Sinais dos tempos: um grupo de colonos israelenses incendeia a casa de uma família palestina numa aldeia próxima ao seu assentamento e queima viva uma criança de colo. Outro fanático religioso esfaqueia diversas pessoas participando da parada gay em Jerusalém. Reflexos de uma direitização galopante engendrada pela era Natanyahu/Bennett. Só vai trazer radicalização e isolamento, nenhuma perspectiva de paz.
Há dias dois jovens israelenses escreveram em O Globo um artigo crítico a Gilberto Gil e Caetano Veloso
terem se apresentado em Tel Aviv e encontrado o ex-presidente Shimon Peres.
Numa sociedade emersa num processo galopante de direitização, particularmente
entre os jovens, Ofer e Jonatan representam um micro minoria de esquerda radical
com uma influência minúscula e --diga-se por uma questão de justiça-- uma considerável
coragem. Como soe acontecer com a ultra esquerda, suas posições se limitam a
“marcar posição” e alvejam não o inimigo –no caso a direita e ultradireita
israelense, no poder -- mas gente do lado de cá, só que mais moderada, como
Caetano e Gil que sempre foram solidários com o povo palestino, contrários à ocupação, a favor da solução de
dois estados mas também amigos de Israel. Peres, por sua vez, tem diversas
responsabilidades históricas e feitos negativos na sua longuíssima trajetória
política mas no contexto assustador do espectro político israelense está decididamente
no campo da paz.
O
discurso de Ofer e Jonathan facilita a mobilização que Netanyahu promove contra as chamadas iniciativas
de boicote e desinvestimento, sem distinção. Sua principal arma é confundir
duas modalidades distintas como se fossem uma única e mesma coisa. Há um
boicote a vínculos, inclusive artísticos e culturais, e produtos da Cisjordânia ocupada. No caso, aplicar-se-ia
fossem os artistas brasileiros se apresentar no assentamento de Ariel ou em na
parte ocupada de Hebron e não em Tel Aviv. O outro tipo de boicote, que tem
como grande vocalizador Omar Barghouti, promove
não o fim da ocupação e o estabelecimento de um estado palestino ao lado de
Israel (com sua capital em Jerusalém leste) mas o fim do Estado de Israel tal
qual criado pela assembleia geral da ONU, sob a presidência do brasileiro
Oswaldo Aranha, em 1948.
Israel, nas suas fronteiras internacionais
reconhecidas, foi inúmeras vezes atacado e qualquer acordo de paz precisa levar
garantias para sua segurança que certamente não será garantida por uma
permanente ocupação e opressão do povo palestino naquilo que hoje representa
apenas 22% da área historicamente disputada e que restaria aos palestinos para
estabelecer seu estado de acordo com um amplo consenso internacional. Só que esse território vem encolhendo
diariamente pela até agora inexorável expansão dos assentamentos e de sua
infraestrutura, restando aos palestinos cidades isoladas entre si da chamada
área A. Há uma convergência entre o idealizado por Barghouti e a ação prática e sistemática da ultradireita
de Neftali Bennet com plena anuência de Bibi Netanyahu. A cada dia que passa torna-se
menos factível um estado palestino.
Daqui a pouco tempo simplesmente não haverá
mais solução de dois estados mas a realidade, trágica, inexorável, de um único, Grande Israel, do Mediterrâneo
ao rio Jordão, em regime de apartheid. Os palestinos –alguns já o
fazem-- passarão a exigir não mais seu
estado mas direitos civis e igualdade cidadã. Quando isso ocorrer o BDS, mesmo
o dos moderados, mudará de foco e, de fato, Caetano e Gil terão eventualmente
que repensar seu show num país onde metade da população não possua direito o
direto de votar. Essa é a questão que Netanyahu com sua cabeça enterrada fundo na
areia qual avestruz insiste em eludir: ou bem estado Palestino, ao lado de
Israel, com o moderadíssimo Mahmoud
Abbas (e as necessárias garantias de segurança) ou então os ex-palestinos --metade
da população com tendência demográfica a virar maioria-- reivindicando
direito de voto para o Knesset do Grande Israel.
Sirkis,abomino tanto os crimes de tortura vindos da direita quanto da esquerda É necessária uma Cultura de Direitos Humanos
ResponderExcluir