26/10/2012

Perigo: ônibus aloprados



 A sucessão de acidentes envolvendo ônibus, ontem, no Rio é reveladora. Venho reparando há alguns meses um agravamento das bandalhas praticadas pelos seus motoristas, sobretudo no tocante a atravessar o sinal vermelho. De fato, para eles o semáforo virou um ingrediente decorativo a ser ignorado inclusive de dia nos horários de pico! Há alguns dias O Globo publicou uma reportagem mostrando que as empresas de ônibus asseguravam impunidade aos seus motoristas não cobrando-lhes as multas  e protegendo-os da identificação para não perderem pontos na carteira de habilitação. A razão alegada seria a falta de mão de obra qualificada o que levaria também as empresas a colocar nas ruas motoristas mal preparados e treinados. 

 A manutenção também é um problema sério como vimos com o trágico acidente com o ônibus da 1001, na Rio-Petropolis. Não há fatalidade possível em perder os freios. Só pode haver má manutenção. As empresas de ônibus prestam um mau serviço à população e se colocam a salvo pela sua capacidade de montar lobbies nas Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional, no executivo e no judiciário. É a forma de mensalão mais clássica da política brasileira, praticamente em toda a parte, há muitas décadas e, até hoje, permanece impune da mesma forma com que os motoristas que dirigem temerariamente colocado em risco a vida da população. O vale-tudo no trânsito é significativamente agravado por isso.

Se o problema é falta de motorista, a solução não é complicada: reduzam o número de ônibus nas áreas da cidade onde andam vazios, como na Zona Sul. Poderia facilmente haver uma redução de uns 30% nessa parte da cidade sem prejuízo da qualidade do serviço e com significativa melhoria do trânsito, pelo menos por um certo prazo. Mas as empresas preferem inundar as ruas de veículos vazios, confessadamente, para deixar menos espaço para as vans. Nessa hora não vejo a prefeitura tomar uma posição mais firme.

 A implantação do BRT é um progresso inegável e uma modernização do sistema. Mas será pouco significativa na busca de um serviço de qualidade se as empresas continuarem a desrespeitar as regras mais elementares de segurança,  proteger os bandalheiros e continuarem a deixar os veículos sem uma manutenção apropriada. 

 No que pese um certo esforço recente de mudar a “imagem”, trata-se de um segmento empresarial particularmente atrasado. Há alguns anos atrás estive em Bogotá escrevendo sobre o Transmilênio, o BRT de lá. Encontrei entre os operadores um tipo de mentalidade e de comportamento que deveria ser seguido aqui.  Vale a pena conhecer. Outra cultura. Dá inveja.

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