O postulado dessa minha iniciativa é o óbvio:
é preciso buscar a construção de uma maioria expressiva, capaz de aprovar
inclusive a mudança, por PEC de certos mecanismos constitucionais como a
previsão do sistema proporcional exclusivo nas eleições para as câmaras e
assembleias para instituir a previsão constitucional de um sistema misto.
Para tanto devo abrir mão de muitas das minhas posições e preferencias
individuais. Por exemplo, se pudesse reduziria a Câmara
para no máximo 300 deputados e estabeleceria uma proporcionalidade real “um
homem um voto” acabando com os desequilíbrios regionais que favorecem estados
pequenos mas deformam a representação. Chega a ser uma piada falar de “voto
proporcional” no Brasil. A proporcionalidade é...desproporcional!
Mas não vou mexer nisso pois não há a menor
chance de conseguir construir uma maioria em torno. O mesmo ocorre com o financiamento
público exclusivo, esse poderia até reunir maioria parlamentar mas seria
fulminado pela opinião pública (publicada?) figadalmente hostil.
Há, no entanto, uma janela de oportunidade para aprovar, valendo a partir de 2016, um
sistema misto que tenha como resultado fortalecer os partidos, torna-los mais
democráticos internamente dando-lhes maior conteúdo programático, pela via do voto
proporcional e, pela via do seu componente majoritário, consagrar que tem voto, limando essa massa atrasada e sem-voto que a imprensa gosta de denominar “baixo-clero”. No componente nominal do sistema que vou propor serão eleitos os mais votados e ponto final!
Assim votaríamos na legenda do partido de nossa preferencia e, em seguida, no candidato que pessoalmente confiamos (ou menos
desconfio) do nosso grande distrito de 3 ou 4 deputados federais e um número análogo de estaduais. Não há mais transferência de
voto que faça com que votando em “a” acabamos elegendo “b”. Desaparece esse engodo com o
eleitor.
A questão do financiamento de campanhas
No financiamento a primeira providência é
baratear radicalmente as campanhas para diminuir o peso do poder
econômico. Isso implica, por exemplo, em
programas de TV sóbrios e diretos: o candidato, a câmara e o eleitor. Debates e
intervenções ao vivo ou em formatos negociados entre os partidos mas sem toda aquela
parafernália do marqueting eleitoral do candidato-sabonete.
Não é segredo que sou adepto do financiamento
público exclusivo mas não há no Brasil condições de adota-lo porque a maioria da população e dos formadores de opinião é muito hostil a ele. A
adoção do financiamento público exclusivo, no entanto, é menos importante do
que seu objetivo final: reduzir o peso do poder econômico e nivelar o
terreno para uma disputa mais equânime.
Além disso é fundamental dar mais transparência às doações e
relacionar claramente --responsabilizando-os--
os partidos aos seus eventuais financiadores para que o eleitor julgue se isso é significativo ou não.
Nesse sentido defendo que se fixem, via justiça
eleitoral, a cada pleito, em cada estado e em cada grande distrito, limites para
receber e para doar. E que em relação às fontes se adote um de dois caminhos. Um seria a supressão da contribuição atual de “pessoa jurídica” (leia-se
empresas) que corre o perigo de empurrar
para a ilegalidade uma parte dos candidatos na medida em que atualmente é
difícil ter contribuições de pessoa física, excetuados alguns ricos.
O outro caminho --que prefiro-- seria a diversificação do tipo de pessoa jurídica que possa, dentro do limite fixado,
contribuir: empresas (salvo as estatais e concessionárias) mas também associações profissionais e
entidades da sociedade civil, desde que com arrecadação específica e explícita para essa
finalidade em período eleitoral.
Por outro lado, toda contribuição de pessoa
jurídica precisa ser declarada no prazo máximo de 72 horas na internet.
Assim teremos contribuições de pessoa jurídica menores, mais
diversificadas e mais transparentes. E feitas sempre para dos partidos e não candidatos
individuais. Os partidos, por sua vez, deverão repartir de forma equânime com
pequenas variações o recurso aos candidatos nos grandes distritos.
O eleitor decidirá que não votar num partido
que anuncia ter recebido contribuição da Companhia Nacional de Cartuchos ou da
Associação dos Cartórios mas pode votar noutro que recebe do Sindicato das
Enfermeiras ou da Natura cosméticos.
Não conheço outra democracia dentre as que
admitam financiamento não-público que o limite às empresas privadas. Quando
estas podem contribuir, os sindicatos, as ONGs, as entidades da sociedade
civil, em geral, também podem. Questão de lógico e coerência.
O candidatos poderão receber, diretamente, apenas contribuições de pessoa física, dentro de limites também fixados pela justiça eleitoral.
Quanto ao financiamento público --que já existe,
atualmente-- continuará na forma atual,
via Fundo Partidário, destinado à campanha proporcional das listas partidárias. Poderá ser reduzido porque elas são bem mais baratas.
As primárias ou prévias e voto pela
internet
Outro assunto que venho estudando para a
proposta que irei formular são as eleições primárias ou prévias.
Uma das críticas pertinentes ao componente
proporcional por listas é o peso dos “caciques” políticos na definição das
mesmas. A forma de evitar isso é permitir a todos os filiados de um determinado
partido --e eventualmente outros eleitores que seu estatuto preveja-- votarem para a composição da lista e também
para as candidaturas majoritárias nos grandes distritos.
Uma inovação que pode se iniciar a partir dos processos
internos dos partidos --e, futuramente, ser adotada nas eleições gerais-- é o voto
pela internet, devidamente certificado.
Já existe ampla tecnologia de segurança
capaz de dar amparo à lisura desse processo. Na passagem posterior ao processo
eleitoral, propriamente dito, seria ainda o caso de se estudar mecanismos que
assegurem a legitimidade do voto e seu caráter secreto. Há ainda algumas coisas a dirimir nesse campo mas não resta dúvida que no futuro as pessoas poderão votar
desde a sua casa ou de outros locais conectando on-line sua sessão eleitoral. Isso tende a aumentar a participação quem vem caindo nas últimas eleições.
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