Wellington Menezes de Oliveira certamente não era um terrorista djihadista e sua chacina obedeceu mais ao padrão norte-americano de Colombine que infelizmente chegou ao Brasil naquele episódio do cinema em São Paulo e, agora, parece aqui aportar, temo, definitivamente. Dito isso, em suas ações e escritos há vestígios que nos remetem ao testamento de Mohamed Atta, chefe dos terroristas do 11 de setembro de 2001 e à violência taliban contra meninas que estudam. Quem leu o texto de Atta, em particular suas recomendações em relação ao manuseio de seu próprio cadáver, encontra chocantes semelhanças com a carta-suicida de Wellington. A mesma obsessão com rituais de pureza. No caso de Atta, uma ilusão alucinada porque ele deveria saber que nada de seu corpo sobraria após explosão daquele jato comercial carregado de combustível contra a torre sul do Word Trade Center. As recomendações post mortem de Wellington são muito similares embora ele as envolvesse com referências cristãs.
Sua preocupação com o “puro” e o “impuro” são, curiosamente, bastante alheias ao paradigma cristão, embora sua referência à castidade e à virgindade não o sejam. No islã fundamentalista é que encontramos esta noção de “impureza”. As mulheres dela constituem foco potencialmente ameaçador. Se o modus operandi de Wellington foi mais Colombine que qualquer outra coisa seu alvo prioritário remete aos taliban. Ele atirou nas jovens adolescentes de 13 anos --idade em que ficam “impuras”-- e quando já estão proibidas de estudar (o que equivale a se prostituir) para os taliban. Fique claro: não penso que ele tomou como alvo aquelas mocinhas por uma influência político-religiosa taliban. É bem mais provável que estivesse se vingando de uma possível inacessibilidade, indiferença ou hostilidade de colegas de sua antiga turma naquele colégio. Mas essa clara opção do gênero na hora de abater em dez dos doze vítimas é reveladora. Quando um taliban movido pela ideologia religiosa mata uma mocinha que quer estudar sua pulsão destrutiva por elas deve ser muito similar à experimentada por Wellington por caminhos que Freud explica.
A loucura de Wellington sofreu influencias de web sites violentos e belicistas, entre os quais, muito provavelmente, alguns da djihad global. Há mais de mil deles e alguns em língua portuguesa que já preocupam as polícias de Portugal e do Brasil. Entre os jovens do mundo islâmico formados naquele contexto cultural e religioso a opção pelo islã djihadista --não necessariamente integrista-- constitui um posicionamento político e espiritual. Fora do mundo islâmico para os jovens desajustados de outras culturas o atrativo desses web sites são mais sua estética violenta e ethos guerreiro, seus discursos de ódio e de purificação pela violência e pelo sangue. Além da djihad na internet há uma infinidade de outros sites nazistas, supermacistas ou de violência gratuita pura e simples, na velha linha retratada na Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick. Não sabemos por onde precisamente navegou aquela mente insana pois ele fez questão de incendiar seu HD. Mas é plausível supor que tenha assimilado fragmentos das obsessões necrófilas de Mohamed Atta ou do nojo homicida dos taliban pelas jovens “impuras” na escola, embora, como referi acima, o mais provável que sua fixação mortal nelas tenha mais a ver com episódios de sua vida escolar pregressa.
Até que ponto Wellington foi produto do bullying escolar? Este sempre existiu. Na minha época eram os “peles” da turma. Me lembro com tristeza da violência física e psicológica com que eram tratados --alguns até por incitação do nosso popular professor de matemática--, da “zoação” e, ocasionalmente, dos socos e "fisgadas". Me lembro com vergonha de algumas vezes que eu possa ter participado, ainda que, mesma nessa época, já sentia que havia algo de errado tratar o “pele” da turma daquela forma. Criancas e adolescentes podem ser cruéis. Teria sido inconcebível imaginar, nos anos 60, um ex-aluno, “pele” da turma, anos depois, entrando na escola para matar. No nosso bravo mundo globalizado a pulsão psicopata navega no espaço pelos sites e pela TV à velocidade da luz. O totalmente inimaginável de ontem torna-se perfeitamente concebível amanhã. Wellington irá emular? Esta é a terrível pergunta que soa no eco dos tiros do taliban de Realengo.
Pouco tempo depois da chacina de realengo, todo mundo entrevistado dizia não saber a causa do ódio do assassino. Desde o primeiro dia, eu já suspeitava do bullying. Depois foi aparecendo a causa aos poucos, misturada com motivos do taliban e terrorista. è preciso acabar com o bullying escolar ou teremos mais chacinas desse tipo. Isso é sério, embora as autoridades não estejam levando em conta. Eu já passei por isso na escola, e se tivesse as informações que tenho hoje, não teria sido diferente.
ResponderExcluirO que costumam chamar de bullying, não passa de implicancia dos colegas sem motivo aparente.
Vejo nas escolas vários avisos sobre e proibindo o bullying, mas não passa disso, e porisso acontece livremente sem punição para os praticantes, o que acarretará em a vítima tentar fazer sua própria punição aos culpados.
Acordem! Antes da próxima chacina, pois isso é fato, acontecerá, se não for proibido o bullying, mas proibido mesmo, de verdade.
Abraços.
Isso só demonstra como as religiões monoteístas exclusivistas fazem mal a sociedade. Estamos vendo membros das bancadas religiosas do Congresso incitarem o ódio e a perseguição dos homosexuais, espíritas (o cristão fiel que quebrou tudo em um centro de umbanda) e não-crentes(não-teístas), com base no seu livrinho mágico, quer dizer, sagrado! O catolicismo já mostrou (pelas Cruzadas e a Inquisição) o que acontece quando religiosos contaminam ou são ouvidos na política.
ResponderExcluirNão existe ligações entre os atos de violência, mas quem os pratica busca justificativas, quem são encontráveis na internet. Wellington não as tinha, por que sua motivação tinha motivações psicopáticas e não uma razão de ser ou fazer. O fato é que o próprio sistema desperta o individualismo - a sensação de solidão, isolamento, competividade e ganância - que encontra eco na hostilidade do coletivo em geral em comparação com as necessidades pessoais. Um sujeito que sofre de distúrbios alimentados pelas distorções dessa sociedade reage também socialmente, hotilizando não a raiz do problema, mas retornando a violência contra - justamente - setores mais fragilizados, vulneráveis. E se não conhece justificativas oficiais, adota a existente, colocada à disposição pela mídia. A "teoria" adotada não é a pessoal, mas a que se apresenta como parte de uma tese aparentemente contrária ao status quo vigente. Infelizmente, esse caso se repetirá.
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