Várias pessoas vêm me perguntando as razões da
minha não candidatura a prefeito ou a vereador nessas eleições. Ela tem a ver
com minha decisão já em 2014 de não me candidatar à reeleição como deputado
federal e a sair da política partidária/eleitoral. As razões são sempre as
mesmas ainda que mantenha um vínculo particularmente forte com os temas e problemas
de âmbito local.
O “x”
da questão é não tenho mais disposição
para “fazer política” como ela é atualmente no Brasil. Nacional ou local ela
depende dos partidos políticos e de um determinado sistema eleitoral que, por
sua vez, é condicionado (e condiciona) uma cultura política, relações e práticas que
depois de quase 30 anos de participação muito ativa me produziram aquele
sentimento de que “não dá mais”. Claramente careço de certos atributos
necessários a essa praxis. Pode ser
uma fase mas é o que sinto hoje.
Não vou aqui desfiar o rosário de minhas
frustrações politico partidárias nem de minhas decepções essa ou aquela pessoa.
O fato é que não tenho lugar no atual espectro político e, felizmente, isso
não mais me preocupa ou incomoda. Pelo contrário, tenho participado intensamente
de políticas públicas no âmbito local, nacional e internacional e com bons resultados:
recentemente contribui ativamente para organizar a campanha do Ratifica Já! que permitiu a ratificação
em tempo recorde pelo Brasil do Acordo de Paris sobre o Clima; no ano passado conseguimos
inserir o reconhecimento do valor social e econômico da redução de carbono na
Decisão de Paris (parágrafo 108), tenho
influenciado decisões diversas nacionais e locais e vejo projetos que iniciei
como as ciclovias, os reflorestamentos de encostas pela cidade, a revitalização
da área portuária frutificarem e se expandirem para novos patamares. Tudo isso
me deixa feliz. Não me incomoda que outros com mais ou menos mérito capitalizem
algumas das coisas que iniciei. É da vida, em gestão pública não tem direito
autoral.
No inglês, que é uma língua muito detalhista e
precisa, há uma distinção entre “policies”
(políticas públicas) e “politics”
(política partidária e eleitoral). Digamos que me sinto em paz, realizado e plenamente
partícipe das policies ainda que
frustrado, inconformado e, francamente, enojado pela politics. É claro, objetarão com razão, políticas públicas não
conseguem existir sem os espaços de poder que só a política partidária/eleitoral
é capaz de oferecer. Concordo e vivo
essa contradição para mim insolúvel no momento. A contribuição que posso dar atualmente não é
mais aquela de disputar tais “espaços” (candidatura, luta interna partidária por
poder burocrático) mas o de contribuir para a formação de lideranças jovens, em
todos os partidos e para construção de programas de sustentabilidade oferecidos
a todos candidatos. Como diz o Jorge Castañeda no seu livro de memórias dos
tempos de governo no México que li recentemente: “passou a bola embora não o
jogador”.
O atual sistema eleitoral brasileiro e a sua
cultura política produziram agremiações que vão do grotesco ao patético. Em
quase todas elas, no entanto, encontramos pessoas do bem portadoras de espírito público
e boas intenções (em geral com poder limitado). Com um leque delas agora posso
interagir livremente e compartilhar minhas experiências e ideias.
A situação política brasileira é hoje muito
preocupante dado o grau de frustração, rancor e polarização vigentes. No mundo todo
há uma ascensão preocupante da intolerância. Nossos problemas não vão se resolver
rapidamente e, a curto prazo, podem até mesmo se agravar. Confio, no entanto,
que uma nova geração irá se formar e que ela terá a chance de ser bom sucedida lá
onde tenhamos sido bloqueados e/ou fracassado.
A cidade do Rio de Janeiro, pela qual me
apaixono ontem, hoje e sempre continua a ser meu maior objeto de atenção. No
momento a melhor contribuição que posso dar como não-candidato é ajudar na
formação de quem o deseje e numa construção programática no campo da sustentabilidade.
Nossa cidade vem de um momento especial e vai enfrenar um outro não menos.
Existe um legado positivo e outro –agravado pela crise—que é preocupante e traz
consigo riscos consideráveis. A hora é de humildade, seriedade, solidariedade,
diálogo e entendimentos mínimos para evitar alguns riscos que são potencialmente
muito graves, haja visto o que sucede no
âmbito estadual e que afeta profundamente a Cidade.
Nesse momento, caros amigos (as) não estou na arena eleitoral mas certamente
disposto a continuar contribuindo com a energia, o entusiasmo e a criatividade de sempre. Oportunamente irei me posicionar em relação as
opções que temos no Rio. Continuo
acreditando que o sentido da política é: “organizar as pessoas para melhorar as coisas”
portanto diria, em bom carioquês: tamos aí!
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