por dois processos: a chamada purificação de rota metalúrgica e a pela mais tradicional rota química. Os chips só podem ser obtidos pela rota química. Uma vez disponíveis, as células são dispostas em wafers e módulos. Para funcionar necessitam estar ligados a baterias, conversores e outros equipamentos. O solar pode ser utilizado tanto em áreas remotas desprovidas de rede, no meio rural, quanto equipamentos isolados (postes, prédios públicos, aeroportos, etc...) quanto em prédios comerciais e residenciais, individuais e veículos. Também tem uma série de micro-aplicações: relógios, calculadores, vestuário, etc...
Nas nossas cidades, nas próximas décadas, as fachadas e telhados solares serão cada vez mais visíveis. Em geral, os dispositivos solares instalados em prédios não são usados diretamente para iluminá-los, mas para produzir energia diretamente colocada na rede elétrica e que permite abater a conta de luz paga pelo condomínio. É o caminho mais prático. Para tanto é necessária uma rede eletrtica “inteligente” que comporte essa “geração distribuída”, ou seja, que não apenas seja capaz de trazer energia mas, também de recebê-la. É algo banal em muitos países, mas não ainda no Brasil.
O calcanhar de Aquiles do solar, que vem sendo tradicionalmente objetado, é o preço ainda muito elevado da geração fotovoltaica em relação a outras formas de produção. Esse preço está caindo ano a ano. Em menos de 10 anos, o preço do MW da geração elétrica solar estará no mesmo patamar ou mesmo abaixo daquele das fontes convencionais. Calcula-se que até 2050 mais de 10% da produção de energia elétrica no planeta venha do solar. Para o final do século calcula-se que mais da metade virá do solar. Dentro disso, alguns países estarão na vanguarda do processo e outros na retaguarda. Onde estaremos?
O solar também pode criar mais de 60 mil novos empregos até o ano 2025, no Brasil. Trata-se de um setor com imenso potencial e deveria ser fortemente estimulado pelos mecanismos de financiamentos governamentais (BNDES, Finep e outros) para colocar o Brasil em condições de competitividade global. Temos um filão promissor e diferencial em relação aos países que já se adiantaram, que é a chamada rota metalúrgica para a fabricação de células fotovoltaicas. Há também muito que avançar em termos de legislação, normalização e desburocratização, além de disposições no âmbito tanto nacional quanto local, que fortaleçam a demanda para acelerar a criação de um mercado interno pujante. É preciso investir pesado em pesquisa científica e tecnológica porque novidades surgem a todo momento. Há um leque de tecnologias possíveis: silício policristlino ou amorfo, disseleneto de cobre, índio e gálio, telureto de cádimio e semicondutores orgânicos. As células fotovoltaicas tradicionais já estão sendo sucedidas pelos chamados “filmes finos”.
A janela de oportunidade que o Brasil tem para não perder completamente o bonde da história no que diz respeito ao solar está se fechando. Vamos nos conformar em ser, definitivamente, uma economia de agrobuisness e “commodities”? Ou, como no caso da EMBRAER, com os aviões de médio porte, vamos identificar outros nichos onde poderemos competir globalmente e nos adiantarmos localmente? No contexto nacional, o Rio, como cidade que vai abrigar os três grandes eventos da década de 10: a conferência Rio + 10, a Copa do Mundo, junto com outras cidades, e os Jogos Olímpicos, tem um papel a desempenhar. O Rio precisa transformar-se na vitrine brasileira do solar!
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