Conheci-o em 1968
quando era advogado dos líderes do movimento estudantil. Reencontrei-o, depois da anistia, nos anos
80. Durante sua segunda prefeitura, 1988-92, embora eu fizesse parte da
oposição na Câmara Municipal, trabalhamos
juntos nas questões ambientais e desenvolvemos uma forte amizade, daquelas que
caíram em desuso nas atuais lides políticas dominadas pelo pragmatismo frio,
ególatra e negocista. Marcello possuía
um fino senso de humor, malicioso mas nunca maldoso e frequentemente fazia
piadas divertidas às expensas de si
próprio. Possuía uma memória pródiga de causos do Rio e da política.
Quando aprovei a Lei que criava a Área de Proteção Ambiental (APA) da Prainha,
impedindo a construção de três prédios na ultima praia totalmente preservada do
Rio, Marcello sofreu toda sorte de pressões, inclusive de pessoas muito
próximas, para veta-la. Resistiu e promulgou-a, entusiasticamente. Noutro embate a maioria dos
vereadores decidiu aprovar um substitutivo trocando meu projeto da APA
Marapendi por um de “polo turístico” de prédios de 30 andares na restinga da
lagoa. Marcello se antecipou e aceitou
transformar o texto do meu projeto original em decreto que assinou às margens
da lagoa de Marapendi. Não hesitou um minuto em atender minha reivindicação
para incluir as ciclovias no projeto Rio
Orla. Assim a cidade ganhou suas primeiras em Copacabana, Ipanema, Leblon, São
Conrado, Barra e Recreio, apesar do cacête
diário que ambos apanhavamos do Millor Fernandes, desafeto da ideia, no JB. Das suas grandes realizações, no
entanto, aquelas que Marcello mais prezava, foram as na zona oeste, até então
totalmente esquecida, abandonada por sucessivas administrações.
Ele preparou
a cidade para a Rio 92, um grande momento em que recuperamos de vez nosso
orgulho carioca. O Rio de Janeiro mostrou-se
receptivo, cosmopolita, apto a acolher com brio grandes eventos internacionais
com dezenas de chefes de estado de todo o planeta. Ninguém duvidou do bônus que aquilo trouxe
para a cidade. Deu-se até um a trégua na preocupante crise de segurança que
vinha se avolumando. Predominava o carinho pela nossa cidade e não passou pela
cabeça de nenhuma categoria aproveitar, oportunisticamente, o evento internacional para chantagear com pautas
corporativistas e esculhambar a Cidade, ao vivo e a cores para o resto do
planeta, comportamentos recorrentes nesses
bizarros tempos pós-modernos de “estética”
black block.
Como governador Marcello já não foi tão feliz.
Teve inúmeras dificuldades e uma gestão que não repetiu o sucesso
daquela sua prefeitura. No que pese
algumas divergências continuamos amigos. Há alguns anos ele passou várias
semanas na UTI e, apesar dos prognósticos adversos, sobreviveu e se recuperou parcialmente. Tratou
a provação com humor : ”pois é, fui dar uma olhada lá do outro lado. Lugar
escuro, frio, coisa e tal. Não gostei, resolvi voltar”. Mesmo numa
cadeira de rodas ele mantinha o ânimo, a irônico e aquela intensa
curiosidade pela cidade e pelos causos e
folclores da política. Agora nosso querido Marcellão vai assistir a Copa e as
Olimpíadas desde de algum ponto mais elevado nas arquibancadas celestes, entre
o Corcovado e o Pão de Açucar sob o
aplauso de nós cariocas, agradecidos.
Com Marcello salvando umas árvores ameaçadas no Bairro Peixoto |
Assinando o decreto que criou a APA da lagoa de Marapendi |
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