A brutal execução da vereadora Marielle Franco, do PSOL, é um sinal dos tempos num país e numa cidade em que o ódio, o tribalismo e a entropia avançam. A primeira impressão que dá é de crime político de características terroristas relacionado à atuação dela na denúncia de violências policiais em favelas. Ambas são antigas no Rio e há muito tempo existe um grande raiva em relação aos que estariam defendendo os “direitos humanos dos bandidos”, na ótica de um discurso que na atual situação de desespero já transcendeu muito a esfera policial. Não se sabe se os assassinos da vereadora estavam buscando um alvo simbólico --algo incomum no Brasil onde se mata por dinheiro ou vingança e raramente por ideologia-- ou se esse crime abjeto foi relacionado a alguma situação mais específica envolvendo pessoalmente os assassinos.
Ela pode ter sido executada como “símbolo”:
uma liderança negra, ligada a comunidades, crítica da atuação sobretudo da PM,
expressiva, eloquente. Um bom “exemplo” para uma ação de intimidação. Pode
tê-lo sido a partir de algum conflito local e contenha elementos de
vingança. O tráfico que mantêm relações de “arreglo” com a polícia
frequentemente assassinou lideranças comunitárias, no passado, mas não era dado a esse tipo de ação, o que
se estende também às mal chamadas “milícias” que na verdade são máfias. Ambos
circunscreviam sua ação a um âmbito mais local.
Havia entre eles a noção de que a eliminação de lideranças políticas que provocasse uma comoção social e midiática deveria ser evitada. Esse crime pode ser um sinal de que isso
mudou e estamos adentrando uma situação mais parecida com a atual no México ou com a Colômbia, nos anos 90. A
primeira impressão é de um crime de natureza política e parapolicial. Seria gravíssimo, com um efeito contagioso e contribuindo para a radicalização de uma
situação que já é patética.
Um tabu foi rompido: o do “presunto caro”. Ao longo de muitos anos houve milhares de denúncias. Algumas, eventualmente, resultaram em identificação e punição dos policiais envolvidos e até aqui nunca havia acontecido esse tipo de represália. É corriqueiro, sobretudo na baixada fluminense e no interior, o assassinato de vereadores e jornalistas em geral ligado a disputas mafiosas que se explicitam na política. O único caso semelhante foi o da juíza Patricia Acioly assassinada em Niterói, em 2011, num caso que envolveu o batalhão da PM em São Gonçalo.
Seja como for o que ocorreu com Marielle é
terrível e sintomático de novos tempos, piores.
Tenho discordâncias com o PSOL em relação a diversos temas, inclusive
segurança pública. Nessa hora, no entanto, o único que cabe é a total solidariedade. Isso
sai completamente da esfera meramente política, aqui ficamos diante de um
desafio civilizatório que transcende a esquerda, o centro ou a direita. Temos que reverter urgentemente a regressão
civilizatória que toma conta da nossa Cidade.
Matam nossos heróis e heroínas,matam nossos sonhos,mas não matam nossa capacidade de luta.Que viva para sempre Marielle em nossos corações.
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