27/04/2014

As UPP e seus limites


A morte de DG aparece como mais erro terrível da PM. A versão que me parece a mais viável de ter acontecido e a de que foi alvejado quando saltava pelos telhados por ter sido confundido com um dos traficantes que trocava tiros com a polícia. Não se pode excluir outras versões mas essa parece a mais plausível. A policia só deve fazer uso de força letal quando estiver sob ameaça e mesmo se fosse um traficante fugindo não há justificação pata alvejá-lo pelas costas ainda mais quando não havia armamento visível com ele. 

O porquê fugia pelos telhados é uma outra questão que deve ser apurada sem prejulgamentos. 

Esse incidente fornece mais munição para a forte campanha política contra as UPP cuja importância para o Rio não pode ser anulada por erros ou até crimes de alguns de seus PMs. 

Quem está fazendo campanha contra as UPP? De um lado a extrema-esquerda, porque têm uma visão ideológica dos bandidos como "vitimas da sociedade", muito embora a visão de mundo deles seja tudo menos "de esquerda": são ferozmente ultra-consumistas, tribalistas e fascistóides. Exercem uma ditadura feroz sobre as áreas que controlam. Do outro temos políticos que querem ajustar contas com a atual administração estadual e a fazer fracassar completamente mesmo lá onde promoveu inegáveis avanços como são as UPP. 

Temos que entender seus limites: as UPP servem simplesmente para privar o narcovarejo daquele controle territorial militar, ostensivo, que exercia. Não são a panacéia de todos os males e perigos da segurança no Rio! 

A dificuldade atual das UPP vincula-se à força social da economia das drogas. Ao "x" do problema das drogas. Um problema muito maior do que serem substancias nocivas à saúde. O problema efeitos nocivos das drogas sobre a saúde é dos drogados. Já o problema da economia das drogas é da sociedade como um todo. Provoca esse morticínio incessante, corrompe as instituições e suscita uma infinidade de outros conflitos que se espalham por dentro da sociedade como um câncer.

Nas comunidades com UPP há uma parcela minoritária mas nada desprezível que se beneficia direta ou indiretamente do movimento econômico gerado pelo tráfico: os "aviões", os fogueteiros, as embaladoras, o moto-delivery e, até, toda uma produção cultural e de entretenimento associada à "mística" tribal do narcovarejo.

O grande problema não é propriamente a falta de "ação social". Diversas das favelas em questão receberam muitas melhorias nos últimos vinte anos, tiveram uma considerável explosão de consumo e possuem serviços razoáveis. Ainda assim a perda da movimentação econômica e certas restrições como aos bailes funk provocam um descontentamento agudo que aparece nessas manifestações de rua que o tráfico apreendeu a fomentar sistematicamente com quebra-quebras e incêndios de ônibus. 

O tráfico na favela segue existindo, embora não tão ostensivo, simplesmente porque há e haverá mercado! 

Nesse ponto a UPP cai na grande armadilha e dilema da pacificação. Continuar reprimindo o tráfico num "enxugar gelo" diário, impossível de vencer e multiplicador de conflitos? Fazer vista grossa, em geral associada ao famoso "arreglo"? 

Esse é um dilema sem solução se mantido o atual paradigma em relação a questão das drogas e que há mais de vinte anos me faz --não obstante sua eventual repercussão eleitoral negativa-- defender sua legalização como mal menor. Me parece a única forma de liquidar liquidar radicalmente a melhor fonte logística da criminalidade violenta e reduzir drasticamente o morticínio, a entropia e a corrupção policial associada ao "arreglo". 

Ainda outro aspecto é o despreparo da polícia nenhuma UPP não resolve apesar do seu adestramento especifico. Não poder ter qualidade uma PM com escala de 24 horas de serviço por 48 de suposto descanso que é quando o policial exerce uma segunda profissão --em geral na segurança particular-- que acaba sendo melhor remunerada e relega a atividade policial ser o verdadeiro "bico". 


Sem enquadramento institucional rigoroso, adestramento permanente e valorização profissional e salarial vinculada a uma dedicação exclusiva, de fato, não há chance alguma para uma melhoria da qualidade da nossa polícia. Tudo isso deveria ser ser um consenso suprapartidário junto com um compromisso de não utilizar o drama da segurança como arma de campanha política, nem a favor, nem contra esse governo ou o próximo. Vamos fazer da questão da segurança território livre de manipulações políticas sejam quais forem!


Um comentário:

  1. Esse é o Sirkis que admiro, não aquele do PSB, que é do foro de São Paulo. Não aquele que abandonou os verdes e o suspiro de esperança que nos enchia de vontade de acreditar que as coisas ainda poderiam dar certo, através de uma ótica moderna e um jeito de fazer política diferente, dinâmico e original pra seguir com Marina e sua pouca vontade para com alguns temas fundamentais como as drogas, o aborto, a liberdade religiosa e sexual das pessoas. Volte logo, Sirkis!

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