É como se a crise climática –ontem tivermos novamente um terrível furação nas Filipinas—fosse uma realidade distante e o que importasse fossem os pequenos ganhos de prestígio ou posicionamento que cada país persegue. País? Quero dizer delegação, equipe profissional que já faz isso há umas duas décadas, tem seus especialistas especializados (e viciados) nas formas, códigos e linguagens que estão acostumados numa relação quase pavaloviana com seus pares rivais-parceiros. Assim são todas as COPs assim funciona (ou desfunciana) o sistema ONU.
O Brasil havia apresentado duas propostas: a dos “círculos concêntricos”, uma forma de começar a revisão do conceito obrigações comuns mas diferenciadas superando a insustentável noção de que só os desenvolvidos deveriam ter metas de redução de emissões no agregado, sem parecer que se está fazendo isso. Algo razoável, no entanto. A segundo, essa realmente inovadora, é aquela da ‘precificação positiva da redução de carbono” da qual participamos ativamente e que comentei aqui no blog anterior.
Como já era esperado ela está encontrando uma resistência difusa. Alguns identificam uma oposição “dos americanos”. Minha impressão que é uma questão muito mais cultural que propriamente política. Diria micro-cultural. Na pequena cultura negociadora do sistema UNFCCC a proposta cria problemas. Dá trabalho, promete encrenca futura. Logo melhor não... Pensar fora da caixa ou melhor fora dos tracks, das pistas de negociação clássicas é incômodo. E não trata-se só de delegações e burocratas da ONU. Há gente de ONGs tão conservadora quanto. Que pretende o Brasil? O que há por trás disso? O que estão armando?
Mas o contingente de gente aqui na COP que percebeu que por aí temos um caminho, que é imperativo reconhecer o valor social, econômico e a conversibilidade financeira, a sério, da redução de carbono é cada dia maior. Assim penso que mais cedo ou mais tarde, amanhã, depois ou na outra conseguiremos avançar. Vamos ver se o Al Gore consegue nos ajudar com os gringos e se as ONGs acabam por se mobilizar a favor. E se nossa imprensa acaba por descobrir o assunto, os coleguinhas tão interessados nas firulas formais da negociação que seus editores irão descartar por completo desinteresse...
Amanhã começa a revoada dos ministros e outras personalidades. Vão chegar, perceber que nada avançou e começar a cobrar. Aí os profissionais da negociação climática vão se trancar insones para intermináveis negociações, parar o relógio no sábado e, afinal, aparecer com algum avanço incremental muito aquém naturalmente do mínimo necessário depois da undécima hora.
E as novas reuniões preparatórias serão marcadas para a COP 21, Paris, 2015. Onde haverá mais avanços aquém do necessário mas que, não obstante, serão o mínimo denominador comum sobre o qual haverá que se construir, fora desse sistema tudo que ficar faltando. Entre outras coisas um contexto financeiro favorável à transição para a economia de baixo carbono e a adaptação as vindouras tempestades.
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