22/03/2013

Na mosca


 O discurso de Obama aos jovens israelenses, em Jerusalém,  foi uma extraordinária peça de oratória e de competência política. Começou pela recusa do que seria natural: um discurso perante o Knesset, o parlamento israelense. Obama não quis passar pela mediação dos políticos israelenses --uma coleção de medíocres, pigmeus morais, sem estatura histórica alguma-- preferiu dirigir-se diretamente aos jovens israelenses, a queima-roupa.  

 Foi uma opção arriscada. As pesquisas hoje apontam para uma juventude mais à direita do que em qualquer outro momento da história do estado judeu.  Ao contrário do que a poderia imaginar, não houve uma seleção política prévia da plateia e Jerusalém é uma das cidades mais politicamente direitistas de Israel, pior, só uma plateia dos assentamentos na Cisjordânia ocupada.

 Obama preparou-se para aquela plateia como se prepararia para uma em casa, com seus republicanos, seus céticos e seus decepcionados. E falou de coração com eles. Falou de sua empatia por Israel, como país, de sua amizade pelos judeus, em geral. Usou todas a palavras e imagens capazes de quebrar gelo e chegar ao coração de cada um daqueles jovens, mesmo os mais céticos e mais paranoicos.

  Ao abordar a questão palestina, a questão da paz, o górdio, foi implacável. Não implacável no sentido condenatório,  raivoso, que muitos críticos de Israel adotam, até justificado, mas cuja eficácia para sensibilizar os israelenses,    é quase nula. Produz  fechamento,  isolamento, mexe com um sentido milenar de perseguição fatalista. Fecha os seus olhos e tapa os seus ouvidos. 

 Obama foi tremendamente eficaz porque com carinho e esperança alvejo-os no coração, no seu sentido de justiça:  “ponham se nos sapatos dos palestinos”, “vejam a situação com seus olhos”. Nunca um presidente norte-americano condenou com tamanha contundência a ocupação, os assentamentos e as violências que diariamente são submetidos aos palestinos de todas as idades.  Mas o fez de maneira que aqueles jovens israelenses não se sentissem rejeitados e condenados mas exortados a seguir para um futuro melhor confortados por algo que  é básico no judaísmo: “justiça, justiça buscarás”, ordenou Deus ao povo judeu.  

 É cedo para avaliar se um discurso brilhante,  de enorme inteligência emocional e estratégica é capaz de produzir um efeito duradouro real ou se aquela emoção se esgota no recinto em que aconteceu e na cobertura de mídia imediata que teve. 

Posso estar enganado mas tenho a impressão de ter visto algo de fato histórico, capaz de ter consequências inesperadas, inimagináveis dias atrás. O problema de Israel não são os políticos de direita que controlam sua vida política com cegueira, obtusidade e truculência mas, obviamente,  o fato dos israelenses votarem neles. Praticamente ignora-los, benevolamente, com boas palavras e tapinhas nas costas e concentrar-se na comunicação direta com a juventude de Israel com um discurso sincero e autêntico de exortação à justiça e confiança na possibilidade da paz e de uma futuro melhor foi um exercício de arte na política que raramente alguém consegue. E quando consegue vale a pena registrar. 

Obama, dessa feita acertou na mosca.

O DISCURSO DE OBAMA:

Video  (o link está no final do artigo do Haaretz)

Texto

Um comentário:

  1. AMEI!!!!!!Gostaria de ler o discurso do Prsidente Obama !!!!!!Abraço Helenice Maria

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