10/08/2013

Da violência simbólica



 Ultimamente tenho participado de listas de discussão onde se polemiza bastante sobre esses incidentes residuais que nos sobram das manifestações de junho e dos quebra-quebra recorrentes promovidos por grupos obscuros como o Black Block e outros anônimos que atuavam na franja das mobilizações e que agora as substituem no espaço claramente desproporcional que lhes concede a mídia.

 Acho esse tipo de ação incompatível com os propósitos de quem luta por um país e uma vida melhor. A violência é uma espiral que sempre tem uma dinâmica dada. É como o gênio de Aladim uma vez fora da garrafa.... 

  A sociedade brasileira atual é, em si, mais violenta do que a dos anos 60.  Mata-se muito mais, a quantidade de armamento --inclusive de guerra-- que circula na sociedade é muito maior. O risco de degringolada –que sempre precisa ser analisado--  parece ser menos de um novo regime ditatorial do que de uma entropia do estado democrático pela perda total de autoridade e pela instituição de uma espécie de novo medievalismo com “poderes de fato” se sobrepondo localmente ao estado de direito. Em poucas palavras a famosa síndrome dos estados falidos.

 Por isso,  promover ou participar de situações de violência pode eventualmente contribuir para derivações que hoje sequer imaginamos ou concebemos. Daí que não posso concordar com a 'glamourização' mesmo de uma violência mais "simbólica" como essa que pequenos grupos praticam no bojo de manifestações e, agora , cada vez mais se transformam na manifestação em si.

 Isso nos coloca diante de uma questão clara: assumimos radicalmente a não-violência como valor primordial? Ou de alguma forma flirtamos com  a violência,  relativizamos , justificamos ou  explicamos-a como  "consequencia" de um sistema injusto. Lançamos mão daquele arsenal de racionalizações, mitos e fórmulas "heroicas" tão presentes na cultura e mitologias da esquerda? 

 Quando vejo um certo fascínio com grupos absolutamente minoritários --sem proposta alguma de construção do que quer que seja para além do protesto--  gênero esse Black Block, suscitam penso que essa é uma clarificação necessária.

   Devemos ser condescendentes com movimentos de contestação, que trabalham basicamente com energias negativas  ou buscar de dentro da nossa altamente imperfeita democracia  construir algo melhor?   Prioriza absolutamente trabalhar com energias positivas?

 Defendo a  não-violência ativa e a não participação, aprovação ou condescendência com atos de violência, ainda que apenas simbólicos truculência policial e/ou governamental.  Aceito e posso eventualmente participar de ações não-violentas de desobediência civil.  São formas de luta democráticas e de importância história em numerosas conquistas civis, sociais e ambientais em todo o planeta.

 A escolha dessas formas de luta deve ser criteriosa, inteligente e organizada de forma a coibir riscos de degeneração em violência. Deve, por outro lado,  respeitar o máximo possível o direito de terceiros, de cidadãos não participantes,  na sua vida cotidiana. Por isso devem ser evitadas ações que produzam prejuízo, incômodo ou inconveniente sério à população no seu cotidiano. Manifestações e outras ações que provoquem transtornos temporários devem ser organizadas e realizadas de forma a minimiza-los dentro do razoável.

E preciso entender a dinâmica da violência e bani-la de nossas ações desde o nascedouro. Devemos ter tolerância zero com qualquer forma iniciativa violenta. Black Block e similares são gangues infra-políticas que possuem a mesma dinâmica dos skinheads, grupos punk agressivos, das torcidas de futebol briguentas, das “patotas” de briga da minha adolescência. Podem se apropriar de fragmentos de um discurso político mas seu impulso primordial é o gosto pela agressão física e pela destruição. Insisto: tolerância zero com a violência em atos políticos.

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