10/06/2010

Miragens e turvas percepções

O jogo de enganos e auto-enganos parece dominar o noticiário internacional. Ontem, tivemos a votação no Conselho de Segurança da ONU, e o Brasil e a Turquia sobraram isolados na sua defesa insensata do regime despótico dos aiatolás e seu presidente Ahmadinejad. A China e a Rússia, apesar dos seus grandes interesses econômicos no Irã, votaram pelas sanções e mesmo o Líbano, no qual a poderosa milícia pró-iraniana Hezbollah deita e rola, se absteve. Doze países votaram a favor. A megalomania e leviandade com que o nosso governo tratou o assunto nos deixou num vergonhoso isolamento, de braços dados com um regime ditatorial sinistro e aventureiro, que na década passada patrocinou dois odiosos atentados terroristas em Buenos Aires, razão pela qual nem o casal Kirchner ousa manter relações diplomáticas com ele.

O erro de Lula não foi o de manter um diálogo com o Irã de natureza a eventualmente poder mediar numa negociação séria mas, o de ter nesse processo praticado uma política unilateral isolada não apenas da Europa e dos Estados Unidos mas, mesmo de países como o México, a Russia e a China. O pior foi a gestalt da coisa, a efusividade e a promiscuidade no trato,com uma figura sinistra como Ahamadinejad, e o profundo desrespeito para com os iranianos que lutam pela liberdade e democracia, comparados por Lula, em plenos dias de massacre, com torcidas de futebol de times derrotados. Ao vencedor, a ferro e fogo, com suas câmaras de tortura e prisões, nossa suprema prova de amizade: a camiseta da seleção canarinho.

O Ahmadinejad da direita sionista

Em matéria de desprezo para com o resto do mundo civilizado, Ahamadinejad tem poderosos rivais nas figuras cheias de arrogância, empáfia e paranóia dos mandachuvas do atual governo de extrema-direita de Israel. Netanyahu, Lieberman e o patético traidor e coveiro do trabalhismo isrealense Ehud Barak. São os Ahmadinejads do sionismo.

Israel tem o direito de impedir, manu militari, que cheguem a Gaza armamentos destinados ao Hamas. Não vem impedindo que isso aconteça. As armas continuam chegando pelas centenas de túneis que partem do Egito. Era evidente que os seis navios que se dirigiam a Gaza não transportavam armamento. Teria sido legítimo detê-los para uma revista e depois liberá-los para entregar sua carga de ajuda humanitária em Gaza. Aliás, Israel que apreendeu a carga dos navios; agora está entregando-a em Gaza a bordo de caminhões, salvo o cimento considerado insumo militar...


Os gênios do governo da direita e extrema-direita sionista preferiram fazer uma operação destrambelhada em águas internacionais, expor seus soldados a uma terrível humilhação e levá-los a matar nove pessoas e desgastar ainda mais a imagem de Israel estimulando o anti-semitismo em todo o mundo.

Todo esse sofrimento e desgaste, toda essa perda de vidas e isolamento político para que, na prática, a carga dos navios não chegasse a Gaza pelo porto mas, a bordo de caminhões israelenses! Convenhamos que trata-se de uma incongruência por demais insana.

É mais importante que nunca apoiar a minoritária esquerda pacifista israelense que rema contra a maré e a Autoridade Palestina que, pouco a pouco, melhora a qualidade da sua governança nos Bantustões, que controla precariamente na Cisjordânia mas, que tornam-se base para o eventual estabelecimento de um estado palestino embrionário, em 2011.

No entanto, a contagem regressiva para a inviabilização da solução de dois estados está em marcha embalada pela continuidade da expansão dos assentamentos na Cisjordânia e em Jerusalém oriental. Em menos de uma década, essa possibilidade tenderá a desaparecer e aí a questão que colocar-se-á para Israel será o dilema entre tornar-se definitivamente um estado de apartheid ou virar um estado democrático bi-nacional que conceda aos palestinos o direito de votar inclusive para eleger o governo de Israel.

Li no Haaretz um curioso artigo de um dos principais dirigentes do Likud, Moshe Arens, ex-ministro da defesa e ex-embaixador nos EUA, que admite essa hipótese. Quer a "soberania" de Israel sobre o que chama de "Judéia e Samaria" e afirma ser favorável a conceder o direito a voto aos palestinos, que assim formariam, junto com os árabes de Israel e habitantes palestinos de Jerusalém, 30% da população desse Grande Israel ou Grande Palestina, de acordo com a ótica de uns ou outros.

Evidentemente, trata-se de uma farsa, na medida em que exclui a população palestina de Gaza, que Arens pretende deixar sob a tutela opressiva do Hamas, que a direita sionista sempre fortaleceu, e a diáspora dos campos de refugiados. Mas, não deixa de ser politicamente curioso que defenda essa tese.

As pesquisas sobre cepticismo climático nos EUA são questionáveis.

Acaba de sair uma pesquisa feita pela Universidade de Stanford sobre a percepção do público norte-americano em relação ao aquecimento global, com conclusões bem diferentes que as recentemente anunciadas pelo Instituto Gallup. O estudo que constatou que mais de 70% dos norte-americanos acredita no aquecimento global, provocado pela poluição humana, e quer que o governo aja em relação ao tema e apontou sérias falhas metodológicas nas pesquisas recentes, que levam a conclusão oposta. Vale a pena ler o artigo no New York Times




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