A questão ambiental não foi citada no discurso de Dilma para o povo, no parlatório, e mereceu apenas breves referências, em dois dos 73 parágrafos do seu discurso de posse. A primeira, num contexto de exaltação de virtudes brasileiras “... a marca indelével também da cultura e do estilo brasileiro: o amor, a generosidade a criatividade e a tolerância. Uma nação em que a preservação das reservas naturais e de suas imensas florestas, associada à rica biodiversidade e à matriz energética mais limpa do mundo permitem um projeto inédito de país desenvolvido com forte componente ambiental.” Dilma prossegue falando da revolução tecnológica no mundo e volta ao tema seis parágrafos adiante: “ ...considero uma missão sagrada do Brasil a de mostrar ao mundo que é possível um país crescer aceleradamente sem destruir o meio ambiente.
Fomos e seremos os campeões mundiais da energia limpa, um país que sempre saberá crescer de forma saudável e equilibrada. O etanol, as fontes de energia hídricas terão um grande incentivo, assim como as fontes alternativas: a biomassa, as eólicas e solar. O Brasil continuará também priorizando a preservação das reservas naturais e de suas imensas florestas. Nossa política ambiental favorecerá nossa ação nos fóruns multilaterais, mas o Brasil não condicionará sua ação ambiental ao sucesso e ao cumprimento, por terceiros, de acordos internacionais. Defender o equilíbrio ambiental do planeta e um dos nossos compromissos nacionais mais universais.” E daí segue falando de política externa. Num discurso previsivelmente desenvolvimentista clássico essas rápidas alusões parecem mais um lip service, uma prestação boca-pra-fora, do que uma referência estratégica, uma visão. A questão ambiental é tratada como algo já resolvido (“O Brasil continuará a priorizar a preservação”) do qual já podemos nos ufanar nos fóruns internacionais (“uma nação em que a preservação (...) associada à rica biodiversidade e à matriz energética mais limpa do mundo permitem um projeto inédito de país”).
Ou seja: em matéria ambiental tudo está devidamente equacionado, somos os tais e podemos correr para o abraço. Essa é a mensagem inicial da presidente Dilma que perde assim sua primeira oportunidade de abrir uma discussão séria com a sociedade brasileira sobre os perigos, os desafios e as oportunidades que envolvem a questão ambiental e a da sustentabilidade no Brasil. Não há, no seu discurso, o menor indício de que perceba que a questão do clima é uma das maiores ameaças que paira sobre o Brasil, que sofrerá aumentos de temperatura até 20% superiores à média do planeta, com riscos de savanização da Amazônia, desertificação do semi-árido nordestino e agravamento das enchentes e outros fenômenos extremos no centro-sul. Não há reconhecimento do grau elevado de degradação ambiental que ainda sofrem os principais ecossistemas brasileiros, ambiguamente tratados de “reservas naturais”, nem dos imensos desafios de ecologia urbana que se colocam a começar pela poluição das águas e deficiências de saneamento básico.
Dilma ficou presa a uma visão limitada à simples “preservação” ignorando o imenso potencial econômico e social associado à perpectiva de desenvolvimento sustentável e economia verde de baixo carbono para a qual o Brasil estaria particularmente bem posicionado, se para tanto fosse mobilizado. Um aspecto positivo foi a reafirmação de que o Brasil “não condicionará sua ação ambiental ao sucesso e ao cumprimento, por terceiros, de acordos internacionais”, uma referencia ao posicionamento do Brasil em relação às negociações do Clima, adotada a partir da COP-15, em Copenhagen, superando aquela visão tradicional capitaneada pelo Itamaraty. Isso resultou muito da pressão da sociedade civil mobilizada pelos verdes representada pela pré-candidatura de Marina Silva. O outro aspecto positivo vem embutido na menção de que: “as fontes de energia hídricas terão um grande incentivo, assim como as fontes alternativas: a biomassa, as eólicas e solar.” Elas vem no contexto de uma visão ufanista ("Fomos e seremos os campeões mundiais da energia limpa"). Temos de fato uma matriz energética relativamente limpa --que vem sendo “sujada” nos últimos anos pelas térmicas a carvão-- em função de nosso exuberante potencial hidroelétrico, mas o Brasil está longe ainda de ser, de fato, um “campeão mundial” em relação às energias alternativas. Embora sejamos o país do sol, por exemplo, a China, a Alemanha, o Japão e os EUA andam disparados à nossa frente em energia solar. Nossa performance nas outras fontes mencionadas, com exceção do etanol, ainda deixa muito a desejar.
Dilma ficou presa a uma visão limitada à simples “preservação” ignorando o imenso potencial econômico e social associado à perpectiva de desenvolvimento sustentável e economia verde de baixo carbono para a qual o Brasil estaria particularmente bem posicionado, se para tanto fosse mobilizado. Um aspecto positivo foi a reafirmação de que o Brasil “não condicionará sua ação ambiental ao sucesso e ao cumprimento, por terceiros, de acordos internacionais”, uma referencia ao posicionamento do Brasil em relação às negociações do Clima, adotada a partir da COP-15, em Copenhagen, superando aquela visão tradicional capitaneada pelo Itamaraty. Isso resultou muito da pressão da sociedade civil mobilizada pelos verdes representada pela pré-candidatura de Marina Silva. O outro aspecto positivo vem embutido na menção de que: “as fontes de energia hídricas terão um grande incentivo, assim como as fontes alternativas: a biomassa, as eólicas e solar.” Elas vem no contexto de uma visão ufanista ("Fomos e seremos os campeões mundiais da energia limpa"). Temos de fato uma matriz energética relativamente limpa --que vem sendo “sujada” nos últimos anos pelas térmicas a carvão-- em função de nosso exuberante potencial hidroelétrico, mas o Brasil está longe ainda de ser, de fato, um “campeão mundial” em relação às energias alternativas. Embora sejamos o país do sol, por exemplo, a China, a Alemanha, o Japão e os EUA andam disparados à nossa frente em energia solar. Nossa performance nas outras fontes mencionadas, com exceção do etanol, ainda deixa muito a desejar.
No seu discurso de posse, Dilma Rousseff perdeu a oportunidade de colocar claramente para a sociedade brasileiras os desafios enormes que tem pela frente nesse campo, e circunscreveu a questão ambiental, da sustentabilidade e da economia de baixo carbono, a um pé de página. O tom ufanista não rima com a estadista. O que desejamos-lhe sinceramente que possa vir a ser. Tem ainda tempo para assimilar os novos tempos e os novos desafios.
Parabens a brilhante exposicao de nosso Deputado Federal Alfredo Sirkis, que de forma harmonica e coerente posiciona-se, descrevendo os grandes potenciais brasileiros; assim como salvaguarda-se o nosso precioso e unico meio-ambiente.
ResponderExcluirSirkis e um politico de profundo conhecimento dos processos de interlocucao socio-politicos, pois sempre ateve-se, a visao clara da real da importancia de construir-se uma sociedade mais justa; concretando-se pilares como o ambiente e a redistribuicao socio-economica atraves de politicas publicas serias e coerentes de resgate social, com a conscientizacao do cidadao.
Prezado Deputado Sirkis
ResponderExcluirTambém gostei da leitura que V.S. fez do discurso da Dilma. Concordo que a presidente não demonstrou preocupação com a questão ambiental. Se o discurso reflete o que ela realmente pensa a respeito deste importantíssimo tema, então os interesses do setor produtivo prevalecerão sobre integridade da biodiversidade de todos os biomas deste imenso e glorioso país.
Se a região sul faz parte do Brasil, então a presidente que conhece bem o Sul não poderia afirmar que temos ‘’à matriz energética mais limpa do mundo’’, porque a queima do combustível fóssil carvão mineral em SC e no RS é considerada, até prova em contrário, a queima mais suja conhecida neste planeta, que infelizmente fazendo parte da matriz energética, inclusive recebendo incentivos estaduais e federais. A presidente Dilma também não considerou as tragédias do clima que estão acontecendo neste país, talvez porque não existe um ‘’Plano Nacional de Mudanças Climáticas’’ convincente e abrangente. Enfim, talvez a comunidade ambientalista brasileira precisa estar mais unida pra se fazer presente nos ‘’corações e mentes’’ dos governantes, tanto quanto faz a bancada ruralista e a frente parlamentar pró-carvão, por exemplo.
Tadeu Santos ONGSN
Araranguá - SC
Deputado. A campanha contra Belo Monte precisa de seu apoio.
ResponderExcluirhttp://www.avaaz.org/parebelomonte