01/10/2016

Porque Osório 45


 Decidi votar no Carlos Osório 45, independentemente de pesquisa ou muito menos, preferência partidária. Voto nele, amanhã,   fundamentalmente porque é dos dez candidatos aquele que considero melhor preparado para a difícil tarefa de ser prefeito da minha mui amada cidade do Rio de Janeiro.

 Tem a experiência, a garra e a integridade em doses devidamente equilibradas para tanto,  é permeável a boa parte das ideias e projetos que defendo para o Rio. Temos discordâncias menores.  No que pese um ou outro escorregão, aqui e ali,  foi menos demagógico,  menos fantasista e mais verdadeiro que os demais que disputam essa campanha.

 Secundariamente o apoio, porque avalio que seria o mais apto a derrotar Crivella no segundo turno.

 Nessas alturas o senador exibe um certo favoritismo e, pela primeira vez,  tem uma chance real de ganhar na cidade do Rio de Janeiro. Não o demonizo, trata-se de uma pessoa afável, razoavelmente bem informada e com uma integridade pessoal que contrasta com a de todos demais políticos de sua Igreja que conheci como vereadores, deputados e executivos (uma coisa assustadora!). Apesar de suas negaças de que vá governar com a Universal e dele ter, de fato, nos últimos anos,   se aproximado de alguns quadros mais íntegros  –seu vice o é, por exemplo—  antevejo com ele  grande risco de  predomínio de grupos e de ideias muito distantes do que desejo para o Rio de Janeiro.

Porque não Freixo? Uma parte significativa dos eleitores que apoiaram a Gabeira e a mim em outras eleições votam nele, desde 2012, e ele tornou-se, pelo desparecimento dos verdes  --por uma implosão suicida provocada pela máfia de SP--   uma alternativa importante para o voto “idealista” de classe média, sobretudo da juventude. Não gosto do PSOL, seu partido,  que para mim encarna um PT “pré-delubiano” mas , não obstante,  poderia votar no Freixo caso identificasse nele os atributos para ser um bom prefeito e na sua equipe alguma consistência para gerir a Cidade nos anos difíceis que se prenunciam.

  Não percebo experiência de gestão nem o indispensável conhecimento da prefeitura e de como funciona. Vejo muitas noções radicais-simplistas combinadas com uma submissão a um sindicalismo público corporativo –no  fundo, reacionário--    cujas lideranças exercem um papel pernicioso ao abominar a meritocracia. Vejo também pessoas super bem intencionadas, criativas e íntegras que com um pouco mais de experiência poderiam fazer uma gestão inovadora. Teriam, porém, que passar pela traumática transição de uma esquerda de oposição a uma esquerda de gestão pública. As vezes dá para apostar no “fulano, depois de amanhã”. No entanto, em 2016, no Rio pós-olímpico de um Brasil mergulhado numa crise terrível, não me parece o caso de correr esse risco. O perfil do Freixo continua sendo mais de um tribuno e um promotor  (com méritos) do que de um gestor público que precisa saber governar para todos cariocas, dialogar com diversas culturas e interesses e entender a complexidade das coisas desprendendo-se daquele maniqueísmo típico da extrema-esquerda (e da extrema direita que o PT contribuiu para reemergir)

 Por que não “voto útil” no Pedro Paulo?  Não cabe voto útil no primeiro turno. Por alguma razão apesar de representar uma administração com realizações e possuir uma máquina poderosa está atolado. Superar ou não essa parada e afirmar seu legado cabe ao Eduardo Paes que não irá contar comigo par tanto.  Cheguei a ajuda-lo generosamente e incondicionalmente em algumas ocasiões, sobretudo no primeiro governo e, particularmente, quando lhe passei, antes mesmo da posse, todo o projeto de revitalização da área portuária que  desenvolvi com a equipe do IPP durante seis anos e  que politicamente coloquei na agenda carioca de 2001 a 2006. Executado e ampliado ele tornou-se junto com as Olimpíadas o  carro chefe desta gestão. Foi executado com algumas falhas que venho pontuando mas teve o enorme mérito de ter saído do papel.

 Paes foi globalmente um bom prefeito do Rio. Trabalhador, com capacidade de realização e permeável a boas ideias. Seria simplesmente idiota não reconhecer as coisas positivas que ocorreram na cidade. Sucumbiu, como muitos gestores reeleitos para um segundo mandato, a um surto de soberba agravado por certos traços seus de caráter. Desenvolveu uma postura pessoal que considero inconveniente. Naturalmente, cabem restrições profundas ao seu partido ainda que ele não tenha cedido tantos “espaços” assim aos seus mais vorazes correligionários. Fundamentalmente criou seu próprio dispositivo.  Sendo os partidos brasileiros atualmente todos muito ruins não chega a ser um pecado capital.

 O Pedro Paulo possui certos atributos e bastante experiência mas tenho dúvidas a respeito de sua capacidade de liderança e, sobretudo, na superação de certos vícios atuais inerentes ao prefeito atual. O puro continuísmo numa época de dificuldades como as que se prenunciam me parece problemático. Antecipa uma governança dificultosa com muito desgaste à partida. Um grau de alternância com um grau de continuidade seriam uma receita mais adequada com Osório. Não é aquele cínico “é preciso que algo mude para que tudo continue” do Il Guepardo de Visconti, mas algo mais parecido com “cuidado com o andor que o santo é de barro”. Há um potencial destrutivo no ar que demandará muito tirocínio e muita legitimidade política para desmontar delicadamente qual um sapador exímio que desativa uma bomba relógio.  

 Em tempo: não entro na longa fila de quem estigmatiza insistentemente o Pedro Paulo por causa do episódio com a sua ex-mulher. Evidentemente, é um bom “gancho” eleitoral para os adversários e causa legítima de preocupação.   No entanto, ninguém --salvo ele próprio,  a ex-mulher e talvez os filhos pequenos--   conhece a verdade sobre aquilo que ocorreu.  Não estou aqui propugnando aquele famoso: “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher” mas simplesmente dizendo que ninguém pode garantir que conhece a verdade factual. Pelo que li na própria imprensa --que, como de hábito, inicialmente o crucificou implacavelmente--    a natureza das suas marcas nos antebraços não eram, segundo laudos, as típicas do agressor e o STF, afinal, julgou pertinente abrir mão de julga-lo.  Claro, pode se separar o “político” do “jurídico” mas mesmo para um julgamento eminentemente político falta o conhecimento seguro da ocorrência. Isso não vai impedir os adversários, entre os quais os sinceramente convencidos de sua culpa, de continuar batendo nessa tecla mas não estou em disputa eleitoreira e  tomo a liberdade  de não tomar minha decisão de voto para prefeito do Rio com base apenas nesse episódio pouco claro. A razão de meu voto é outra.

 Porque não Molon? Dos candidatos é com ele que tenho uma relação mais próxima da amizade. Admiro-o como pessoa e como parlamentar, penso que lhe falta experiência de gestão local, conhecimento e vivência da prefeitura. Ainda o vejo meio preso a uma identidade que definiria como o do “lado bom do PT” pouco representado no Rio, o qual respeito mas me distancio.   Não assimilou ainda um discurso verde e o tom da sua campanha não foi dos mais inspirados. Ele é autêntico mas soou artificial.   Permanece para mim uma referência de correção, dedicação e decência na política, mas ser prefeito do Rio é outro departamento.


 Em relação a meu voto par vereador em Eduardo Sol 45555. O quadro para vereador, em geral, é pior do que em outras eleições. Não há quem de fato encarne o conjunto de ideias que defendi ao longo dos quase  30 anos em que estive na arena eleitoral. Atualmente faço um trabalho de formação e mentoria com candidatos de variados partidos em variados estados para a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS) –não confundir com o partido que posteriormente assumiu o nome de Rede--  e esse jovem, professor, negro e próximo do pessoal do Afroreggae, me despertou interesse e simpatia. Acho que poderá fazer um bom trabalho nadando contra a corrente de uma Câmara que a cada eleição vem  ficando pior, tendência que temo não se reverta nesse pleito... 

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