(Lima) É comum nas
COP mas dessa vez parece mais intenso: no penúltimo dia instala-se uma sensação
aguda de impasse: como que tudo e todos imobilizados num pântano. Dessa vez é pior
porque ao contrário de outros impasses como aquele ocorrido em Copenhagen a
“encroa” aqui não é substantiva mas procedimental. Não conseguir chegar-se,
sequer, a uma definição clara das divergências --que certamente existem e são
muitas-- a coisa empacou ainda na fase
‘vamos discutir como discutir’.
O presidente da COP
20, o peruano, Manuel Pulgar Vidal fez, no final da tarde de quinta-feira, um discurso meio desesperado dando um
monumental esporro num plenário repleto de delegações e agregados: “Não viemos
a Lima apenas para experimentar nossa comida, nossas belezas e nossas praias”
sentenciou no seu inglês meio atrapalhado.
A situação do presidente
de uma COP é sempre ingrata. É o primeiro a pagar o pato políticamente pelos
fracassos. O polonês da COP 19, em 2013, foi exonerado durante a Conferência. É
verdade que no bojo de uma reforma ministerial mais abrangente. De qualquer
forma é um fato recorrente nas COP: o pobre do presidente corre sempre o grande
risco ficar com fama de um pé frio climático.
Quanto à nossa
proposta da frase que marcará a gênesis do reconhecimento da redução de carbono
enquanto valor social, econômico e financeiro conversível, deu-se uma aparente
reviravolta positiva. Graças aos
valentes e persistentes esforços do ministro conselheiro Everton Lucero, voltou
a ser incorporada ao texto base de discussão.
Já a reunião que
convoquei como presidente da Comissão Mista de Mudanças Climáticas do
Congresso(CMMC) teve uma concorrência surpreendente tanto quantitativa como
qualitativamente. Sala cheia –era das grandes--
e gente muito qualificada interessada perguntando, discutindo. Na mesa comigo os professores Emilio La
Rovere, Jean Charles Hourcade, Michele Stua e o próprio embaixador Marcondes. Logo
depois, a partir de uma articulação nossa de ontem, tivemos uma reunião com Al Gore da qual participaram
também a ministra Isabela Teixeira e o nosso negociador chefe embaixador José
Antônio“Gaúcho” Marcondes.
Gore cultiva o little talk vai direto ao ponto, na
jugular. Com ele não tem muita conversa. Foi logo me bombardeando com perguntas
incisivas sobre onde queríamos chegar, como funcionaria, tal e coisa. Ele gosta
de testar as pessoas. Acho que segurei bem o tranco e as explicações o
sensibilizaram. Gostou da ideia e vai apoia-la. Com sua equipe já estamos
estruturando um desdobramento para o Rio, em Março.
A ideia vai fazendo
seu caminho que será longo e sinuoso. Já COP 20 como um todo ainda não disse a
que veio. Mas já vi esse filme antes: amanha será o desespero total, todo mundo
virando noite até sábado, quiça
domingo, e afinal, por pura exaustão,
com parte das delegações já pegando o avião,
um texto aparecerá com alguns avanços incrementais deixando um monte de
coisas para as reuniões “técnicas” de 2015. A tarefa de discutir como se vai
discutir em Paris progredirá um pouquinho na undécima hora. E ficará esse copo,
meio cheio, meio vazio, como de hábito nesse fórum que cultiva a quadratura do círculo do consenso
entre 194 governos.
Semre acaba de um
modo conseguindo, isso. Muito embora esse consenso fique sempre muito aquém da
solução de um problema cada dia mais urgente e dramático.
Eis o texto do nosso
sumário sobre a proposta brasileira de atribuiçãoo de valor econômico à redução
de carbono que redigi em nome da CMMC e que serviu de convocatória à reunião
temática que fizemos:
The Brazilian delegation has
proposed the following paragraph to ADP Draft Decision, related to the concept
of ‘positive carbon pricing of carbon
reduction’ developed in civil society think tanks, academia and supported by a
Congressional resolution before being officially adopted by our government:
“Recognizes the social and economic value of emissions reduction and
the need to consider them as units of convertible financial value.”
This is a first step in an innovative path to
price carbon reduction and therefore create a more favorable enabling
environment context for the transition to low carbon
economies. The 450ppm/2 degree paradigm will not be achieved in the present
global economic/financial context, indifferent if not obstructive to
effectively deal with the climate issue. At present there are no adequate
incentives to mobilize the enormous amount of resources available in the
financial markets while governments struggle with huge debts and persistent
deficits.
The figures
presently being mentioned at the UNFCCC are scarcely relevant compared to what
is needed. Taxing carbon is very important but also quite difficult on the
national level (Australia, France…) and especially in the UNFCCC context. But recognizing social and economic value of
carbon reduction and establishing mechanisms to provide it with market financial
value as a potential convertible currency under given conditions is an approach
that deserves consideration.
Since the Stern Report the global economic
loss due to climate change has been clearly quantified. There can be some
accounting variations but it is clear at this time that the economic value of a
ton worth carbon equivalent reduction can be quantified and agreed upon as well
as the mechanisms to make ‘positive pricing’ operate as a tool to boost carbon
reduction efforts. The purpose of the Brazilian proposal at this time, in Lima,
is just to establish this principle: carbon
reduction has economic value. This acknowledgment has robust social consequences.
To be effective it has to be translated into financial convertibility under
given conditions.
What are the possible mechanisms of
implementation? Initially we have
examined two:
1 – Rewarding early and additional action with a ‘climate currency’ that
could be used exclusively to purchase technology, services and products
promoting subsequent carbon reductions.
This is a way to stimulate more ambition:
anticipate carbon reduction targets and/or reduce carbon emission beyond the
internationally assumed new goals to be established. This mechanism is to be agreed upon and
implemented after the COP 21 in
Paris, in 2015.
Its establishment demands a lot of technical work and negotiations so
Brazil has suggested a Technical Expert Meeting in the first semester of 2015
to initiate this construction. Some questions to be answered: What kind of fund
will be constituted? Can it be linked to
the GCF? Can a fraction of the ‘reward’ be invested also in adaptation? What
kind of differentiation should be established for different kinds of carbon
reduction goals (aggregate, carbon intensity, deviation from BAU curve)? What
kind of differentiation among the various mitigation actions? Could this
mechanism be used in the future for carbon reduction reward on a sub-national
level as well? These and other questions
will be clarified by technical work and negotiation among parties.
What this mechanism is not: it is not a way of offsetting future mitigation tasks or
promoting any kind of double accounting for mitigation. Our purpose is clear: 1
– to stimulate further ambition 2 – to be a first step in the path of positive
carbon reduction pricing.
2 – Converting climate reduction
into currency.
We have acknowledged with great interest ideas
developed by professors Jean Charles Hourcade, Michel Alietta, Baptiste
Perrissin-Fabert as well as Michele Stua who are working on innovative paths to
develop mechanisms of implementation of the principle of ‘positive pricing of
carbon reduction’. This mechanism at is present stage of development conceives
massive low carbon investments though a kind of
targeted ‘quantitative easing’
Avoiding detailed explanations at this time,
let us just imagine: a group of willing governments provides guaranties for a
specific level of carbon assets. A pool of Central Banks, the IMF or a new
multilateral institution/coalition of institutions opens credit lines for the
reimbursement of credits to banks and other financial institutions loans for
carbon reduction investments. The investor reimburses the banks with carbon
reduction certificates. These are accepted as convertible assets by the pool.
This mechanism differently from the first one
would operate vastly outside the UNFCCC context. Nevertheless the acknowledgment
of the principle proposed by Brazil would help to give birth to it. The
presence of willing governments and central banks offering guaranties would
help to bring in resources from the global financial system. There is a certain
analogy to the gold value established in Bretton Woods, from 1944 up to 1971.
Metaphorically one could say carbon reduction thus becomes the new gold value.
The capacity of the UNFCCC of opening it self
for innovative approaches is vital if we are ever to tackle seriously the
transition to low carbon economies in order to achieve the 450 ppm/2 degree
paradigm.
The Climate Change Joint Commission of Brazilian
Parliament (CMMC)
Nenhum comentário:
Postar um comentário