11/12/2014

Instalou-se o fudevu na COP 20 (mas nossa proposta avançou um pouquinho)



(Lima) É comum nas COP mas dessa vez parece mais intenso: no penúltimo dia instala-se uma sensação aguda de impasse:  como que tudo e todos  imobilizados num pântano. Dessa vez é pior porque ao contrário de outros impasses como aquele ocorrido em Copenhagen a “encroa” aqui não é substantiva mas procedimental. Não conseguir chegar-se, sequer, a uma definição clara das divergências --que certamente existem e são muitas--  a coisa empacou ainda na fase ‘vamos discutir como discutir’.


 O presidente da COP 20, o peruano, Manuel Pulgar Vidal fez, no final da tarde de quinta-feira,  um discurso meio desesperado dando um monumental esporro num plenário repleto de delegações e agregados: “Não viemos a Lima apenas para experimentar nossa comida, nossas belezas e nossas praias” sentenciou no seu inglês meio atrapalhado.

 A situação do presidente de uma COP é sempre ingrata. É o primeiro a pagar o pato políticamente pelos fracassos. O polonês da COP 19, em 2013, foi exonerado durante a Conferência. É verdade que no bojo de uma reforma ministerial mais abrangente. De qualquer forma é um fato recorrente nas COP: o pobre do presidente corre sempre o grande risco ficar com fama de um pé frio climático.

 Quanto à nossa proposta da frase que marcará a gênesis do reconhecimento da redução de carbono enquanto valor social, econômico e financeiro conversível, deu-se uma aparente reviravolta positiva.  Graças aos valentes e persistentes esforços do ministro conselheiro Everton Lucero, voltou a ser incorporada ao texto base de discussão.

 Já a reunião que convoquei como presidente da Comissão Mista de Mudanças Climáticas do Congresso(CMMC) teve uma concorrência surpreendente tanto quantitativa como qualitativamente. Sala cheia –era das grandes--  e gente muito qualificada interessada perguntando, discutindo.  Na mesa comigo os professores Emilio La Rovere, Jean Charles Hourcade, Michele Stua e o próprio embaixador Marcondes. Logo depois, a partir de uma articulação nossa de ontem,  tivemos uma reunião com Al Gore da qual participaram também a ministra Isabela Teixeira e o nosso negociador chefe embaixador José Antônio“Gaúcho” Marcondes.

 Gore cultiva o little talk vai direto ao ponto, na jugular. Com ele não tem muita conversa.  Foi logo me bombardeando com perguntas incisivas sobre onde queríamos chegar, como funcionaria, tal e coisa. Ele gosta de testar as pessoas. Acho que segurei bem o tranco e as explicações o sensibilizaram. Gostou da ideia e vai apoia-la. Com sua equipe já estamos estruturando um desdobramento para o Rio, em Março.

 A ideia vai fazendo seu caminho que será longo e sinuoso. Já COP 20 como um todo ainda não disse a que veio. Mas já vi esse filme antes: amanha será o desespero total, todo mundo virando noite até sábado,  quiça domingo,  e afinal, por pura exaustão, com parte das delegações já pegando o avião,  um texto aparecerá com alguns avanços incrementais deixando um monte de coisas para as reuniões “técnicas” de 2015. A tarefa de discutir como se vai discutir em Paris progredirá um pouquinho na undécima hora. E ficará esse copo, meio cheio, meio vazio, como de hábito nesse fórum que  cultiva a quadratura do círculo do consenso entre 194 governos.

 Semre acaba de um modo conseguindo, isso. Muito embora esse consenso fique sempre muito aquém da solução de um problema cada dia mais urgente e dramático.

 Eis o texto do nosso sumário sobre a proposta brasileira de atribuiçãoo de valor econômico à redução de carbono que redigi em nome da CMMC e que serviu de convocatória à reunião temática que fizemos:

The Brazilian delegation has proposed the following paragraph to ADP Draft Decision, related to the concept of  ‘positive carbon pricing of carbon reduction’ developed in civil society think tanks, academia and supported by a Congressional resolution before being officially adopted by our government:

 Recognizes the social and economic value of emissions reduction and the need to consider them as units of convertible financial value.”

 This is a first step in an innovative path to price carbon reduction and therefore create a more favorable enabling environment context for the transition to low carbon economies. The 450ppm/2 degree paradigm will not be achieved in the present global economic/financial context, indifferent if not obstructive to effectively deal with the climate issue. At present there are no adequate incentives to mobilize the enormous amount of resources available in the financial markets while governments struggle with huge debts and persistent deficits.

  The figures presently being mentioned at the UNFCCC are scarcely relevant compared to what is needed. Taxing carbon is very important but also quite difficult on the national level (Australia, France…) and especially in the UNFCCC context. But recognizing social and economic value of carbon reduction and establishing mechanisms to provide it with market financial value as a potential convertible currency under given conditions is an approach that deserves consideration.

 Since the Stern Report the global economic loss due to climate change has been clearly quantified. There can be some accounting variations but it is clear at this time that the economic value of a ton worth carbon equivalent reduction can be quantified and agreed upon as well as the mechanisms to make ‘positive pricing’ operate as a tool to boost carbon reduction efforts. The purpose of the Brazilian proposal at this time, in Lima, is just to establish this principle: carbon reduction has economic value. This acknowledgment has robust social consequences. To be effective it has to be translated into financial convertibility under given conditions.

 What are the possible mechanisms of implementation?  Initially we have examined two:

1 – Rewarding early and additional action with a ‘climate currency’ that could be used exclusively to purchase technology, services and products promoting subsequent carbon reductions.

 This is a way to stimulate more ambition: anticipate carbon reduction targets and/or reduce carbon emission beyond the internationally assumed new goals to be established.  This mechanism is to be agreed upon and implemented after the COP 21 in Paris, in 2015.

  Its establishment demands a lot of technical work and negotiations so Brazil has suggested a Technical Expert Meeting in the first semester of 2015 to initiate this construction. Some questions to be answered: What kind of fund will be constituted?  Can it be linked to the GCF? Can a fraction of the ‘reward’ be invested also in adaptation? What kind of differentiation should be established for different kinds of carbon reduction goals (aggregate, carbon intensity, deviation from BAU curve)? What kind of differentiation among the various mitigation actions? Could this mechanism be used in the future for carbon reduction reward on a sub-national level as well?  These and other questions will be clarified by technical work and negotiation among parties.

 What this mechanism is not: it is not a way of offsetting future mitigation tasks or promoting any kind of double accounting for mitigation. Our purpose is clear: 1 – to stimulate further ambition 2 – to be a first step in the path of positive carbon reduction pricing.

2 –  Converting climate reduction into currency.

 We have acknowledged with great interest ideas developed by professors Jean Charles Hourcade, Michel Alietta, Baptiste Perrissin-Fabert as well as Michele Stua who are working on innovative paths to develop mechanisms of implementation of the principle of ‘positive pricing of carbon reduction’. This mechanism at is present stage of development conceives massive low carbon investments though a kind of  targeted ‘quantitative easing’

 Avoiding detailed explanations at this time, let us just imagine: a group of willing governments provides guaranties for a specific level of carbon assets. A pool of Central Banks, the IMF or a new multilateral institution/coalition of institutions opens credit lines for the reimbursement of credits to banks and other financial institutions loans for carbon reduction investments. The investor reimburses the banks with carbon reduction certificates. These are accepted as convertible assets by the pool.

 This mechanism differently from the first one would operate vastly outside the UNFCCC context. Nevertheless the acknowledgment of the principle proposed by Brazil would help to give birth to it. The presence of willing governments and central banks offering guaranties would help to bring in resources from the global financial system. There is a certain analogy to the gold value established in Bretton Woods, from 1944 up to 1971. Metaphorically one could say carbon reduction thus becomes the new gold value.

 The capacity of the UNFCCC of opening it self for innovative approaches is vital if we are ever to tackle seriously the transition to low carbon economies in order to achieve the 450 ppm/2 degree paradigm.


The Climate Change Joint Commission of Brazilian Parliament (CMMC)

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