29/09/2016

An análise da campanha na penúltima curva

 Um espectro ronda as eleições do Rio de Janeiro: o voto útil. Na reta final tende a haver um afunilamento entre os universos eleitorais de Pedro Paulo/Osório/Índio e de Freixo/Jandira. Alguma intenção de voto de Bolsonaro pode também migrar para o primeiro funil mas esse é um voto mais de direita e extrema direita com um piso sólido (e um teto limitado) que tende a variar menos. 
Jandira jogou todas suas fichas em Lula/Dilma e “nacionalizou” sua campanha virando arauta do “Fora Temer” e do discurso do “golpe”. No entanto, desde a eleição de 1988, o carioca claramente “prefeitiza” a eleição para prefeito e não vê com bons olhos quem brigue com o governo federal e Dilma certamente não é boa cabo eleitoral no Rio...
Freixo evoluiu no discurso em relação a 2012 mas sua circunstância de campanha desta feita é muito mais difícil do que naquela em que disputava praticamente sozinho o voto “do bem” da classe média carioca. Para além de sua limitação de tempo de TV, atualmente em parte compensável pelas redes sociais, vem fazendo afirmações que limitam o alcance de seu crescimento justamente lá onde poderia mais num primeiro turno: na classe média. 
Sua afirmação que vai governar prioritariamente para os pobres e as favelas evitando o clássico “serei o prefeito de todos” pode ser bacana do ponto de vista “de esquerda” mas não amplia eleitoralmente. Sua postura solidária em relação a Dilma no seu impeachment também não o ajudará muito a não ser naquele eleitorado ideológico da esquerda mais tradicional onde ele poder obter um crescimento em cima da Jandira mas que não me parece muito grande.
Ao centro, no campo do chamado “voto gerencial” o tardio crescimento do Carlos Osório  --registrado pelo Datafolha mas não pelo IBOPE--  cria um fato novo numa situação que já começava a se definir para um afunilamento de “voto útil” favorecendo Pedro Paulo. Osório aparece como capaz de satisfazer esse tipo de voto focado nas coisas da cidade e nos serviços da prefeitura --cujo epicentro é a zona norte—ao associar experiência de gestão com uma independência que, por razões óbvias, o Pedro Paulo não pode pretender. 
Osório seria o mais viável num segundo turno contra Crivella (e, ainda por cima, periga ser um bom prefeito). No entanto, Pedro Paulo ainda aparece como o desaguadouro potencial do “voto útil”. Para se viabilizar Osório teria que ultrapassar Freixo e ficar em terceiro lugar, até sábado, para tentar ultrapassar Pedro Paulo no dia da eleição.
Para conseguir isso ele teria que tomar muitos votos do Índio, alguns do Bolsonaro (mais difícil), alguma coisa de Freixo e Jandira (ainda mais difícil) mas, sobretudo, conquista-los em dois grupos distintos: aquele contingente que se prepara para votar útil em Pedro Paulo e aquela ampla gama de indecisos, nulos e brancos que podem também tender para o Freixo. 
Normalmente isso seria muito difícil em tão pouco tempo mas numa eleição esquisita como essa quem sabe?
Já o Crivella, pela primeira vez, tem chance real de se eleger. Anda alardeando que pode até ganhar no primeiro turno algo altamente improvável. Deve se confirmar o cenário do Datafolha dele perder alguma coisa na reta final, possivelmente para a máquina de Pedro Paulo na zona oeste. Deve chegar em primeiro lugar no primeiro turno mas com uma margem menor que pretende e podendo sofrer no segundo turno, como já aconteceu antes, aquela sina do cavalo paraguaio. 
As projeções de segundo turno feitos pelos institutos de pesquisa, durante o primeiro, costumam ser falhas. A margem hoje dada a Crivella no segundo turno sobre praticamente todos os outros rivais parece fortemente exagerada. Osório, Pedro Paulo e Freixo –na minha opinião, nessa ordem de viabilidade-- teriam eventualmente condições de derrota-lo num segundo turno para o qual, no entanto, entrará melhor posicionado do que em qualquer eleição anterior que tenha disputado na Cidade. 
A quatro dias do primeiro turno a primeira vaga no segundo parece garantida para Crivella. A segunda é disputada por Pedro Paulo e Freixo com Osório surgindo no retrovisor. Poderá ultrapassa-los na reta final? 
O debate de hoje na TV Globo tende a ser mais decisivo do que em eleições anteriores.

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