Hoje, sábado, vou tratar de um tema banal --aposto que vai fazer mais sucesso que meus posts sobre soluções para o aquecimento global-- objeto de ásperas polêmicas domésticas com minha amada mulher, diretora de arte e, eventualmente, personal stylist Ana Borelli. Aliás, também com minha filha Anna Syrkis, lá de LA já me manifestou idêntica posição. Posição essa que, aliás, segundo dizem, já mobilizou, para lá das Anas, amplas maiorias nas redes sociais.
Sei perfeitamente que minha posição é humilhantemente minoritária. É mais ou menos como minha postulação pela permanência do voto obrigatório a favor do voto distrital misto que poucos entendem direito. Eu minoritário contra ventos e marés! Contra esmagadoras maiorias! Uma defesa convicta de uma visão fortemente impopular. Estigmatizada. Coragem política ou temosia cafona ??? Eis a questão...
Amigos(as) queridos (as) estou me referindo nada mais nada menos que ao ora famigerado croc. Isso mesmo, o croc, aquele pisante cujo nome se inspira no crocodilo (nosso bom e velho jacaré) embora lembre mais o hipopótamo. Feio pra chuchu, gordinho com uns furinhos esféricos faz aquele barulhinho chato quando a gente anda: croq, corq, croq!
Tenho dois pares: um azul marinho, em Brasília e outro bege (pode ser acusado de caqui) aqui no Rio. Na clandestinidade do fundo de armário. Vivo com medo de um dia procura-lo e descobrir que foi assassinado, ou melhor, enviado para reciclagem de resíduos sólidos, dessa para melhor, pela minha amada personal stylist...
Data vênia, meritíssimo! O que tenho a dizer em defesa do croc?
Em primeiro lugar a segurança, senhores do júri! Sou um cara grandão, razoavelmente desajeitado, calço 43/44 (menos portando que nosso governador) e vivo dando topadas dentro e fora de casa. No pé da mesa, no pé do sofá, no pé da cama, no canto da porta entreaberta, por aí vai. Não há sensuais e pictóricas sandálias Havainas que me protejam contra a pedra portuguesa solta na calçada da praia, o coco que alguém deixou na areia, o frade esférico da Ataúlfo de Paiva que não costumo ver do alto dos meus 1.87 ou aquele buraco que aleijou o guarda não sei aonde. Nessa hora, senhores e senhoras, tan, tan, tan, tan, é o meu croc me protege! A pedra no caminho da praia, o pé do sofá da sala, a porta entreaberta, tudo fica reduzido a um leve impacto indolor amortecido pelo mais seguro dos pisantes ventilados que a humanidade já concebeu desde o tempo das cavernas.
Em segundo lugar, senhoras do júri, o conforto. Já tive lindíssimas sandálias de couro artesanais, daquelas que a gente compra nos mercados populares do nordeste. Além dos passos serem duros com se estivesse pisando direto no granito logo pintava aquela esfoladinha desagradável no dedão e/ou no calcanhar que nenhum band aid ou esparadrapo resolverá a contento. O croc posso usar com ou sem aquela tira para o calcanhar. E sempre que optei pelo primeiro arranjo a verdade é que jamais, repito, jamais, me provocou esfolado ou bolha no calcanhar ou tendão de Aquiles. Nunquinha da Silva.
Finalmente, amigos(as) a versatilidade! Me recordo uma vez numa praia em Alagoas, precisava atravessar um mar raso com um monte de pedras cheias de ouriços com uns espinhaços negros --assustadores, pontudos feito o diabo—no fundo, para depois chegar numas piscinas naturais, onde podia prosseguir a nado. Me lembro igualmente de umas cachoeiras onde precisava também, primeiro andar na pedra e, depois, alternar nado e caminhada num rio de fundo todo cheio de pedras, paus, raízes e areia. Qual outro pisante seria capaz de defender meus grandes pés por esses perigos ecológicos? Nem preciso nomeá-lo nessas alturas, meritíssimo.
Mas tá certo, meu amor, não precisa fazer bulling doméstico comigo, prometo: croc para ir ao cinema, nunca mais!
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