29/06/2010

Driblando a arapuca ruralista

Via de regra, Marina irá a todos os debates, sabatinas e entrevistas com os três principais candidatos. Assim tem sido. Mas, a “sabatina” da CNA virou a exceção à regra. Dilma, desde o início, declinou em ir, o que deixaria Marina no mano-a-mano com Serra, o que, em si, não teria problema algum, não fosse a parcialidade da entidade, cuja principal líder é a senadora do DEM Kátia Abreu, que chegou a ser cogitada para a vagas de vice de Serra.

A dinâmica da tal “sabatina” foi toda armada para promovê-la. Terá espaço para fazer uma longa intervenção, de meia hora, com mais tempo que os próprios presidenciáveis, além das outras intervenções-perguntas dos demais ruralistas. Já vimos na “sabatina” da CNI que, na verdade, essas entidades patronais e suas lideranças servem se da ocasião para, mais que interagir com os candidatos, promover suas próprias teses –o que em si não é um problema-- e suas lideranças, aproveitando a atenção da mídia aos candidatos. Por outro lado não há debate entre estes. Na prática, o anfitriões disputam com os candidatos o estrelato.

É um formato muito “amarrado” que, no caso da CNI, foi suportável porque compareceram os três candidatos e não existia a hostilidade a Marina e aos verdes que grassa nas hostes ruralistas. No caso da CNA, seriamos muito otários de entrar desavisados no covil da direita ruralista --posmodernamente apaixonada pelo PC do B-- para levantar a bola para Kátia Abreu.

Ficou patente o desequilíbrio de tratamento com Serra, um “insider”,com acesso às perguntas, e Marina, claramente na alça de mira de prováveis “pegadinhas”, não do candidato concorrente, que vem sendo bastante elegante com ela em todas ocasiões, mas dos ruralistas.

Existe, nesse momento, um forte contencioso com eles que é a revisão do Código Florestal retirando poderes de fiscalização ao IBAMA, que passariam aos governos estaduais, a diminuição das reservas legais de floresta a serem preservadas, a anistia aos desmatadores e outros quetais.

A nossa decisão tática em relação à “sabatina”, prende-se menos a campanha eleitoral, do que ao enfrentamento estratégico com o setor mais retrógrado do ruralismo, representado por Kátia Abreu. Serra e Marina lá criaria um polarização entre os ruralistas, e Marina com o Serra posando de mediador razoável entre os interesses do agrobuisness, pecuária e o suposto “radicalismo” dos ecologistas. Sem Marina, sozinho com ruralistas às vistas da mídia, Serra será obrigado a enfrentá-los em vários temas, se quiser permanecer coerente com suas recentes inflexões pró-ambientalistas, ou render-se a eles, com desgaste na classe média e entre os ambientalistas, o que não parece provável que faça.

Tanto do ponto de vista da campanha, quanto do confronto mais geral, em torno do Código Florestal é taticamente mais conveniente deixar Serra a sós com seus seus complicados aliados ruralistas. Como em qualquer situação tática é uma decisão conjuntural. Noutras circunstâncias pode mudar.

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