12/02/2014

Violência, mídia e terrorismo

 Há uma discussão interessante na Rede em consequência do incidente envolvendo a morte do cinegrafista da Band e de sua cobertura na imprensa e TV. Vejo uma  ênfase num desdobramento do fato que foi um noticiário jornalisticamente precipitado e leviano envolvendo o deputado Marcelo Freixo, do PSOL, a partir de declarações confusas do advogado de um dos acusados.  Uma parte dos debatedores decidiu priorizar a solidariedade com o parlamentar visto com alvo de uma manipulação de natureza conspirativa.

 Não vamos bancar as avestruzes, tapar o sol com a peneira e achar que o fato politico-jornalistico que irá pautar a opinião pública (e não apenas a publicada) é isso e não o drama na Central do Brasil, em si. Na minha opinião a ênfase deveria ser a condenação da violência dos Black Blocks e similares que desmobilizaram o grande movimento de massas da sociedade que aconteceu em junho de 2013.

 Não me parece, a princípio,  que o episódio envolvendo o parlamentar seja fruto de uma deliberada campanha de manipulação conta ele que noutras ocasiões teve espaço positivo nesse sistema de mídia. Alias,   a primeira "barriga" da Globo foi em sentido inverso. O Jornal Nacional chegou a atribuir  à PM a explosão que matou o cinegrafista. Logo o próprio William Bonner reconheceu  erro e pediu desculpas. 

 O  fato político e jornalístico é a morte do cinegrafista Santiago Andrade da Band, resultante de um ato violento dos Black Blocks ou similares. É significativo que a primeira morte, não acidental,  do ciclo de rua  que se iniciou em junho 2013 tenha sido resultante de violência,  não da policia, apesar de sua frequente truculência e despreparo, mas dessa franja violenta de manifestantes com a qual alguns são tão condescendentes. 

  Começa a haver, de fato,  uma enorme má vontade e revolta de inúmeros jornalistas contra a franja violenta --e todos que com ela condescendem--  até por uma razão muito simples: os repórteres vem sendo sistematicamente ameaçados e frequentemente agredidos por esses supostos "ativistas autorais" fascistóides.  Atualmente o segmento jornalístico os considera tão ou mais perigosos que a policia embora, estatisticamente,  a maioria das agressões aos profissionais de imprensa  ainda seja dela.

 Não é bom cair na tradicional paranoia de esquerda que atribui qualquer matéria (ou mesmo notinha) a uma conspiração de forças poderosas ou ocultas… quase sempre o jornal é feito pelos profissionais que o redigem com os editores cortando aqui e ali, dispondo na página e fazendo as manchetes e legendas de foto, com muito raras ingerências dos donos,  ao contrário dos tempos do Dr Roberto. 


Gostaria de enfatizar  o perigo de uma “legislação de pânico” anti-terrorista a pretexto do ocorrido. Penso que é necessária uma legislação que defenda mais eficazmente a sociedade do terrorismo, por um lado,  e da violência de rua gênero Black Block, por outro, mas sem confundir alhos com bugalhos pois são coisas diferentes.

 A tipificação do terrorismo no projeto em discussão no Senado “provocar ou difundir o terror ou pânico generalizado mediante ofensa ou tentativa de ofensa à vida, à integridade física ou saúde ou a privação da liberdade das pessoas” é obtusa e pode levar a absurdos que podemos imaginar facilmente. A rigor,  defesa da legalização do aborto poderia ser enquadrada como “ofensa à vida”? Um programa de rádio como aquele famoso de Orson Wells narrando o fantasioso desembarque dos marcianos na Terra poderia ser considerado terrorismo por “difundir o pânico generalizado” ? Aqui também não acredito em conspiração, é simplesmente um texto falho, mal formulado que dá margem a interpretações ambíguas.

 Terrorismo é o uso de violência letal ou potencialmente letal com objetivo político no seu sentido mais amplo (não apenas ideológico como demostram os atentados do tráfico, queima de ônibus,  etc...). Precisamos ter um lei anti-terrorista, levando em conta os eventos internacionais que o Brasil vai sediar e enfrentando  uma  uma ameaça tríplice: o terrorismo djihadista, tipo Al Qaeda; o terrorismo originário do narcotráfico e o terrorismo extremista de direita ou esquerda de fundo político ou religioso, envolvendo claramente intencionalidade, letalidade  e motivação.


 Mais urgente ainda é combater a franja violenta que provocou agora sua primeira vítima fatal. Não ajuda confundi-la com o terrorismo propriamente dito. É uma criminalidade associada ao vandalismo, irmã gêmea das torcidas violentas nos estádios, dos hooligans ou dos skinheads. Penso que as propostas do secretario José Mariano Beltrame na Folha de São Paulo de hoje de tipificar criminalmente o uso de máscaras e o porte de objetos de agressão e a obrigar a comunicação prévia das manifestações são um bom caminho e relativamente simples. Já o terrorismo é bem mais complicado mas pede urgência,  conquanto serenidade.

Um comentário:

  1. Oi Sirkis Penso que você tem razão Se estas manifestações tivessem uma teleologia de esquerda haveriam faixas com questões de ordemAs agrsões não são características das passeatas de Movimento Estudantil das quais participeiLembrando Mafesoli parecem mais tribos urbanas querendo expressar ,algumas vezes carências reais,outras,apenas botar fogo no circo Admiro a sua sensatez Helenice Maria

    ResponderExcluir