Conforme eu previa no blog anterior, a COP 20 ia acabar varando madrugada até domingo já
completamente fora do prazo. Ontem a noite, ao pegar o avião de volta para o
Rio, a discussão sobre como se discutirá em Paris ainda prosseguia e o pobre do
ministro peruano Pulagar Vidal ia à loucura. Penso que no domingo dois dias
depois do final oficial da COP vai sair um documento com pequenos avanços
incrementais em relação ao processo preparatório para Paris 2015. Ano que vem haverá pelo menos quatro reuniões “técnicas” preparatórias. A
primeira em fevereiro, em Genebra. Essa localização é um bom sinal porque um dos absurdos do processo negociador da UNFCCC é ele durar menos de um mês
por ano. Duas semanas durante as COP, no final do ano, e mais uns oito dias em duas
reuniões, em Bonn, em geral em abril e
junho.
A negociação
climática deveria ser permanente como várias da ONU o são. Só que em Bonn não há
infraestrutura de delegações permanentes dos países membros. Sediar a UNFCCC na
antiga capital da Alemanha Ocidental foi uma decisão política de prestígio. Em
2013, nossa comissão parlamentar aprovou uma resolução encaminhada ao Itamaraty (sugerida
pelo próprio ministério) a ser encaminhada à UNFCCC propondo estabelecimento de um
processo negociador permanente, em Genebra, onde todos países têm escritórios permanentes.
Naturalmente os alemães não gostam da ideia mas o fato de uma reunião ter
sido marcada para Genebra, no início de 2015, mostra que começa-se a pensar
nisso.
Claro, a
desfuncionalidade da negociação climática da ONU não é culpa apenas desse fato
que no contexto mais geral acaba sendo até secundário. Eu citaria vários outros
problemas ainda mais graves: falta de sentido de urgência, uma mentalidade
negociadora de rodada comercial, politicagem e jogo ‘para plateia’, ilusão de
que a ONU tem o condão de fazer valer medidas de comando/controle, etc…
Numa COP se fazem presentes milhares de pessoas entre cientistas, ativistas, líderes políticos, lideres de movimentos sociais, lideranças governamentais, no plano nacional, regional e local, personalidades mas a negociação propriamente dita é feita por um núcleo duro de diplomatas e técnicos que já fazem isso há mais de duas décadas e se sentem “donos” do processo.
A maioria dos chefes de estado pouco entende do assunto e fica na mão desses caras. São quem domina o linguajar, os “tracks” (as pistas de negociação) e que podem ficar dias discutindo bizantinamente uma virgula ou um colchete. Embora haja nesse meio quadros brilhantes sua postura, em geral, é conservadora, bacharelesca, vaidosa.
RESISTENCIA À INOVAÇÃO
Numa COP se fazem presentes milhares de pessoas entre cientistas, ativistas, líderes políticos, lideres de movimentos sociais, lideranças governamentais, no plano nacional, regional e local, personalidades mas a negociação propriamente dita é feita por um núcleo duro de diplomatas e técnicos que já fazem isso há mais de duas décadas e se sentem “donos” do processo.
A maioria dos chefes de estado pouco entende do assunto e fica na mão desses caras. São quem domina o linguajar, os “tracks” (as pistas de negociação) e que podem ficar dias discutindo bizantinamente uma virgula ou um colchete. Embora haja nesse meio quadros brilhantes sua postura, em geral, é conservadora, bacharelesca, vaidosa.
RESISTENCIA À INOVAÇÃO
A nossa proposta de
reconhecimento da redução de carbono como valor econômico despertou grande
interesse e pode se dizer que a partir de Lima estará na agenda das discussões
climáticas, mas acabou ficando de fora, no limbo textual pois decidiram
descartas “coisas novas” que “não estão na linha direta do que estamos
discutindo agora”. Isso no que pese o esforço de nossa delegação, em particular
do ministro-conselheiro Everton Lucero que colocou-a duas vezes na pauta.
Chegou a entrar e sair sucessivamente. Acabou de fora quando decidiram “enxugar”
os pontos a serem tratados em Lima. É curioso porque o Workstream 2 foi criado,
em Durban, justamente para acolher ideias inovadoras “fora da caixa”.
A discussão que
levantamos voltará com mais intensidade no próximo ano. Como dizem os
franceses: chassez le naturel, voilà qu’il
revient à galop (enxote o que é natural e ele voltará a galope).
A TRANSIÇÃO PARA ECONOMIAS DE BAIXO CARBONO
A TRANSIÇÃO PARA ECONOMIAS DE BAIXO CARBONO
A ação diplomático sob a Convenção do Clima,
que dependerá sempre do consenso de 194 governos está mergulhada num clima de
apreensão e de ceticismo. O processo da UNFCCC é um mínimo denominador comum. A
COP 21, em Paris, no próximo ano, certamente apresentará alguns avanços
incrementais mas não conseguirá obrigar os governos a cortar emissões de gases
estufa na intensidade que a ciência
demanda. Mesmo nos melhores cenários restará uma considerável distância entre o
máximo que os governos são capazes de acordar entre si e o mínimo necessário
para o garantir que a temperatura média do planeta nesse século não ultrapasse os
2 graus. Construído esse mínimo denominador comum, diplomático, caberão ainda duas ações decisivas para uma
última chance numa exígua “janela de oportunidade” de não mais que 15 anos. A
primeira delas é uma concertação entre países grandes emissores para atuações
conjuntas adicionais. A China e os EUA acabam de dar um primeiro passo nesse
sentido, insuficiente mas promissor. A segunda ação é o desenho de um pano de
fundo financeiro internacional amigável à transição. Uma espécie de “Bretton
Woods do baixo carbono”.
A evocação metafórica da conferência de 1944
que instituiu o sistema econômico internacional contemporâneo não vale ao pé da
letra. A atualidade não comporta mais uma construção exclusivamente de governos
sob a hegemonia dos EUA. Precisa envolver organismos multilaterais, bancos centrais, grandes empresas transnacionais e, sobretudo, sistema
financeiro internacional, além da sociedade civil global. O objetivo é estabelecer
uma nova ordem financeira internacional em torno de uma convenção básica: o reconhecimento
da redução de carbono como unidade de valor financeiro conversível: uma
“precificação positiva” da redução de carbono. Não menos importante seria sua
taxação, em si, sua “precificação negativa”, mas politicamente a primeira parece nesse
momento mais factível que a segunda e
não há tempo a perder.
O Brasil
deu um passo nesse sentido ao submeter à Conferência de Lima, uma proposta originária
da nossa Comissão de Mista de Mudanças Climáticas que, entre outras disposições,
declara o “valor social da redução de carbono” e afirma que a mesma constitui “um valor
financeiro conversível” a ser convencionado a partir da estimativa das perdas
econômicas projetadas em consequência de emissões futuras num cenário que
mantivesse a curva de projeção atual. Essas perdas conforme demostra o
Relatório Stern, seriam imensas, superariam de longe todo investimento
necessário para a transição. Elas são
perfeitamente quantificáveis.
A grande questão subjacente a todo debate
climático atual é: como financiar uma
revolução energética que demandará globalmente um trilhão de dólares por ano?
Os governos com déficits, endividamento e reservas limitadas não dispõem desses
recursos. Financia-la dependerá de taxar
as emissões de carbono --substituindo outros tributos-- e/ou
de “precificar positivamente” a redução dessas emissões. O sistema financeiro
internacional gira mais de duzentos trilhões de dólares. Existe no mundo
excesso de liquidez que pouco irriga a economia produtiva global. Essa situação
é propícia às “bolhas” e crises como a de 2008. O desafio é atrair uma parte
que seja desse capitais para investimentos produtivos de baixo carbono capazes
de garantir um novo ciclo de crescimento inovador e gerador de empregos. Para
tanto é preciso reconhecer a redução de
carbono como lastro com um papel que lembra um pouco o “padrão ouro” instituído
em Bretton Woods e vigente até os anos 70. Os efeitos serão benéficos não
apenas ao clima como à macroeconomia global na sua busca de um novo ciclo
produtivo.
Entender como a questão climática pode
interagir com a economia mundial para gerar um novo ciclo para a transição
produtiva para economias de baixo carbono é um tema que veio para ficar.
Cenas da COP 20 de Lima:
Protesto |
Delegação brasileira |
A ministra do meio ambiente Izabella Teixeira e o negociador chefe Embaixador José Antônio Marcondes |
O presidente da COP o ministro peruano Pulgar Vidal |
Na hora que eu estava saindo da COP, o quase pos-festum... |
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