O formato town meeting do último debate da TV Globo não melhorou o nível da discussão entre os dois candidatos remanescentes ao segundo turno. Diminuiu, é verdade, seu teor de agressividade um (a) com o (a) outro (a). A falta de uma interlocução direta limitou a agressividade a recriminações en passant do que os governos Lula e FHC deixaram de fazer ou fizeram errado sobre determinado assunto, na visão dos dois concorrentes.
No mais, ambos repetiram, pela milésima vez, seus pontos sobre educação-saúde-segurança-impostos de forma a sempre prometer o melhor dos mundos com um discurso raso, que não desse margem ao adversário carcar em cima. Ambos sempre começavam com aquela afirmação de protocolo: “muito obrigado por sua pergunta” ou “sua pergunta é muito importante”.
A novidade ficou por contra da linguagem corporal dos dois, andando pela arena e de suas caras e bocas quando o outro respondia. Dilma mantinha um ar de desprezo e circulava por trás de Serra como um urso cambaleante. Serra mantinha um semblante malicioso com a tensão revelada pela veia latejando no alto da careca.
Serra, como sempre, foi mais claro, didático, professoral. Dilma com maiores dificuldades de expressão, no computo geral, levou vantagem pela sua via de sempre: conseguiu passar pela prova, não foi a nocaute e em boa parte das perguntas foi melhor do que nos debates anteriores, reduzindo, embora não eliminando de todo, titubeios e trocas de palavras. A dada altura defendeu "cortes nas folhas de pagamento", embora evidentemente estivesse se referindo aos custos que incidem sobre elas. No contexto da competição, beneficiou-se mais uma vez da vantagem do empate.
Em termos de substancia, fiquei chocado com a resposta que o Serra deu à única pergunta sobre meio-ambiente, a do rapaz do Pará que perguntou sobre desmatamento. Dilma, previsivelmente, citou o avanço obtido nos governos Lula em relação à redução do desmatamento na Amazônia que, sabemos, iniciou-se na gestão de Marina, e depois continuou com Minc. Nesse particular, é correto concluir que mais foi feito pela dupla Marina-Minc do que pela Krause-Zequinha, embora a gestão deste último tenha sido boa (a de Krause, no primeiro governo FHC é que foi desastrosa).
Depois, ela apresentou uns números simplificados, mas que dão uma idéia geral da redução e uma proposta que combina monitoramento e repressão com mecanismos econômicos. Serra limitou seu discurso à relação pobreza-desmatamento e, passou em brancas nuvens o aspecto de fiscalização e combate aos crimes ambientais, aparentemente para não assustar os ruralistas que o apóiam e, no meio do raciocínio sobre como iria reduzir o desmatamento, soltou uma frase sobre sua intenção de asfaltar a Transamazônica, a BR 319, que será um vetor de devastação da floresta poderoso. Há dias, o governo Lula anunciou a mesma intenção. Não há diferença entre eles, nesse particular mas, o fato de Serra ter incluído isso na resposta, do que fazer para conter o desmatamento, me irritou profundamente!
Dilma naturalmente não vai reconhecer que boa parte dos avanços que ora capitaliza politicamente se deram não por causa da ação dela mas dos ambientalistas no governo, apesar dela. No geral, no entanto, respondeu melhor à pergunta que Serra. Reiterou o compromisso assumido em Copenhagen de metas voluntárias, de redução de 37% das emissões brasileiras de gases de efeito estufa (GEE), até o ano 2020, com ano base 1995. Essa meta nacional depende essencialmente da redução de 80% do desmatamento da Amazônia. Serra poderia ter brandido a Lei de Mudanças Climáticas de São Paulo, que coloca uma meta de redução de 20% obrigatória, que no contexto paulista implica em cortar GEE em geração de energia, transportes, agricultura e indústria. A meta é obrigatória por lei e isso representa algo muito importante, que Serra inexplicavelmente omitiu.
Como já comentei em relação à discussão da Agenda Verde, o posicionamento de ambos em relação a questão ambiental não é o único fator no seu julgamento. Existe também na balança a questão democrática, o hegemonismo petista, o seu (des)respeito às instituições, o alinhamento externo com ditaduras tenebrosas e o comportamento inaceitável de Lula, durante todo esse longo e tortuoso processo eleitoral. Razões pelas quais excluo a possibilidade de votar em Dilma no segundo turno.
Mas, fiquei seriamente indeciso entre votar Serra ou voltar a sapecar o 43 naquelas duas teclas! No debate de ontem, ao ouví-lo anunciar sua intenção de asfaltar a BR-319, no meio de uma resposta sobre o que faria para combater o desmatamento na Amazônia, me deu um comichão de 43 para me incluir fora dessa polarização melancólica.
Até amanhã hei de decidir (mas por compromisso partidário não conto). Excluo, no entanto, votar na candidata favorita e provável vencedora, embora na discussão em torno questão ambiental, repito, tenha se saído melhor que seu oponente. De oportunismo, ninguém poderá me acusar. De voto figadal, talvez. Dizem que no primeiro turno votamos com o coração e no segundo com a cabeça. Podemos eventualmente votar com o fígado. Que por sua vez remete, quixotescamente, ao 43 do coração.
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Acabo de voltar da feira da gen. Glicério. Um grupo de veteranos petistas --pelo menos não era "militancia" paga-- e um serrista solitário, patético, batendo boca com eles de forma provocativa. Um petista mais exaltado quase bateu nele. Os petistas (uns oito) naquela atitude intimidatória coreando: Dilmáá! Dilmáá!!!, bandeira vermelha ao vento. Parecia mais importante gritar alto, sobrepujar pelo número e pela atitude agressiva do que tentar persuadir os indecisos. À volta, as pessoas normais, meio intimidadas, cumprimentando-me pela posição de Marina e, diante da cena, confidenciando que vai ser 43, outra vez...
Um microcosmo dessa eleição...
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Acabo de voltar da feira da gen. Glicério. Um grupo de veteranos petistas --pelo menos não era "militancia" paga-- e um serrista solitário, patético, batendo boca com eles de forma provocativa. Um petista mais exaltado quase bateu nele. Os petistas (uns oito) naquela atitude intimidatória coreando: Dilmáá! Dilmáá!!!, bandeira vermelha ao vento. Parecia mais importante gritar alto, sobrepujar pelo número e pela atitude agressiva do que tentar persuadir os indecisos. À volta, as pessoas normais, meio intimidadas, cumprimentando-me pela posição de Marina e, diante da cena, confidenciando que vai ser 43, outra vez...
Um microcosmo dessa eleição...
Também irei votar 43. Será a maior quantidade de brancos, nulos e também de abstenções da história.
ResponderExcluirDia 31/10 é 43 na urna!
Fiquei extremamente identificada com o que você escreveu a respeito da Dilma e do seu voto! Essa polarização melancólica nos coloca numa situação muito difícil mesmo....
ResponderExcluirEm todos os questionamentos feitos os dois candidatos diziam que vão criar um pacto nacional ou um fundo nacional como solução, ora bolas cada um participou do governo como situação durante oito anos e agora é que prometem fazer?
ResponderExcluirDilma mostrou q decorou bem o texto e nem precisou de ponto. Pior que pra ela o TSE não vai pedir prova de conhecimentos como fez como Tiririca.
ResponderExcluirNã dá pra confiar em propostas de uma pessoa q atuou 8 anos no governo e, assumindo as críticas, promete fazer em 4 anos. Tava vendo a hora dela dizer que a culpa foi do Lula.
Realmente, Serra não se saiu bem na questão de meio ambiente, talvez pq ele apenas respondeu na réplica de meio minuto. Mas, tanto nas proposta divulgadas como algumas conquistas de seu governo em SP, dá pra confiar mais nele. Inclusive em outro debate ele assumiu o desmatamento zero observando q resta poucas áreas verdes na Amazonia. Observo que o Serra também fechou parceria com personalidades que atuam no PV, espera-se que os mesmo tenham alguma participação no seu futuro governo e possam orientar melhor um plano para o meio ambiente.
Lembro que no Governo do FHC o Código Florestal era pra valer.
Sobre o eleitor do Serra (patético?) cercado de irritadíços petistas, observo que isso deixou de ser campanha política pra se tornar embate de pessoas receosas de perderem suas conquistas contra frágeis e corajosos cidadãos. Foi uma campanha de terror nas ruas. Eu q o diga.
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