Acredito que a maioria parlamentar esteja
equivocada. Fique claro: sou favorável ao sistema de quotas na universidade
embora reconheça suas contradições e problemas. Acredito que a população negra
deva dispor de uma ação afirmativa para ascender à universidade e poder com
isso lograr condições mais equilibradas de acesso ao mercado profissional. Penso que essa ação afirmativa deva ser
limitada no tempo, não permanente e que uma forma mais eficaz seria relacionar
a quota ao ensino básico e secundário na escola pública. Afinal, o filho de negros de classe média ou ricos não
precisa de mais proteção do que o filho de brancos pobres do nordeste, por exemplo.
De qualquer maneira se a “ação afirmativa” na
universidade tem como objetivo e justificação dar ao jovem negro condições mais
equilibradas para participar do mercado profissional e se, conforme propugnam
os defensores da nova proposta, há evidência de que o sistema de quotas na universidade
vem sendo um sucesso, qual a coerência em criar novas quotas nos concursos para
o serviço público???
O resultado desse rolo compressor do
“politicamente correto” resulta
paradoxal: imaginem o sentimento de um jovem branco, índio ou asiático, pobre,
que estudou anos para um concurso público e se vê ultrapassado na seleção por
alguém com nota inferior, por causa da “quota” de 20% que essa lei introduz?
Penso que isso leva a dois riscos suplementares: um forte ressentimento de
natureza racial e um comprometimento da qualidade futura do serviço
público. O princípio que rege o serviço
público não é o da “correção política”, seja lá ela qual for, mas a do mérito competitivo a partir de uma
igualdade de oportunidades. Em tese as “quotas” na universidade estão aí justamente para
assegura-la.
Preocupa-me a extrapolação da proposta
original de ação afirmativa e a pressão moral exercida pelo rolo compressor com
essa mensagem quase explícita: se você não apoia essa quota de 20% nos
concursos públicos, você é racista. Como um combatente antiracista de longa
data, neto de uma família exterminada pelo racismo nazi-fascista, não me intimido com esse tipo de pressão e me
posiciono conforme minha consciência, lamentando não ter podido exprimi-lo em
voto para não contrariar a posição oficial da bancada do partido que me
acolheu. Mas minha posição é clara. Dependendo
da dose um bom remédio também pode matar o paciente.
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