06/07/2011

A hora do Movimento

É inacreditável mas simplesmente não houve resposta do presidente do PV, José Luiz Penna e de seu grupo do qual faz parte do deputado José Sarney Filho, às condições mínimas para nossa permanência expostas no meu blog de 19/6. Isso confirmou minha impressão de que na verdade essas pessoas desejavam ardentemente a saída de Marina Silva do PV. O prejuízo para o partido é abissal. Claro, para quem raciocina em termos da causa verde, de seu espaço na política institucional brasileira, no seu papel transformador da realidade. Para quem quer dispor apenas de um pardideco para fazer business as usual na política brasileira, inserir-se no processo fisiológico e clientelista que domina e desgraça nossa democracia, tudo bem. Melhor assim, sem Marina e seus 20 milhões de votos.

Estou me afastando politicamente do partido que fundei em janeiro de 1986, no Teatro Clara Nunes, Rio de Janeiro, junto com Fernando Gabeira, Lucélia Santos, John Neschling, Carlos Minc, Hebert Daniel, Guido Gelli e Luis Alberto Py. Apenas Gabeira e eu restávamos. O partido parece ter entrado em decadência sem ter amadurecido. Cumpriu o papel de difundir as idéias verdes que hoje, em boa parte, ao contrário dos anos 80, estão assimiladas por grande parte da sociedade brasileira e das instituições com graus variáveis de sinceridade. Mas, como instrumento de transformação e mudança chegou ao seu limite por que se recusa a crescer para disputar o poder e fazer valer suas idéias. O aspecto central da crise do PV é o pavor que a burocracia partidária nutre em relação a qualquer perspectiva de ampliação democrática do partido. Fizeram do partido um cartório, estão com ele debaixo do braço e assim ficarão. Vão fazê-lo funcionar cada vez mais como uma “legenda” dominada por políticos tradicionais que defendem uma ou outra bandeira verde e burocratas que vem no partido apenas uma fonte de emprego.

Por falta absoluta de opção –os outros partidos todos são piores ainda-- muita gente boa irá ficar, sobretudo quem pensa disputar as eleições municipais de 2012. Nós parlamentares ficamos numa sinuca de bico diante das imposições legais da resolução 22610 do TSE que coloca em risco o mandato que nosso eleitores nos deram em caso de desfiliação. Para não correr o risco e enfrentar o divisionismo de ter que defender o mandato no TSE, estou procurando uma fórmula de licença do partido por tempo indeterminado que expresse meu afastamento político em relação às não-democráticas instâncias partidárias sem comprometer a integridade do meu mandato popular como representante de um segmento da população carioca e fluminense.

Mais importante, no entanto, que a crítica aos descaminhos do PV é buscar novos caminhos que passam pelo movimento que iremos estruturar e que estou conceituando como Movimento dos Verdes e Cidadania o que poderá ou não ser seu nome. Poderíamos criar um partido no imediato, ainda daria tempo e há cerca de 30 parlamentares que gostariam de estar num partido com Marina. Mas fazê-lo agora seria trocar seis por meia dúzia. Nada garante que logo não tivéssemos os mesmos problemas. Por isso é importante começar com um movimento que busque canalizar o potencial que se esboçou na campanha presidencial. Não serão 20 milhões mas serão alguns milhões. Deverão se estruturar numa rede via internet que desenvolva ferramentas participativas, de mobilização e processos de decisão e escolha on line. Queremos tomar partido das novas tecnologias para criar um movimento político capaz de fazer valer a voz e a opinião de muito mais gente do que normalmente se mobiliza nos partidos.

Após as eleições de 2012 chegará a hora da verdade para verificar se o PV, de fato, ainda pode ser utilizado como um instrumento de participação eleitoral-institucional da causa verde ou se já estará tão irremediavelmente deteriorado e descaracterizado que o movimento seja obrigado a produzir seu partido, o partido do movimento dos VERDES.

Nessa fase anterior às eleições de 2012 as relações entre o Movimento e o PV dependerão da qualidade do PV em cada município. Lá onde o PV for fiel às suas origens e estiver de fato disputando as eleições para fazer valer um programa verde e eleger prefeitos e vereadores autenticamente verdes o Movimento irá apoiar seus candidatos. Lá onde for uma mera legenda a serviço de políticos tradicionais querendo fazer carreira sobre uma sigla “simpática”, não obrigado. Ali o Movimento apoiará dos candidatos mais próximos a um programa verde estejam em que outro partido estiverem. Haverá uma relação entre Movimento e PV que só será conflituosa lá onde o partido não honrar suas raízes. Por isso não pretendo mais perder tempo com Penna, Zequinha e a burocracia do cartório verde. Nada como um dia atrás do outro e bola pra frente.

2 comentários:

  1. Òtimo Sirkis, não perca tempo nesse atual partido burocratico.
    Não tenha medo de recomeçar tudo de novo.

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  2. Tomo a liberdade de compartilhar artigo que escrevi em meu blog sobre o " transbordamento verde" http://psaturnino.blogspot.com/

    O artigo do Deputado Federal Alfredo Sirkis na Folha de hoje é um retrato do antagonismo entre a práxis da política partidária brasileira e a democratização da cidadania. O Deputado declara sua solidariedade à Marina da Silva, que optou por se desprender das amarras fisiológicas de um partido que nunca amadureceu - sem trocadilhos com o nome “verde”.
    As práticas antidemocráticas do PV – presidido desde 1999 por José Luiz Penna - levaram Marina a se afastar da sigla, um anos depois de ter angariado 20 milhões de votos nas eleições presidenciais. Marina sabe, todavia, que esses 20 milhões de votos não foram exclusivamente para o partido – pela retórica ambientalista – ou para ela – por conta de uma possível liderança carismática. Foram 20 milhões de votos para a alternativa de uma práxis política desprendida dos entraves e práticas nefastas do “establishment”.
    Nosso voto não foi para a bandeira verde ou para a corajosa mulher que a empunhou com maior legitimidade no cenário nacional. Votamos na proposta de uma mudança de paradigma, ou melhor, no paradigma da mudança, na possibilidade de reformulação da política brasileira com a abertura dos canais do poder à sociedade civil; votamos na possibilidade de vivenciarmos uma nova estrutura de poder, na qual o encontro da sociedade de massas com a sociedade da informação em rede permitiria a experiência mais próxima da democracia direta da era grega. Essa nova estrutura sonhada por esses 20 milhões serviria com força motriz para um projeto de país em direção à sustentabilidade e à cidadania.
    Sirkis afirma: “não desejamos caracterizar nossa ação como mais um “racha” típico de partido...foi mais um transbordamento de uma estrutura apequenada, que não soube nem quis assimilar o potencial extraordinário gerado pelos 20 milhões de votos conquistado”. Resgatando a leitura de Gramsci que escrevi em artigo nesse blog, Marina tem os atributos para desempenhar o papel do intelectual orgânico cibernético, que usa as redes sociais para desobstruir os canais de entrada da sociedade civil na sociedade política. É dessa forma, potencializando a capilaridade e a circulação das redes nos meios de poder que o potencial de fiscalização e de cobrança dos eleitores poderão se tornar imperativos éticos que moralizem a política brasileira. C

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