31/07/2015

O insuportável reinado de Netanyahu

 Sinais dos tempos: um grupo de colonos israelenses incendeia a casa de uma família palestina numa aldeia próxima ao seu assentamento e queima viva uma criança de colo. Outro fanático religioso esfaqueia diversas pessoas participando da parada gay em Jerusalém. Reflexos de uma direitização galopante engendrada pela era Natanyahu/Bennett. Só vai trazer radicalização e isolamento, nenhuma perspectiva de paz.

Há dias dois jovens israelenses escreveram em O Globo um artigo crítico a Gilberto Gil e Caetano Veloso terem se apresentado em Tel Aviv e encontrado o ex-presidente Shimon Peres. Numa sociedade emersa num processo galopante de direitização, particularmente entre os jovens, Ofer e Jonatan representam um micro minoria de esquerda radical com uma influência minúscula e --diga-se por uma questão de justiça-- uma considerável coragem. Como soe acontecer com a ultra esquerda, suas posições se limitam a “marcar posição” e alvejam não o inimigo –no caso a direita e ultradireita israelense, no poder --  mas  gente do lado de cá, só que mais moderada, como Caetano e Gil que sempre foram solidários com o povo palestino,  contrários à ocupação, a favor da solução de dois estados mas também amigos de Israel. Peres, por sua vez, tem diversas responsabilidades históricas e feitos negativos na sua longuíssima trajetória política mas no contexto assustador do espectro político israelense está decididamente no campo da paz.

  O discurso de Ofer e Jonathan facilita a mobilização que  Netanyahu promove contra as chamadas iniciativas de boicote e desinvestimento, sem distinção. Sua principal arma é confundir duas modalidades distintas como se fossem uma única e mesma coisa. Há um boicote a vínculos, inclusive artísticos e culturais,   e produtos da Cisjordânia ocupada. No caso, aplicar-se-ia fossem os artistas brasileiros se apresentar no assentamento de Ariel ou em na parte ocupada de Hebron e não em Tel Aviv. O outro tipo de boicote, que tem como grande vocalizador  Omar Barghouti, promove não o fim da ocupação e o estabelecimento de um estado palestino ao lado de Israel (com sua capital em Jerusalém leste) mas o fim do Estado de Israel tal qual criado pela assembleia geral da ONU, sob a presidência do brasileiro Oswaldo Aranha, em 1948.

 Israel,  nas suas fronteiras internacionais reconhecidas, foi inúmeras vezes atacado e qualquer acordo de paz precisa levar garantias para sua segurança que certamente não será garantida por uma permanente ocupação e opressão do povo palestino naquilo que hoje representa apenas 22% da área historicamente disputada e que restaria aos palestinos para estabelecer seu estado de acordo com um amplo consenso internacional.  Só que esse território vem encolhendo diariamente pela até agora inexorável expansão dos assentamentos e de sua infraestrutura, restando aos palestinos cidades isoladas entre si da chamada área A. Há uma convergência entre o idealizado por Barghouti  e a ação prática e sistemática da ultradireita de Neftali Bennet  com plena anuência de  Bibi Netanyahu. A cada dia que passa torna-se menos factível um estado palestino.


 Daqui a pouco tempo simplesmente não haverá mais solução de dois estados mas a realidade, trágica, inexorável,  de um único, Grande Israel, do Mediterrâneo ao rio Jordão,  em regime de apartheid. Os palestinos –alguns já o fazem--  passarão a exigir não mais seu estado mas direitos civis e igualdade cidadã. Quando isso ocorrer o BDS, mesmo o dos moderados, mudará de foco e, de fato, Caetano e Gil terão eventualmente que repensar seu show num país onde metade da população não possua direito o direto de votar. Essa é a questão que Netanyahu com sua cabeça enterrada fundo na areia qual avestruz insiste em eludir: ou bem estado Palestino, ao lado de Israel,  com o moderadíssimo Mahmoud Abbas (e as necessárias garantias de segurança) ou então os ex-palestinos --metade da população com tendência demográfica a virar maioria--  reivindicando  direito de voto para o Knesset do Grande Israel.

Um comentário:

  1. Sirkis,abomino tanto os crimes de tortura vindos da direita quanto da esquerda É necessária uma Cultura de Direitos Humanos

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