02/07/2019

Desmatamento: o "liberou geral"




O INPE anunciou que o desmatamento na Amazônia aumentou em 60% em relação ao ano passado, de junho a junho. O de 2018 já havia sido alto.  7500km2 8% a mais que no ano anterior. Anos eleitorais costumam trazer aumentos e a campanha de Bolsonaro já sinalizava fortemente um "liberou geral". Os órgãos ambientais que havia logrado fazer cair o desmatamento, em 2017,  já estavam assoberbados e com uma grande  carência de efetivos. Aos assumir a presidência, Bolsonaro passou ao seu desmonte sistemático, raivoso e ostensivo. O saldo final de 2019 será assustador.

 A participação presidencial no G 20 foi uma sucessão de vexames. O mais grave foi o chá de cadeira que ele levou de Xi Jimping seguido do cancelamento do encontro com nosso primeiro parceiro comercial. Os chineses são altamente protocolares e com eles nada acontece ao mero acaso. Foi uma reação calculada frente às declarações anteriores, hostis,   do nosso excêntrico chanceler  e ao voluptuoso alinhamento de Bolsonaro com Donald Trump. O Brasil tomou partido e a China marcou seu reconhecimento dessa posição. O chato da história é que, economicamente,  dependemos muitíssimo mais deles do que eles de nós.  E eles fazem realpolitik a mais ou menos 5 mil anos. 

  Houve, é certo,  um desfecho positivo, parcial,  de um  processo   comercial, que vinha sendo negociado há décadas por vários governos anteriores:  o esboço de acordo do Mercosul com a União Europeia. O acordo ainda esta pendente de diversas ratificações nacionais e a do Parlamento Europeu, sensível a vários tipos de pressão da opinião pública que promete ser punk. É só ler os principais jornais europeus Le Monde, The Guardian, El País, La  Republica para ver até que ponto a imagem  desse governo está queimada.
A França já está levantando objeções. Em parte são por pressões protecionistas mas facilmente turbinadas pelos nosso descalabro ambiental recente. Essas coisas têm consequências comerciais. Inevitáveis. 

 Não adianta o presidente ficar nervosinho com Angela Merkel por ter mencionado o desmatamento, dizendo que ela sofre de "psicose ambiental" ou sugerir ao Macron uma sobrevôo a baixa altitude sobre a Amazônia para mostrar que ainda tem bastante árvore. Não passa despercebido para ninguém, minimamente informado,  que o desmatamento esse ano vai bater um recorde dos últimos dez anos, que há um "liberou geral" do desmatamento ilegal para a grilagem. 

Ela só vai se intensificar.  Essa especulação imobiliária rural, improdutiva e criminosa, assim como o garimpo ilegal que infesta os rios de mercúrio e as violências variadas contra os povos indígenas aparecem escancaradas para o mundo. O agrobusiness não é  responsável pela grande maioria dessas agressões ambientais mas  vai pagar o pato, comercialmente. Uma parte dos ruralistas já sentiu o drama e quer que o governo enquadre o desmatamento ilegal. Mas os grileiros, cabos eleitorais dos piores ruralistas estão no poder, tanto no executivo quanto no legislativo e intimidam os empresários mais modernos que não têm culhão para enfrenta-los.

 Assistimos ao desmantelamento físico e à desmoralização pública dos órgãos ambientais, ao enxovalhamento de seus servidores,  por parte do presidente e de seus áulicos. O Brasil tende a perder, literalmente, bilhões de reais na sabotagem deliberada do Fundo Amazônia e do Fundo Clima.  O governo hostiliza nossos doadores, a fundo perdido,  como a Noruega e Alemanha. O responsável mor pela nossa inteligência "viaja na maionese" e acusa os alemães de quererem manter a Amazônia como reserva para poderem ocupa-la depois. Antes não eram os americanos? Convenhamos, ocupar a Amazônia não ocorreu sequer ao  Hitler...

 Há pelo mundo afora muitos governos com  má performance climática e ambiental. Em geral porque estão a serviço de determinados interesses econômicos, políticos ou são incompetentes. São criticados internamente como no caso da Alemanha, em relação ao não cumprimento da meta de seu NAMA para 2020 e pelo acordo de fim do uso do carvão a se concluir em 2023. Ninguém está acima de cobranças quando o mundo se encaminha cegamente para um aumento de 4.5 graus, até o final do século,  e nem as NDC do Acordo de Paris, que reduziriam isso para ainda infernais 3 graus,  parecem em vias de poder ser cumpridas. Nossa atual trajetória planetária vai a caminho do inferno não do purgatório.

  Aqui além dessa incompetência-inapetencia crassa  temos, de lambuja, algo mais: essa postura idiossincrática, odienta,  em relação ao Clima, meio ambiente e biodiversidade.  Uma hostilidade  que provêm de uma  sesquipedal  ignorância. 

 Eis um presidente  que não se informa, não lê,  toma conhecimento dos assuntos por  "orelhada"  sempre emprenhado pelas ditas cujas por seu pequeno grupo familiar,  imaturo e fanático. A questão ambiental para eles é "coisa de comunista" pela circunstancia,  algo fortuita,  da esquerda ter começado a brandir o tema, a partir dos anos 90, como mais uma "bandeira de luta". Nos anos 80,  na sua maioria o considerava  "causa burguesa",  um diversionismo em relação à "luta de classes". 

 Depois o assumiu em parte. Havia gente de adesão eram sincera e consequente mas, de uma forma geral,  os partidos de esquerda nunca priorizavam  a questão ambiental e os de extrema esquerda procuraram reinventa-la como uma bandeira  "anti-capitalista" se esquecendo do caos ambiental que foi o "socialismo real" do qual o seriado Chernobil dá uma boa noção. 

  Ecologia  transcende tudo isso.  Os grandes pioneiros do ambientalismo, no Brasil foram, a era colonial,  Dom Vicente Salvador e, na república,  militares como o marechal Cândido  Rondon --que dedicou  sua vida aos indígenas--,  o major Archer que reflorestou o maciço da Tijuca, criando a maior floresta urbana do mundo,  o Almirante Ibsen Gusmão ou civis apolíticos ou conservadores como, Paulo Nogueira Batista,  Marcelo de Ipanema ou José Lutzemberger. Coisa de comunista?

 Entre as disposições legais que esse governo e sua atual base de políticos cretinos e predadores  tentam destruir estão várias  que se originam no próprio período do regime militar, a começar pelo Código Florestal, de 1965,  com as APP e as Reservas Legais que o senador Flávio Bolsonaro agora quer suprimir, a troco de nada. 

 Há um profundo malestar nas Forças Armadas em relação aos que estão empenhados em arrancar o verde da nossa bandeira e à vergonha que nos fazem passar como Nação com as idiotices que falam todo santo dia. 

 Como Trump, Bolsonaro vai afastando os "adultos" do seu governo. O que significa a demissão sistemática de generais que zelavam por uma certa sensatez e decoro? 

 Será uma intimidação sistemática a serviço de uma futura quebra de hierarquia e ruptura institucional que suas redes fascistóides de internet parecem almejar?




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