15/05/2013

Marina e Feliciano: como se constrói uma mentira



  Ontem estive com Marina numa visita ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos –-que assinou o apoio a formação da Rede--  e depois numa palestra que deu na universidade católica de Recife.  Não foi uma palestra particularmente inspirada, ela estava cansada e sofrera um ataque alérgico provoca do por laticínio, em Fortaleza, horas antes. No final, no entanto, ela conseguiu fluir bem e foi muito aplaudida.

 Acabo de me deparar com uma matéria do repórter Fábio Guibu, da Folha,  sobre a palestra que é um primor de má fé. O título é “Marina diz que Feliciano é criticado ‘por ser evangélico’”.  A matéria em nenhum momento afirma que Marina “defendeu Feliciano"  mas contem uma  grande distorção: omite completamente as críticas que Marina fez a ele considerando-o tão errado na presidência da comissão de direitos humanos quanto Blairo Maggi na de meio ambiente do Senado. 

YOUTUBE: VEJA AQUI O QUE ELA REALMENTE DISSE

 A matéria é estruturada de forma a induzir o leitor a supor algum tipo de “defesa” do pastor homófobo por parte dela embora em nenhum momento o diga explicitamente.   Evidentemente, ao passar de uma mídia para outra e ganhar as redes sociais vira isso mesmo: uma suposta defesa do sujeitinho. A versão, como soe acontecer, periga predominar sobre o fato. [Aqui estava me referindo a matéria que saiu na quarta-feria na Folha on line. Na quinta, no jornal impresso a matéria, do mesmo repórter, sai no essencial correta. Não sei se as reclamações surtiram efeito ou eles mesmos corrigiram, espontaneamente.(16/5)]

 Na verdade Marina é apenas uma a mais entre os milhões de evangélicos que se sente envergonhada e desconfortável com o fato do Feliciano ser insistentemente apresentado enquanto tal e  se alguma “defesa” existiu for a dos evangélicos em geral que não devem, na visão dela,  ser “confundidos” com Feliciano e suas ideias/fobias/alucinações. Como se elas fossem um atributo evangélico.

 Entendo o embaraço e a preocupação dela e de outros evangélicos, afinados com os valores cristãos da fraternidade e solidariedade,  e contrários ao preconceito diante do “caso Feliciano”, embora pense que abordar o assunto por esse aspecto não é a melhor linha de intervenção sobre o problema para a ótica laica que Marina busca. 

 O que tem que ser dito no caso é: 1) trata-se de um oportunista que explora sentimentos homófobos e racistas que infelizmente existem na nossa sociedade e estão difundidos entre um variado leque de pessoas religiosas de diferentes crenças e não religiosas igualmente.  Há homófobos e racistas em todas crenças e não-crenças, não não se trata absolutamente um atributo particular aos evangélicos 2) A discussão central não é o que pensa ou deixa de pensar esse deputado mas como pessoas como ele ou como o ruralista Maggi podem, por força de regateios político-parlamentares,  assumir a presidência de comissões que demandam um perfil político e cultural diametralmente oposto ao seu. Um problema institucional do legislativo brasileiro, portanto. 3) Pessoalmente considero que personalizar o foco no Feliciano só o favorece e promove ainda que possa também promover (numa medida bem mais modesta) lideranças “anti-homofóbicas” pela via da "polêmica" que a mídia gosta. 4) Não penso que isso ajude avançar a causa de cidadania dos homossexuais nos seus diversos aspectos.  Vira parte da “política-espetáculo” de quem gosta de ver "o circo pegar fogo" e, também,  como notamos nesse episódio, um mote para patrulhamentos escusos, politicamente motivados. 

O que eu penso

 Dito isso, tenho evidentemente certas divergências com Marina sobre esse tema bem como  os de drogas e aborto. Sou favorável ao casamento de pessoas do mesmo sexo,  ela vai só até a defesa da "união civil", o que já é um passo importante no bom sentido. 

 Sou a favor da legalização do aborto (mesmo sendo contra ele em si)  e da eventual legalização das drogas desde que num contexto internacional.  Ela não. São tópicos para uma discussão na Rede e na sociedade brasileira. Nossa sociedade é conservadora, o importante é um a posição de tolerância e uma disposição de discutir à luz de um princípio fundamental: o do estado laico.

Em 2010, durante a campanha busquei discutir com franqueza essas questões. Vale a pena revisitar:

Youtube: minha visão do casamento gay e do aborto

Youtube: minha visão sobre a questão das drogas

Ano passado voltei ao tema: 
Youtube: discutindo violência e legalização de drogas

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