04/09/2013

Tangenciando o ridículo


 Se a indignação é fingida, tudo bem. Pode ser uma boa tática para pressionar os americanos. Se é de fato sentida como vejo nas vibrantes e vituperantes palavras de diversos colegas aí tenho um certo receio de que vamos tangenciar o ridículo.

 A espionagem de governos por outros governos é velha como os governos. Sempre existiu, existe e sempre existirá.  A ilustração do que foi publicado com o diagrama das comunicações por celular de Dilma é uma maneira elementar de saber quem é influente no governo e no establishment político brasileiro.

 Num presidencialismo poderoso como o nosso --mais do que o dos EUA--  é pule de dez se deduzir que quem mais fala ou ouve a presidente tem mais influência. Isso os “metadados” revelam. E nada garante que fique nesses “metadados”. É plausível se supor que eventualmente o NSA mergulhe no “copião” das conversas presidenciais, simplesmente porque pode, tem essa capacidade tecnológica e isso não representa nenhuma novidade.

 Se a presidenta não gosta de usar o celular criptografado e usa um igual ao meu, seu, nosso, grampeável a todo momento por esquemas infinitamente mais artesanais que o da fuderosa NSA, penso que trata-se, como dizíamos nos bons e velhos anos de chumbo de um “liberalismo” da companheira.

 Sinceramente, irrita-me muito mais a espionagem econômica a empresas e aquela a particulares, a pessoas sem o menor vínculo sequer suposto com o terrorismo o qual, espero sinceramente, a NSA esteja conseguindo monitorar com mais sucesso que antes do 11 de setembro ou nos anos 90 quando tivemos aqueles dois horríveis atentados em Buenos Aires.

 Do caso Snowden preocupa-me sobretudo a revelação sobre a quantidade de gente que tem acesso potencial para além dos “metadados” e o fato de serem numa grande proporção “terceirizados”. Se Snowden pode ter “traído” por motivos de consciência (ou ressentimento, segundo outra versão) deve haver um número certamente maior capaz de fazê-lo por motivos fisiológicos, comerciais, criminais.  Quantos Snowdens não descobertos podem estar vendendo dados do grampo global do NSA?

 Se não conseguiram prevenir Snowden que se auto-revelou quem garante que conseguem impedir algum que eventualmente esteja vendendo segredos industriais da Embraer para a Bombardier ou segredos de alcova do Cardeal Fulanoli aos seus rivais na cúria romana ou ainda o diagnóstico de câncer de seio de uma atriz famosa para uma revista de sensações.

 Preocupa-me mais o desamparo do cidadão comum de todo planeta do que a NSA (e outros serviços secretos) poderem grampear  nossa presidenta que dispõe ainda que apenas potencialmente de tecnologias de proteção às suas comunicações.

 A única coisa a fazer é impor desgastes políticos ao governo norte-americano, nesse momento delicado, via a mídia internacional e, conjuntamente  com outros países amigos dos EUA como a Alemanha, a França  tentar obter uma regulamentação mínima:  certos limites e critérios para a interceptação de comunicações em países amigos e em situações claramente desvinculadas de quaisquer ameaças terroristas. 

 Da mesma forma com que as escutas de cidadãos norte-americanos obedecem a critérios e carecem de autorização da FISA --um tribunal meio kafquiano cuja função é prevenir abusos da NSA contra cidadãos norte-americanos--  deveria haver uma regulamentação para os países amigos. Realisticamente não acredito isso vá proteger comunicações governamentais -- que tem obrigação de se protegerem a si próprias—mas que poderia prevenir abusos contra cidadãos comuns e empresas.

 No mais há que se assumir que vivemos um reality show planetário ilustrado pela onipresença de câmaras de TV de vigilância  --diante das quais  a solidão no elevador não enseja mais a gente prosaicamente coçar o saco--  ou a auto-exposição ininterrupta e massiva no Facebook. 

A privacidade e a reserva não são mais aquelas. São tempos pra lá de "over" de metabisbilhotice e ultraexibicionismo.

Um comentário:

  1. Sirkis O reality show do mundo contemporâneo é diferente das crônicas d CDA sobre as cartas dos avósHá que separar alhos de bugalhosTenho confundido s,z,i,y,por cansaço mas não sou competente como o Jânio Quadros,como o Gladstone... e o que há de românico na nossa língua é muito próximmo de um possível Dialeto Caipira Mas,divagações à parte,invadir a privacidade de correios,de internet,,,é crime de lesa humanidadeApesar de todos nós sabermos que os crimes de Estado são muito mais brutais Beijo Helenice Maria

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