09/12/2010

Cancun + zero




A Conferência COP 16, em Cancun, ao contrário da COP 15 em Copenhagen, em dezembro de 2009, já começou com baixíssimas expectativas e elas vão se confirmando. Os muito otimistas apostam que no final da reunião poderá haver pelo menos um compromisso genérico de que em Durban, África do Sul, dezembro 2011, ou na Rio + 20, em junho de 2012, se chegue a um novo compromisso para o segundo período de vigência do Protocolo de Kioto, no qual tanto os países desenvolvidos quanto os “emergentes” assumam metas de redução de GEE. A China teria manifestado, pela primeira vez, que aceitaria metas “verificáveis”. Isso foi saudado com alvíssaras, mas dentro da forma que a China estabelece suas metas isso se torna um tanto inócuo.

A China se dispõe a reduzir não emissões absolutas em relação a um ano base (2005 para o Brasil, 1990, para a União Européia, por exemplo) mas em intensidade de emissões por ponto percentual do PIB. Isso, simplificado e trocado em miúdos, significa que essas emissões tenderiam a se estabilizar se o crescimento da China ficar em 4% ao ano, mas que caminhamos para a catástrofe se continuar no patamar de 12% como vem ocorrendo. Ou seja, para efeitos do clima temos que apostar numa recessão econômica na China, que certamente afetaria o Brasil...

Já os Estados Unidos são um desastre ainda pior. A modesta meta de redução de 17% sobre as emissões de 2005, oferecida em Copenhagen por Obama, virou pó de mico depois que o Senado norte-americano mandou para as calendas gregas o Climate Bill e, a situação piorou mais ainda com vitória dos republicanos nas recentes eleições para o Congresso. Os EUA nada farão no âmbito nacional --poderá haver iniciativas estaduais e locais-- e a China terá todo conforto para permanecer em sua posição. Ambos, juntos, representam 40% das emissões planetárias e parecem dois lutadores de sumo em clinch.

Nesse contexto, o Japão –signatário do Protocolo de Kioto-- começa a roer a corda e existe o risco da Europa –responsável por 15% das emissões—também começar a buscar formas de escapulir de seus compromissos assumidos em Copenhagen, de reduzir em 20% suas emissões até 2020, tomando como ano base 1990.

Enquanto isso, os fenômenos extremos cada vez mais claramente associados às mudanças climáticas já havidas –pinto, perto do que vem aí— surgem quase todos os dias: enchentes sem precedentes no Paquistão e, essa semana, na Colômbia. Incêndios florestais de dimensões inéditas em Israel, e por aí vai. Há novos e assustadores dados sobre o derretimento da geleiras, mas as avestruzes globais permanecem com suas cabecinhas enterradas na areia e seus grandes traseiros em riste.

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