Há uma clara ação de origem petista para tentar desgastar a candidatura de Marina em setores da classe média e, em particular, entre o público gay e feminista. Já foram identificado pelos marqueteiros adversários como motes a serem explorados termas como casamento gay, aborto e drogas pelo lado avesso do que em geral são explorados pela direita mas com igual dose de preconceito e intolerância. A imprensa que tem uma enorme dificuldade de lidar com nuances e sutileza, prefere simplificar grosseiramente essas questões quando não deturpa-las completamente.
Na segunda-feira, por exemplo, na reportagem sobre a parada gay, no Rio, a matéria de O Globo faz exatamente isso. Insinua erradamente que Marina é contra a união civil de pessoas do mesmo sexo e busca aspas de uma das participantes da parada a partir desse pressuposto. A partir daí extrai uma “declaração de não voto” em Marina. Essa é apenas uma de muitas matérias análogas nesse vicio jornalístico do “ouviu o galo cantar mas não sabe aonde”.
Por isso é bom clarificar as posições de Marina bem como as programáticas do Partido Verde sobre esses temas as vezes chamados de “malditos” que contêm questões de cidadania importantes mas que em campanha eleitoral quase sempre são instrumentalizadas como cascas de banana.
1) União civil de pessoas do mesmo sexo ou “casamento gay”?
Um partido laico como o nosso, uma candidatura laica como a de Marina e um estado laico como desejamos que continue a ser o brasileiro não discute “casamento gay”, uma expressão carregada de subjetividade negativa, mas o direito de pessoas do mesmo sexo à união civil estável para todos os efeitos com mesmos direitos e deveres do matrimonio civil.
Marina já se declarou favorável a isso de forma clara, inequívoca.
Ela permite-se, no entanto, evitar utilizar a expressão “casamento gay” porque isso fere sua sensibilidade religiosa --e a de milhões de brasileiros-- que acreditam no casamento pela sua definição bíblica de união entre homem e mulher.
Qual o efeito prático dessa distinção semântica para o reconhecimento do exercício cidadão desse direito? Nenhum! Nesse caso não se trata sequer de uma divergência entre Marina e o programa do PV que pudesse ensejar recurso à “cláusula de consciência”. Marina é a favor do pleno reconhecimento da união civil entre pessoas do mesmo sexo e ponto final.
2) Aborto
Nesse caso existe, de fato, uma diferença entre nós. Os verdes programaticamente defendem a descriminalização da interrupção voluntária da gravidez por decisão da mulher e Marina como milhões de outras pessoas em todos os partidos é contrária a isso por motivo religioso.
A diferença aqui não é ser “a favor” ou “contra” o aborto mas a questão de qual a melhor estratégia para diminuir o sofrimento humano e ir desestimulando a prática do aborto até, idealmente, fazê-lo desaparecer. Os verdes estão convencidos que seria mais correto descriminaliza-lo acabando com a hipocrisia reinante no país onde o aborto é amplamente praticado e tolerado --em clinicas com nome de santo...-- de uma maneira deletéria sobretudo às mulheres pobres e agenciadora da corrupção policial.
Por motivos religiosos Marina é contrária à legalização do aborto mas defende a realização de um plebiscito sobre o tema. Se ele fosse realizado hoje provavelmente a posição contrária venceria mas, no futuro, pode acontecer o que sucedeu em Portugal.
Nessa caso temos uma diferença que é superada pela afirmação laica do caminho democrático de arbitragem do tema: o voto popular de uma república laica.
3) Drogas
Temos aqui questão parecida. O PV defende a descriminalização da canabis que para todos efeitos já é praticamente vigente no país e defende que se comece a discutir a questão da legalização das drogas, em geral, como caminho de passagem do problema da esfera do morticínio na disputa armada do mercado das drogas para o campo da saúde pública, embora não proponha isso a curto prazo e sim dentro de uma concertação internacional a longo prazo.
Essa posição não implica em nenhuma defesa ou promoção do uso de drogas mas de uma análise lúcida da realidade sob a ótica da redução de sofrimento em sociedades onde a droga jamais deixará de existir pela força da repressão e onde produz um sofrimento infinitamente maior pela guerra do que pela eventual intoxicação e dependência das substâncias. Marina não é favorável a esta nossa visão expressa no programa verde e recorre à objeção de consciência defendendo também neste caso o recurso ao plebiscito. Podemos viver com isso.
Numa campanha eleitoral a nuance é um problema. É muito mais fácil ser "contra" ou "a favor" preto no branco sem meios tons dúvidas ou nuances. Mas a vida os tem mais do que soe admitir nossa vã filosofia de direita e esquerda conservadoras. Nela abundam os meios tons as nuances e complexidades. O fato dos verdes colocarem essas questões fora das simplificações grosseiras e dos maniqueismos tolos é ponto a favor de uma nova política.
Somente Marina Silva para mudar algumas coisas que vemos em nosso país...Sustentabilidade é tudo!!!
ResponderExcluirVejo como natural essa resistência por parte de setores da mídia em relação a uma candidatura de vanguarda como a da Marina.
ResponderExcluirÉ preciso agir com cautela e de forma bastante paciente, para que não sejam colados rótulos odiosos na nossa candidata.
Para tanto, creio que a propaganda televisa que seguir a linha do que foi acima exposto será suficiente para esclarecer os eleitores acerca das reais propostas da candidatura da Marina.
Raphael Ferrari/RJ