15/09/2012

O que faltou a Paes


 Com a entrevista de Eduardo Paes completou-se a série de grandes entrevistas dos candidatos a prefeito. As de Otávio e Rodrigo foram fracas. Freixo cheio de inconsistências, caso de fato estivesse disputando a prefeitura. Mas foi coerente em relacão à  parcela mais “dura” do seu eleitorado. “Combativo”, digamos. Aspásia foi bem. Conseguiu pautar um novo tema, o da municipalização da CEDAE,  que Paes, espertamente, tentou recuperar no dia seguinte. Foi pouco confusa em alguns itens, mas, no geral,   soube lançar a bola para frente. Paes, teve a sorte de ser sorteado para  ser o último e poder responder a todos, particularmente  Freixo, e o fez de forma competente.

 Faltou, porém, uma visão maior para uma cidade que vai viver agora talvez os quatro anos mais importantes em muitas décadas, passadas e futuras. Sua entrevista foi do gestor da prefeitura e não de um líder visionário da cidade que vai sediar os Jogos Olímpicos de 2016, com suas numerosas oportunidades e seus perigos (sobretudo no pos-festum). Foi um discurso reativo, defensivo, justificativo. Eficiente, enquanto tal, mas sem uma dimensão maior. Claro, Paes foi pautado pelas perguntas dos jornalistas, mas, ainda assim, poderia ter ido mais longe, colocado questões e propostas para além da simples continuidade.

 Não vi uma análise econômica dos riscos e oportunidades do Rio nem uma antecipação dos problemas futuros. Os endógenos e os que podem resultar de uma crise mais geral.  A bonança econômica do país já está decaindo junto com a crise mundial. Aqui no Rio vivemos uma “bolha” nos preços dos imóveis e nos preços em geral que tende a estourar em algum momento. Há um esforço importante para revitalizar o centro e a área portuária mas, ao mesmo tempo,  os investimentos privados e públicos na Barra continuam predominando. É vital para o sucesso da área portuária atrair uso residencial de classe média mas não se vislumbra uma estratégia clara de como conseguir isso. 

 Na Barra, Recreio e Vargens os problemas criados pelo modelo urbanístico modernista só irão se agravar. Na questão de mobilidade, sobretudo. Não adianta agregar mais uma pista de carros ao elevado do Joá. É preciso implementar a conexão hidroviária Barra-Centro e dar navegabilidade aos rios, lagoas e canais da região, conforme propusemos no projeto Veneza Carioca que Aspásia agora está propugnando.

  Paes se saiu espertamente bem do questionamento em relação à COMLURB e o minúsculo percentual de coleta seletiva na Cidade dizendo que avançou ao fechar Gramacho e ativar Seropédica.  Faltou reconhecer –como já o fez em particular—que essa não era a melhor solução. Tecnicamente a melhor era Paciência, politicamente detonada pelo lobby das empresas que perderam a licitação. Agora estão todas “compostas” mas há um prejuízo duplo: Seropédica é mais caro e fica noutro município o que é uma vulnerabilidade em potencial. O aterro tem problemas ambientais não resolvidos e, finalmente, a implantação de Seropédica em nada obstaculizaria um avanço na coleta seletiva se isso fosse tratado como prioridade.

 O prefeito sabe que existe uma cultura anti-coleta seletiva na COMLURB, já antiga. Como secretario de meio ambiente ele se chocou seguidas vezes com isso mas, como prefeito,  não quis mexer no vespeiro. A COMLURB é vítima do próprio sucesso. É muito eficiente no que faz: recolher e transportar lixo e fazer a limpeza pública de uma cidade onde a população ainda é tremendamente deseducada em relação ao seu lixo. A Av Rio Branco é varrida doze vezes por dia!

 São alguns exemplos. Uma campanha deveria ser um momento não apenas para justificar os quatro anos passados mas para fazer vislumbrar o que se preternde para os quatro anos futuros. Em relação a essa segunda tarefa a entrevista de Paes a O Globo, deixou-nos com poucos elementos.  A chance de crescimento da candidatura Aspásia está nesse ponto. A Cidade espera uma oposição séria, realista, propositiva. Radical no sonho, não no protesto.

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