As UPP
nunca pretenderam acabar com tráfico de drogas nas favelas muito menos ser
solução para a segurança nas ruas. Reduziram, durante um bom período, o
controle territorial ostensivo, o exibicionismo bélico e a guerra entre facções
permitindo um relativo ciclo virtuoso de queda dos crimes violentos. Não houve, paralelamente, um investimento
quantitativo e qualitativo nas polícias e no seu modo de operar. Não se mexeu
em dois fatores básicos. As escalas de
serviço com a maior parte do tempo de trabalho dos policiais dedicado a outras
atividades fora das corporações, o mal chamado “bico” --esse na verdade acaba
sendo a própria atividade policial--
que paga melhor que o mísero salário. Isso limita fortemente o efetivo
disponível, sua qualidade e adestramento. Mexer nas escalas de serviço, impor
uma dedicação exclusiva e integral e adestramento permanente ao trabalho
policial é algo muito difícil por que o Estado não consegue pagar e há
interesses muito arraigados da segurança privada policial que, sabemos,
nutre-se da deficiência da pública. Outro fator, esse no asfalto: o reduzidíssimo policiamento a pé, ocupando
território, interagindo, vigiando, prevenindo.
A
grande quadratura do circulo envolve a política de drogas. Nos momentos de
sucesso das UPP o tráfico não desaparecia.
Tornava-se menos ostensivo, retrocedia sua ditadura militar sobre a
comunidade, suas guerras entre baronatos. Com isso tornava-se menos violento. O
comércio de drogas –todos sabemos mas muitos não querem admitir-- só acabará no dia de São Nunca, quando
desaparecer o mercado. As UPP passaram a conviver com um tráfico não tão
militarizado. Logo, em muitas delas, se estabeleceram os clássicos mecanismos
do “arreglo”. Uma repressão sistemática à venda de drogas mostrou-se pouco
compatível com a “pacificação” porque prisões de envolvidos locais que não
estivessem ameaçando a comunidade provocam forte reação e atritos. O tráfico
não são apenas os jovens armados, é toda uma teia econômica que envolve pessoas
de todas as idades e cuja repressão contraria interesses econômicos locais e gera
protestos contra a “violência policial” fartamente cobertos pela mídia. Com a
crise e o colapso do Estado num mar de corrupção e absoluta desmoralização da
autoridade a crise das UPP não pode senão se agravar. Mais ação social e
infraestrutura nas favela --ainda que fosse factível, num momento de zero
investimento público-- não resolveria o
problema da deficiente qualidade e quantidade de polícia nem das consequências
recorrentes de uma política de drogas estúpida e alimentadora da violência e do
poderio crescente do banditismo armado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário